Capítulo XXVIII - Fotografia

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Encaro seu rosto de traços duros, porém perfeitos que se mantêm inexpressivos, emanando uma ira silenciosa e ameaçadora.

Engulo seco enquanto permaneço presa em seu olhar que se torna escuro por entre cílios espessos, e amaldiçoou-me mentalmente por, apesar de intimidada, sentir-me atraída por esse homem insensível e frio. No entanto, é tão ardente que apenas está sob seus olhos que deslizam de meu rosto para toda minha extensão de pele não coberta pelo roupão, me aquece por inteira. Sua pele, sua boca, seu perfume... Tudo parece me inebriar e afetar meus sentidos.

Percebo que encará-lo por muito tempo é perigoso para meu alto controle, e me afasto até sentir o parapeito que alcança metade de minhas costas, me ajudando a organizar minha mente.

— O que está falando? — Mesmo sem obter sua resposta, já estou com medo e tremendo. Logo me recordo de meus amigos, e começo a temer que ele os associe a mais alguma atividade criminosa na qual me julgue estar inserida.

Talvez por notar meu tremor repentino, ele suavemente afaga meus braços por cima do tecido macio e mesmo sem entender porque o faz, consto como seu gesto gentil é reconfortante. Outra vez, meu corpo não consegue ignorar seu toque delicado e quente, e sem que eu perceba, tenho meus olhos fechados enquanto desfruto do calor de suas mãos, até que em minha garganta se faz um gemido baixo e inesperado.

Mas, que merda!

Pigarreio tentando disfarçar, e abro os olhos para conferir se meu deslize foi audível, no entanto, me deparo com sua boca que se curva em um sorriso leve.

— Nem eu próprio sei. — Confessa encerrando seu contato e retomando sua postura esquiva, dando espaço para que o medo gelado retorne.

Ainda assim, não vejo o olhar acusador tão presente desde que cheguei aqui, muito menos raiva, ou decepção como das outras vezes, no momento, eu apenas enxergo uma sensibilidade inexplicável.

— Não consigo entender... Mas, também não consigo suportar que se aproveitem de sua vulnerabilidade. — Sinto sua confusão interior, e a raiva suprimida em sua voz. — Sua ingenuidade é o que há de mais puro em você, Anália. Vejo a inocência em seus olhos e não posso aceitar que corrompam isso. Nem mesmo eu. Por que permite tal coisa?

Olho-lhe incrédula sem encontrar sentindo para suas palavras, ainda que elas se apliquem completamente a mim. São tantas situações que me senti sugada por pessoas que apenas tiravam o melhor de mim, que é difícil decifrar de quem se trata. O que ele sabe?

— Nem sempre... — Digo com dificuldade. Embora de forma sútil, sinto que lentamente estamos adentrando um terreno hostil e sombrio que apenas eu tinha acesso. — Nem sempre eu tive escolha.

Apesar de vaga, minha resposta parece fazer muito sentido para ele.

— Não mais.

— O que quer dizer? — Estudo sua convicção, que continua não fazendo sentido para mim.

Sem nenhum aviso, ele me dá as costas me deixando sozinha e sem respostas.

— Rafi, de quem está falando? — Chamo-lhe nervosa com suas acusações e falta de tato. Não posso deixar que encerre dessa forma essa conversa cheia de pontas soltas ou que algum inocente seja injustiçado, assim como eu.

Seus ombros tremem levemente, temo que insistir nisso consuma a nítida pouca paciência que ainda o resta, mas não cedo e o sigo.

— Rafi! Estou falando com você! Você me deve explicações! — Grito sentindo minhas mãos suarem ao passo que a adrenalina se dissipa.

Com que autoridade eu exijo algo de alguém que é quase o dobro de mim, e que poderia me matar em segundos? Não sei, mas eu fiz.

Curiosamente, ele me atende virando-se pacificamente. — Eu sei. — Diz vindo até mim que permaneço estatística no corredor que leva ao quarto, me estendendo a mão. — Venha.

Desejo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora