Pesadelos para sonhar e sonhos para realizar

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"A brisa vinda do mar perambulava por todo quarto tornando o ambiente fresco e agradável como num sonho, aos assovios o vento invadia escancarando as janelas antigas e girando as cortinas de voil. O cheiro da areia molhada pela chuva da noite anterior o entorpecia se mesclando com o calor ofertado pela pele delicada e a visão dos cabelos castanhos que pareciam vermelhos sob os feixes de luz solar.

Vincenzo beijou a carne macia de um seio que escapava por entre os lençóis provocando cócegas no corpo sensível apenas para ter os ouvidos agraciados com o som das gargalhadas tilintantes como sinos.

Os poros de Cha young pareciam produzir luz própria, como se abaixo de sua pele um milhão de estrelas caminhassem. Ela brilhava da cabeça aos pés.
Enterrou o rosto entre os seios pequenos e percorreu o caminho do vale perfumado até o pescoço esguio provocando-a com seu nariz pontudo, espalhou beijos pela tez aveludada, sua boca movia-se suave como o pousar de uma borboleta.
Ao encaixar a cabeça entre o pequeno rosto e o travesseiro marcou com um último estalar de lábios a bochecha rosada e em um sussurro confessou em seu ouvido:

- Eu te amo!

Logo em seguida suspirou profundamente aliviado deixando ir toneladas de tensão acumuladas ao longo de anos, seus músculos relaxaram e o corpo grudou no dela se moldando ao desenho das curvas femininas.
O sorriso que havia em seu rosto quando ergueu as orbes escuras ao encontro dela devia ser o mais genuíno dos últimos 30 anos, era nisso que o italiano apostava.
No entanto no lugar de surpresa ou felicidade apenas encontrou a face de Cha young paralisada.

Os brilhantes olhos castanho avermelhados fitavam o teto de madeira sem emoção, os lábios sempre sorridentes estendiam-se rígidos em uma linha firme.
A expressão inédita era algo que flutuava entre apatia e indiferença.
Vincenzo sentiu seu corpo voltar ao estado de tensão natural, o coração acelerou bombeando sangue como quem se prepara para lutar ou correr.

- Cha young?

A voz rouca e baixa de apreensão pareceu chamar a atenção da jovem que olhou em sua direção, mas a impressão que tinha era que aquele olhar o atravessava, como se ela estivesse observando algo além.

- Cha young? Você está bem?

Em um milésimo de segundo seu raciocínio tornou-se uma bagunça enquanto assistia horrorizado os traços que compunham a face de Cha young serem dissolvidos como cera exposta ao calor do fogo.

A boca que horas atrás estava grudada na sua agora contorcia-se em um ângulo aterrorizante escorrendo pela linha do queixo, o nariz adorável derreteu frente a Vincenzo deixando para trás apenas um amontoado de pele disforme.
O par de olhos asiáticos moviam-se rápidos e assustados no rosto incompleto. Desesperado, Vincenzo tomou o rosto deformado em  suas mãos, a respiração entrecortada deixando seus pulmões aos solavancos.
No que costumava ser um lindo rosto, orbes solitárias arregalavam-se em agonia, lágrimas acumulavam sem ser derramadas e formavam pequenos lagos cristalinos cada vez mais profundos.
O coração do Cassano martelava contra a caixa torácica como se a qualquer segundo fosse arrebentar seus ossos, carne e músculos.
Parecia estar alucinando mas não tinha certeza, o desespero o deixava tonto e não conseguia pensar direito.
Precisava recobrar os sentidos, a náusea lhe dava ânsia e estava prestes a vomitar.
Foi quando os olhos que jaziam solitários no rosto derretido pareceram finalmente o enxergar.

Os olhos castanho avermelhados dela colidiram com os seus cor de noite.

Os dele assustados, os dela perturbados.

Pouco a pouco as lágrimas não derramadas transformaram os preciosos olhos tão expressivos em um borrão ininteligível perdidos em meio a poças de água salgada. Um último olhar dirigido ao moreno estava repleto de dor e raiva, como se ela o culpasse pelo que acontecia.

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⏰ Última atualização: Nov 02, 2021 ⏰

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