Capítulo LIV - Trégua

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Após me despedir do meu amigo, desfaço o coque em meu cabelo e o divido duas partes, preparando-me para minha tarefa árdua.

Não, não é um exagero. A recuperação dos golpes que levei foi um processo lento, embora eu saiba que poderia ter sido pior.

Meus braços estavam fracos, minhas costelas doíam, inalar o ar com um pouco mais de força causava desconforto e levar as mãos a cabeça estava completamente fora de cogitação.

Logicamente, algumas fisgadas ainda castigam minhas costelas quando tenho os braços erguidos, no entanto, não é isso que torna minha tarefa difícil, mas o fato de um cabelo cacheado que está a tanto tempo sem pentear fazer jus a observação do Colin, está verdadeiramente um ninho.

— Não está tão ruim. — Sou interrompida por uma voz grave e familiar, vinda por minhas costas.

— Rafi!?

Viro-me abruptamente e o encontro me observando com expressão relaxada, enquanto descansa suas mãos no bolso, apoiado em uma das paredes do quarto.

— O que disse? — Questiono cética.

Não entendo o porquê do que diz e logo me recordo das brincadeiras do Colin. Estremeço imaginando que possa ter nos ouvido, mas, estranhamente, ele não demonstra irritação ou sabe disfarçar muito bem.

— Um estilo mais bagunçado te cai bem. Te dar um ar indomável.

Faço uma careta, enquanto tento, constrangida, conter meu cabelo desgrenhado.

— Há quanto tempo está aí? — Pergunto dando-lhe as costas novamente para fugir de seus olhos.

Com a raiva que sinto, gostaria que meu incômodo em ser vista assim por ele fosse puramente vaidade, mas não estou certa disso.

— Suficiente para perceber que precisa de ajuda nisso.

Não consigo me conter e o espio de soslaio, sem poder entender suas intenções.

— Posso? — Pergunta tocando minha mão que segura uma escova de cabelo, ao sentar às minhas costas na cama.

Como esse pode ser o mesmo Rafi de ontem a noite? Por que está aqui? Se há mais um plano maquiavélico por trás disso é impossível desvendar com sua tão boa atuação.

Estou tão atordoada que cedo. Eu mal percebo que estou encarando seu rosto por tempo demais, até seus lábios se contraírem em um sorriso de canto.

Volto-me para frente e fitando o céu limpo através da janela, tento manter com esforço minha respiração normalizada.

Sinto suas mãos tomarem as duas metades de meu cabelo cuidadosamente colocar uma para frente sobre meu ombro direito, tocando minha pele desnuda durante o percurso, o que descompensa todo meu trabalho em liberar o ar de meus pulmões e me arrepia.

— Com frio? — Questiona percebendo meu tremor.

— Um pouco. — Minto.

Cruzo meus braços para disfarçar e conter que um segundo arrepio me percorra, com seu hálito que roça minha nuca.

— Hum.

Não contente, põe sua mão abaixo de meu queixo  para verificar minha temperatura.

Não é seu dorso que toca meu pescoço. Pelo contrário, seus dedos escorregam de forma que minha pele parece suave como uma seda e sua palma quente a envolve de forma possessiva, me levando a pensamentos impuros, carregado de uma luxúria violenta.

Que horror!

Ele é como a personificação do pecado e meu corpo queima como o fogo do inferno.

Desejo PerigosoWhere stories live. Discover now