Cataratas

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Se enamora por uma cachoeira aquele que nunca esteve diante de uma catarata inteira.

Nada é mais ensurdecedor, nada é mais amedrontador e nada é mais belo, envolvente. É um misto de excitação com receio.

Impossível não estar aos pés dessa força e não sorrir. Também impossível é não se envolver, não sentir. Porque catarata é assim, joga suas águas com a força necessária que te molha - mesmo distante.

É de uma abundância e de um absurdo que te preenche inteiro, que te arrepia até o último fio de cabelo.

Porque se pensar bem, não há como ser diferente. Cataratas são tão potentes que se jogam do abismo sem o menor receio, e do abismo fazem beleza. Sabem que de nada adianta desviar seu curso, que muitas vezes é só enfrentando que a transformação acontece, que não existe caminhos fáceis.

É justamente por entender o difícil necessário que se lançam na fé, e não se enganem pensando que é cega, sabem muito bem o que vão enfrentar. Metros e metros de rocha resistente. 

Mas lançam! Com dor, com amor, com raiva, com explosão.

No instante em que se arremessam compreendem  que beleza está no se sentir livre no ar, em como seu propósito é mergulhar, assim de cabeça. 

Não percebem, porém, sua importância. Como nutrem e hidratam tudo que está sua volta. Não notam quanta energia geram. Lhes passa despercebido que sem a queda de suas águas doces essas não percorrem a Terra, não alimentam a vida.

As vezes sinto pelas Cataratas, pois o ato de se jogar é solitário, ninguém mais conseguiria resistir. Mas ainda assim, mesmo sozinhos, disparam. As vezes sinto pelas Cataratas, porque diante da sua potestade os outros esquecem que água é sentimento. E sentem, cataratas sentem enfurecidamente. Na mesma proporção e cólera que se projetam no despenhadeiro.

As vezes sinto pelas Cataratas, pois muitos se aproveitam do seu curso e seu vigor, porque não param e não dizem não. Em ordem de ter tudo em ordem e por adiante o curso fazem até o trabalho dos outros. Conduzem os barcos, carregam as toras, levam os peixes, geram a luz.

Mas aí, nesse meu sentir, paro e penso que pequenez a minha por lastimar por tamanha exuberância. 

 Ah você, que é de Catarata, como as vezes queria ser como tu. Rara beldade que dentro de si carrega intensidade de fazer a vida acontecer, que no frenesi das tuas águas transforma o mundo.  

Diante de ti somos humildes em reconhecer que somos apenas um grão pequeno nesse plano terreno e tanto temos que aprender. 


Obrigada Cataratas.


- M. O. 

Projeto EvrenWhere stories live. Discover now