Rio. -A.B.S

12 0 0
                                    


Não há nesse mundo nada mais inevitável que as águas de um rio chegarem ao mar.

É quase que uma vontade suicida, alguns diriam. Porque o rio deixa de ser rio, deixa de ser doce, deixa de ser ele mesmo.

A esses eu diria que estão enganados pela própria superficialidade de suas mentes.

O rio sabe que sua essência é água, tanto quanto o mar é. E que todo o resto são detalhes. O rio sabe que no fim, fazer parte de algo maior é mais importante que a si próprio então se sacrifica, ou melhor, por seu objetivo se transforma.

O mais incrível de tudo é que todos os dias, o rio deixa de ser rio, o rio alcança o mar, e ainda sim, tem novas águas e permanece rio. Eis que entende sua função de conduzir, de ser instrumento de renovação.

Porque assim é a água, um ciclo de sacrifícios, transformações e renovações para ser sempre sua versão mais límpida e cristalina. Cria corpo de gelo se necessário, ou despede-se de materialidade ao ser vapor, cai em chuva ou granizo, junta-se aos rios, cai no mar e começa o processo todo de novo.

E não há nada neste mundo mais irrefreável que a água. Não há desfiladeiros que não se tornem cachoeiras, ou pedras que não oferecem mais que mero desvios, sequer se aquecer a mais de 100 graus a água deixa de ser água, apenas converte-se em vapor.

É a maior força da natureza e é indispensável a qualquer tipo de vida.

Assim são as pessoas de água. Compreendem que são condutores, instrumentos para algo muito maior que a si mesmos, e nada nem ninguém é capaz de frear seus objetivos. Utilizam seus obstáculos para criar beleza e utilizam-se a si mesmos para criar vida.

E sequer se dão conta disso! Porque estão sempre correndo, sempre em seu curso, sempre em no seu sentido, pois não há tempo para olhar para traz e ver os espetáculos que criam e as vidas que tocam. Olham e andam sempre em frente, porque sabem que há sempre um bem maior a se fazer. E, ainda, como se fosse pouco o que fazem, emprestam a sua força e carregam todos a sua volta, porque não são egoístas, não há plenitude sozinhos, porque não se faz oceano com uma gota.

Tu és água, és mar, rio e chuva.

E eu te agradeço imensamente por cair na sua correnteza. 

Projeto EvrenWhere stories live. Discover now