Capítulo XXXVIII

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"O vento sorrateiro traspassa pela relva verde,

Seu zunido anunciando de um tempo de mudança

Um aviso em tom de sussurro da tempestade que se aproximava.

Lenta, mas impetuosa, violenta e assustadora.

Mas apesar de tudo, necessária.

Nada será como antes

Mas a vida ali logo se renovará,

Mais resistente, mais intensa e exuberantemente bela.

A natureza sobreviverá,

Apenas o que é forte se manterá intacto"

Safira fechou o livro com força, tentava ler para distrair um pouco a cabeça, mas em cada linha seu cérebro encontrava uma mensagem, uma ligação inexistente do mundo fictício com o real fazendo com que voltasse a pensar nas coisas que desejava ignorar.

Seu pensamento vagou e vagou até chegar a um diálogo que tivera com Charles na primeira noite em que se encontraram no jardim.

"— Fugir – Safira deixou a palavra pairando no ar – Bem, isso é o tipo de coisas que pessoas ousadas fariam... E eu, não sou nem um pouco como gostaria de ser.

— Está errada - rebateu ele - Pessoas covardes fogem por medo, já pessoas corajosas permanecem e enfrentam o que quer que tenha que ser derrotado."

Safira encarou as mãos que apertavam a capa do livro de uma forma tão tensa que dificultava a circulação sanguínea, começou a sentir um leve formigamento em seus dedos. Depositou o livro sobre a mesa. Não poderia adiar nem um segundo a mais sua conversa com Charles, precisava deixar sua covardia de lado, fazer o que era certo, olhar em seus olhos e dizer que não podiam se casar.

Céus, seu coração sangrava só de pensar em dizer tais palavras, mas precisava fazer o que era certo. E naquele momento nada parecia mais preciso do que garantir o mínimo de dignidade ao sobrinho que em breve ela teria em seus braços, nem que para isso precisasse fazer tamanho sacrifício... parecia uma atitude sensata para ser tomada em um momento tão delicado.

Seguiu lentamente até os aposentos de Charles, cada passo era como se quisesse adiar ainda mais aquele momento, como se entre o intervalo de tempo em que um pé e o outro levava para tocar o chão fosse suficiente para que surgisse alguma intervenção divina e resolvesse o dilema que tinha em mãos. Mas nada aconteceu e agora ela se via paralisada diante da imponente porta de madeira dos aposentos dele.

Antes que pudesse bater, ouviu a maçaneta sendo girada. Charles apareceu em sua frente absurdamente belo e arrumado, usava uma camisa de seda branca e um colete azul marinho por cima. As mangas da camisa estavam dobradas até a altura de seu cotovelo, chamando atenção para seus braços fortes com veias grossas saltando sobre a pele. O colarinho da camisa estava dobrado e abaixo dele haviam três botões... três malditos botões que pareciam nunca conseguir se fechar em nenhuma camisa que ele vestisse, permitindo o vislumbre do início de seu peitoral. Safira conseguiu contemplar todos aqueles detalhes apenas no meio segundo em que ficaram em silêncio. Pelo olhar surpreso com que era observada, compreendeu que ele também estava indo ao seu encontro.

Charles a fitou rapidamente, Safira usava um vestido marrom simples e enfeitando seu pescoço havia um singelo e angelical colar de ouro com uma pequena e delicada pedra de jade verde no centro. Apesar de Safira julgar ter perdido todo o esplendor da noite anterior, percebeu que o olhar deslumbrado de Charles permaneceu exatamente o mesmo.

- Safira – a menção de seu nome por aquela voz imponente fez com que seu corpo inteiro se arrepiasse – Eu estava mesmo indo procurar por você – Ele deu um sorriso, mas não era como os outros, parecia um sorriso que se esforçava em mascarar o quanto desencorajado estava naquele momento.

Um Homem Incompleto - Irmãs Cadwell Livro 1Where stories live. Discover now