Capítulo 2.

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"Meu filho, se os maus tentarem seduzí-lo, não ceda!"

Provérbios 1:11


Steve havia se levantado cedo naquela quinta-feira. Depois de um demorado banho, foi para sua caminhada matinal. Após uma breve pausa para respirar e jogar uma água no rosto, tornou à correr, não sem antes reparar em alguns olhares lascivos em sua direção vindos de algumas de suas paroquianas, fazendo-o revirar os olhos discretamente. Ele estava exausto, havia passado as últimas horas estudando e preparando o sermão da missa do próximo domingo.

À procura de um novo livro que lhe distraísse da mesma rotina de sempre, adentrou a pequena biblioteca da cidade. Para sua surpresa, cabelos ruivos agora mais conhecidos lhe chamaram atenção atrás do balcão. Ela ainda não o havia notado, estava concentrada contando algumas notas no caixa. Ao menos, era o que ele pensava.


- Fugindo de alguém, padre? - Natasha perguntou sem olhá-lo, ainda repassando o dinheiro.


- Eu... O quê?


- Trezentos e oitenta, trezentos e noventa, quatrocentos. Pronto. - Sussurrou, fechando a gaveta. - Bem ali, veja. - Finalmente o encarou, apontando para o vidro da janela, onde podia-se enxergar algumas mulheres do outro lado da rua, tentando olhar para dentro do local curiosamente.


- Você é bem observadora, não? Eu pensei que nem havia reparado a minha presença.


Ela apenas sorriu.


- Desde quando trabalha aqui?


- Comecei há quatro dias. Fui ao mercado com a minha tia e ouvi Giuseppe comentando que procurava alguém para cuidar da livraria. Deus há de me perdoar, mas eu não aguentava mais passar vinte e quatro horas perto dela.- Rogers prendeu um sorriso. - Eu sempre fui apaixonada por livros então achei que seria uma boa ideia. Enfim, como posso te ajudar?


- Tem alguma boa indicação?


- Ah padre, eu lhe asseguro que não iria gostar do mesmo tipo de leitura que eu. - Riu. - Mas o que tem em mente?


- A filósofa é você.


Romanoff levou uma mão ao próprio queixo, pensativa. Dedilhou lentamente algumas prateleiras, até parar em um livro amarelo. Assim Falou Zaratustra. - Aqui, acho que vai gostar.


Steve tocou brevemente seus dedos ao pegar a obra, arqueando uma das sobrancelhas. - Nietzsche, sério?


- Confia em mim. - Sorriu travessa.


- Sua tia insistiu para que eu não fizesse isso.


- E prefere acreditar nela ou em mim? - Encarou o mais velho. Olho no olho, verde no azul.


- Isso eu vou ter que descobrir, mas talvez leve algum tempo.


- Quando tiver tomado sua decisão, sabe onde me encontrar. Mas lembre-se que agora tenho meu próprio refúgio e posso sempre lhe salvar das perseguições de mulheres bonitas. - Apontou com a cabeça para o lado de fora.


- Como poderá fazer isso se faz parte deste mesmo grupo?


Natasha arqueou uma das sobrancelhas, sorrindo de lado e balançando a cabeça em negação. - É difícil manter o celibato?


- O quê?


- Desculpe-me a indiscrição, mas sempre tive curiosidade e nunca tive a chance de perguntar - Disse normalmente. - E, se me permite dizer, estou aqui há pouco tempo mas as mulheres dessa cidade não são nada sutis.


Losing My ReligionWhere stories live. Discover now