"Você não percebe o quanto as palavras podem te rasgar"

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Nosso corpo é um emaranhado de ligações desconexas. O emocional se mistura com o fisiológico, e nem você consegue se entender, as vezes. Se algo te faz ficar triste, todo seu corpo entra em um desanimo total, dificultando ate mesmo o ato de levantar da cama pela manhã. O medo, bom, o medo te faz sentir uma grande bagunça fisiológica . A adrenalina é liberada para o cérebro, todo seu corpo se prepara para fugir, mas algo o impede, então você paralisa. Ou faz como eu, e surta.

- Filha. - Minha mãe segura em meu ombro como se quisesse que eu relaxasse. - Ela está bem. Provavelmente é só o calor, não é Heyoon? - Pergunta direcionando seu olhar para a coreana.

Faço o mesmo buscando uma resposta para aquele questionamento.

Porque sempre que estamos assustados, nada parece ser filtrado de maneira racional? Você pega para si a resposta mais improvável e a classifica como verdade definitiva. E os sinais inexistentes alimentam essa sua paranoia.

-Sim. Senhora Deinert. - Concorda com a cabeça sem desviar o olhar de minha mãe que a encarava mais séria ainda.

- Vou deixar vocês assistirem quietas. - Se distancia do meu corpo e vai em direção a cozinha sem mais nenhuma palavra. Nos deixando, não sem antes me dirigir um leve sorriso.

Ok. Isso foi estranho, certo?

- Você tem certeza que tá tudo bem? - pergunto apenas para confirmar sua resposta e fazer com que meu corpo ignore a possibilidade de ver alguém morrer diante de si.

Não aguentaria mais nenhuma morte.

Ela respira fundo e sorri amplamente para mim. Segurando minha mão, e fazendo um carinho reconfortante com seu polegar.

- Eu estou bem, Sina. De verdade! -Se aproxima mais de meu corpo e encosta sua cabeça em meu ombro, sem desgrudar nossas mãos. - Obrigada por se preocupar comigo. - Sussurra por fim.

Aquele contato repentino, aquele cheiro... Aquela sensação. O que meu corpo identificou como perigo anteriormente foi desclassificado e substituído por algo ainda pior, um sentimento de pertencimento.

Concordo meio desnorteada pelo contato repentino. Logo, Noah se passa na minha cabeça.

Eu poderia convida-lo e assim eles se conheceriam melhor.

Até faria isso, se não fosse por uma sensação estranha dentro da minha barriga e do estresse repentino com aquele pensamento.

Porque eu estou com raiva dele? Nem ao menos brigamos. Eu estou endoidando ainda mais rápido do que estava previsto. Vou terminar esse livro dentro de um hospital psiquiátrico.

Será que ainda existem hospitais psiquiátricos? Será que lá tem aulas? Eu não gostaria de ficar sem as aulas de literatura. São essenciais para mim.

Meus pensamentos são cortados por uma risada ao meu lado.
A coreana ria contida olhando para mim.

- O que foi?

-Você. - Ela ainda me olhava divertida, tentando cessar a risada - No que tanto pensava olhando pro controle remoto? Estava enviando uma mensagem telepática para que ele colocasse no episodio?

Que?

- Não. - A encaro confusa - eu estava pensando se ainda existem hospitais psiquiátricos e se lá eles dão aula de literatura. Não queria ficar sem essa disciplina.

A risada aumenta ainda mais.

- Pode parar de rir? Está me deixando estranha de novo.

Seu riso para instantaneamente com a minha fala.

Um Clichê Chamado Eu e Você - SIYOONWhere stories live. Discover now