Enfrentando uma fera chamada minha esposa

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Poseidon

Ah, Anfitrite está plantada em frente ao Palácio. Com certeza Hera deve tê-la avisado. Pelas barbas de Cronos! Como minha irmãzinha consegue ser irritante.
Mas agora Hera é o menor dos meus problemas. É bem óbvio que minha esposa está furiosa. Finjo que não a vi? Ou encaro a fera de uma vez? Vou pela segunda opção, que Zeus me proteja( o que provavelmente não vai rolar)!
Assim que me vê, ela se posiciona em frente aos portões, impedindo minha passagem. Pelo visto não vai ser fácil escapar dessa.
"Com licença, Anfitrite."
"Onde você estava?"
"Na Terra, agora me deixe passar."
"Deixe de ser estúpido Poseidon! Em que lugar da Terra você estava?"
"Isso por acaso te interessa?"
"Pelo amor de Hera que pergunta idiota! É claro que me interessa! Sou Anfitrite, rainha dos mares e sua ESPOSA. Durante as suas escapadinhas eu que mantive tudo isso aqui funcionando! Agora me faça o favor de dizer aonde você estava!"
"Em Montauk! Pronto, já disse, agora, ME DEIXE PASSAR!" 
Vejo os peixes se escondendo enquanto um redemoinho se forma em volta da minha mão. 
"Caramba, eu não tenho o direito de reclamar?"
"ANFITRITE SAIA JÁ DA MINHA FRENTE!"
"NÃO! Eu não mereço explicações plausíveis? Eu nunca me importei com esses seus casos mundo afora, o Olimpo todo sabe disso. Mas você cogitou me trocar por uma mortal, uma mortal!"
Vejo que essa conversa vai ser mais longa do que eu gostaria.
"Você não sabe do que está falando."
"Sei muito bem! Você não é o único que observa as coisas lá em cima. Vi como você a tratava, seu carinho e cuidado. Você era diferente. Poseidon, o que mais me dói é o fato de eu também ter sido amada um dia. Não algo tão intenso quanto eu gostaria, mas pelo menos tinha respeito e admiração. Agora, sou só a esposa furiosa com quem você não se importa."
"Querida…"
"Você obrigou uma rainha a sacrificar sua filha ao monstro Ceto porque ela disse que a moça era mais bonita que eu e minhas irmãs! E agora você quer me chutar e por Sally Jackson no meu lugar como rainha! Argh. Pelo menos me diga que não há nenhum bastardo."
"Então…"
"Pelos deuses, é claro! Eu mereço. Qual a idade dele?"
"Isso não te interessa."
"Me diga a idade dele, Poseidon"
"Sete meses."
"Deuses, é um bebê! Agora entendo o motivo da sua demora. Ainda bem que não foi um idiota como Zeus que fabrica e não mantém, pelo menospor um tempo." Um raio arrebentou as ondas acima de nós. "Você voltou por vontade própria?"
"Não. Zeus ameaçou os dois."
"Por Nereu, no que você se meteu! Ahh, Se não puder ser um pai presente pelo menos permita que ele tenha uma boa vida."
"Ele é um semideus. Ter uma vida é algo impossível."
Ela suspira, e toca em meu ombro.
"Eu estou irritada, obviamente. Mas nós dois sabemos que o bebe não tem culpa. Pode me dizer pelo menos o nome dele?"
"É Percy. Perseus na verdade. Sally lhe deu esse nome pois Perseu foi o único herói com um final feliz. Eu sinto muito por ele ter nascido. Eu o amo, mas ele não merece seu próprio destino." Me afasto lentamente. "Posso ficar sozinho?"
Anfitrite entende o recado e se afasta dos portões. Quando os empurro, posso ouvi-la sussurrar:
"Você não vai se livrar de mim tão facilmente, marido. Espero que entenda que sua família também gostaria de um pingo de atenção."

Entro na sala do trono. Ela se encontra vazia, do jeito como eu a deixei. A não ser pelo meu filho Tritão, sentado em meu trono. Já estava mal, agora sinto meu sangue começar a ferver. 
"Olá pai, quanto tempo. A que devo sua ilustre visita em casa?"
"Olá Tritão. Voltei para cá a fim de ficar. Agora me dê licença e saia já do meu trono!"
"O que foi? A garota o entediou rapidamente?"
Agora o sangue não só ferve, mas minha cabeça está prestes a explodir.
"Não fale o que não sabe criança. Você não tem seus afazeres a cumprir no comando de sua parte do reino? Por que não vai fazê-los em vez de ficar me infernizando?"
"Sempre sendo babaca paizinho. 4 mil anos e sua cabeça dura não mudou nadinha! É claro que eu tenho afazeres a cumprir! E muito importantes inclusive! Mas tive que largar tudo pra ajudar mamãe a manter seu império de pé enquanto se divertia com garotas e sustentava bastardos! Quer saber? Não me importa o que o senhor fez lá em cima, só nos deixe trabalhar aqui, tá legal?"
A dois anos atrás se Tritão me tratasse dessa maneira eu o teria fritado em um instante. Na verdade, eu praticamente o fritei. Mas respirei fundo, e fiz isso de novo, de novo e de novo, assim como Sally havia me ensinado. Tanto é que nem prestei muita atenção nos seus resmungos.
"Tudo bem. Vou me retirar para os meus aposentos e descansar um pouco. Por favor, anuncie minha chegada apenas pela manhã. Sei que tornei as coisas difíceis para todos nós. Minhas desculpas são desnecessárias e insignificantes, então não vou me dar ao trabalho de exagerar nelas. Então, vou simplesmente dizer: me desculpe. Agora, se me der licença."
"Mas.."
Tritão está de queixo caído. Acho que nós dois sabíamos que normalmente eu teria fritado seus miolos. Mas no fundo, não o culpo por seu remorso. Desde sua infância ele sempre soube que o casamento entre mim e Anfitrite é só de aparências, e ele odeia que ela não seja prioridade na minha vida, e consequentemente ele também não. Creio que eles queriam ter o que Sally e Percy tiveram. Minha total atenção.
Além do meu filho, eu também estou surpreso comigo. Sempre fui muito impulsivo e irritadiço, e Sally me conheceu tanto assim quanto do jeito calmo e sereno. Lembro do dia que saí no soco com um bêbado num restaurante, no nosso primeiro encontro.

In the arms of the SeaWhere stories live. Discover now