"Eu mataria uma pessoa, se ela fosse a causa do seu sofrimento"

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O resto do dia foi realizado de forma automática. Meus lábios ainda sentiam os de Heyoon, e meu peito se culpava por relembrar e gostar daquela sensação.

A mensagem de Noah ao menos havia sido respondida. Eu não podia. Nada podia ser comparado ao que eu havia feito ao meu melhor amigo. O quebrei, sem nem que ele saiba, ainda.

No laboratório de biologia, pude refletir sobre tudo o que havia acontecido. Como Noah não quis ir para a escola, passei o resto da ultima aula, sem ninguém me acompanhando. Não entendia como me sentia. Tudo na minha mente estava tão bagunçado. Minha visão foi ficando turva aos poucos, e eu não queria que acontecesse naquele momento. Minha ansiedade parece ter achado uma leve brecha para me afligir. Meu peito dói. Eu só quero chorar, tentando me livrar desse medo e confusão enraizados em meu frágil corpo.

Você traiu seu melhor amigo.

O único que te faz companhia nos bons e mals momentos.

O que nunca te abandonou.

O que nunca se foi.

Os livros e o bom senso nunca descreveram fielmente como ser um traidor pode destruir você. As pessoas nunca entendem como é doloroso ser você mesmo. Estar dentro de seu corpo, ouvir seus próprios pensamentos. Que apenas lhe desesperavam ainda mais.

Da aula, nada foi assimilado. No fundo do emaranhando de considerações que meu cérebro fazia automaticamente, consigo ouvir o sinal soando do lado de fora. Todas as pessoas se levantam de suas carteiras e saem sem ao menos me olhar. Será que eles não viam que eu estava pedindo ajuda? Será que eles não viam que eu estou definhando dentro de mim mesma?

Era impossível me mover, impossível pensar racionalmente, o ar ao menos fazia questão de se fixar em meus pulmões. Aquela dor que ficava bem guardada dentro do peito, aumentava gradativamente. Mas o suficiente para me fazer sufocar dentro de uma sala minúscula. Puxava o ar, e nada. A sala se encontrava vazia. Eu tinha a plena certeza que eu iria morrer, e ninguém perceberia. Eu sou tão insignificante assim?

Porque eu fiz isso? 

Porque tive que ceder ao instinto? 

Porque não podia simplesmente dizer a Noah que ele mesmo tentasse conquistar aquela maldita coreana?

O amor é descrito como libertador. Quente, livre de duvidas e que te acalma. Meus ossos pareciam ter sido congelados por uma década inteira.  Não me sentia eu mesma, eu não queria ser eu mesma. Naquele momento, não sabia ao menos se ainda era eu mesma.

Não sei quanto tempo demorou, mas ainda estava sentada na mesma mesa e na mesma posição. 

A ansiedade é como um medo que se esconde tão bem, dentro de uma casa sem moradores, quase um fantasma. Eu não queria viver em mim. A única sensação sentida por mim, é a de uma misera lágrima caindo. A sensação de falta de ar  piorava e o choro agora jorrava de forma  gratuita e ilimitada. Eu queria morrer lá.

Me leve para casa, pai.

Eu não queria chorar, mas naquele momento, não parecia ter muitas escolhas... Ou controle.

Me debruçava sobre a carteira, precisava sentir mais do que minhas lagrimas e problemas cardíacos involuntários.

Me leve, por favor. Não quero me sentir assim. Nunca mais

Preciso do seu rosto, pai. Preciso de você. Volte e me leve para seus braços, me leve para casa.

O choro não sessava. Queria meu pai ali, queria que tudo fosse diferente. Os porquês já não faziam sentido. Só me tire daqui e me faça entender que o amor não é isso.

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⏰ Last updated: Feb 19, 2022 ⏰

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Um Clichê Chamado Eu e Você - SIYOONWhere stories live. Discover now