ORVALHO - GPS

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Existem coisas que nos parecem tão simples na natureza que não paramos para pensar muito sobre. Lembro das manhãs que eu acordava cedo já para brincar no quintal e sentia a grama úmida. Por vezes não dava bola, noutras gostava de roubar uma folhinha para brincar com as gotículas do orvalho. 

Gotinhas de água condensadas que só acontecem numa determinada temperatura com uma determinada umidade. Precisa de tantas condições,  temperatura do ambiente e vapor... E ainda assim, quando vemos nos parece algo tão simples, que nos passa despercebido a importância. 

Mas pessoas Orvalho são assim, as vezes nem as percebemos, porém se prestar atenção, verás a delicadeza da gotinha a refletir. Orvalhos são calmos, tranquilos, delicados, eles repousam sobre nós não como um peso, mas como acalento. 

Orvalhos saciam nossa sede de cuidado tal qual delicadamente hidratam as plantas. Na sua transparência refletem o que nós mesmos temos de melhor. Porque aos orvalhos não os interessa ser o centro das atenções, mas melhorar o mundo a sua volta, porque é o que os faz bem. 

Mal sabem, porém, que ao repousar de pouquinho em pouquinho, gotinha em gotinha, formam espetáculos. Transformam teias, folhas, fios e flores. Cravejam a natureza com belos e sutis diamantes. E sequer percebem. Não notam como fazem tudo melhor e mais bonito.  O quanto ajudam, nos saciam com amor, humor, afeto... 

Orvalho é serenidade por natureza.  Não é comum na turbulência, nascem em noites tranquilas e calmas. Noites estreladas e belas manhãs. Se forma devagar, repousa sem pesar, é beleza em transparência e se esvai sem perceber. Pessoas orvalho são assim, sutis e tranquilas. E são demasiadamente importantes, tal como o orvalho é responsável por manter o solo fértil, as pessoas orvalho são responsáveis por mantermos a fé no mundo. 

Isso porque, ao percebermos pessoas que a tudo de bom oferecem e nada em troca pedem, renovam nossas convicções de que há como melhorar tudo de pouquinho em pouquinho, de gotinha em gotinha os solos tornam-se fecundos, o mundo floresce. 

E você, meu caro Orvalho, tem esse difícil papel, de na sutileza do seu vapor transformado em água recair sobre tudo e todos transformando o mundo para melhor. É um trabalho deveras devagar, mas tu nunca tens pressa, porque sabe bem que é a cada gota que uma plantinha é transformada. Sabes que a pressa é ser tempestade, e tempestade também destrói. E tu conheces tua importancia, sabes que orvalho deixa as plantas sadias e isso reflete em mais oxigênio, sabes que ao condensar e tornar-se gotas, limpas o gás carbônico, sabe que respiramos melhor, não porque em furacão revirou tudo, mas porque o seu afável véu de cristal, enquanto ninguém percebia, fez o ar mais fresco.

E por isso, tu escolhes ser orvalho, ainda que nem sempre ovacionado, por compreender que é na quietude e no sossego que reside a felicidade. Conheces a tua potência sem bruta força. Não serás tu que farás mal, tão pouco sua atitude depende das dos outros. Tu recaíras calmo e tranquilo, e assim fornecerá tua paz. 

Procurei no dicionário sobre Orvalho e encontrei esta definição e que tão bem cabe aqui: " Sensação de alívio da pessoa que desabafou ou de quem se livrou das preocupações que o afligiam: suas palavras foram um orvalho naquela situação tensa." 

Saibas então, meu caro, que és alívio nas minhas situações tensas, que és orvalho nas nossas vidas, que nos oferece paz, tranquilidade e beleza, que nos renova em vida, assim, devagarinho, mansinho, essencial. 

Agradeço muito ter conhecido uma rara pessoa de orvalho, que é silêncio em sossego num mundo de gritos e urgências. Eu certamente sou melhor contigo. E ainda que jamais novamente venha a te ver, as partículas de ti que caíram sobre mim me modificaram para a vida inteira. 


Projeto EvrenWhere stories live. Discover now