Um presente de natal inesperado

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Sally

Bom, já passou um tempo desde o natal. Me diverti bastante até, junto com Percy. Dá pra acreditar que ele faz dois anos no ano que vem? Deuses, como o tempo passa. Infelizmente, o dono do condomínio não possui espírito natalino. Nos mudamos do prédio do lado para esse por causa de alguns problemas no apartamento (vazamentos de esgoto e grifos na lixeira comunitária). A sra. Faust, a síndica, não é das melhores. Apesar das minhas reclamações frequentes, ela nunca se importou. O aluguel era barato, então eu consegui pagar os meses de aluguel com o que sobrou para mim da herança do meu tio. Até que me cansei e me mudei para o outro prédio. O aluguel é mais caro, mas nunca tive problemas com nada, ou melhor, quase nada. Os grifos na lixeira continuam nos perseguindo. 

Enfim, comecei a tagarelar e saí completamente do rumo da conversa. Por causa do feriado, não consigo achar emprego em lugar nenhum! É desesperador. Sem emprego, eu não consigo pagar o aluguel desse apartamento em dia, por ser mais caro. O sr. McMillan odeia aluguel atrasado, não importa se seja um dia ou um mês. Quantas vezes eu usei essa palavra hoje? Não importa. Continuando. Na manhã da véspera de natal, acordei com alguém batendo insistentemente na minha porta.  Falando no diabo, não era ninguém mais ninguém menos que o síndico estressadinho e maníaco.

— Oh, Sr. McMillan, que surpresa!

— Srta. Jackson. Desculpe-me por te incomodar tão cedo. Mas a srta não pagou o aluguel do mês. Infelizmente, por conta do atraso, terei que multá-la. 

— Mas está atrasado há apenas uma semana! E não consegui pagar pois estou desempregada.

— Eu, ugh, sei disso srta. Jackson. Mas eu realmente preciso cobrar o aluguel. Na primeira semana de atraso, eu envio uma multa de U$ 50,00. Na segunda semana, uma multa de U$ 100,00 e na terceira semana é despejo. 

— Sr. McMillan, queira perdoar-me pela suposição, mas isso é loucura! O sr. deveria ter me enviado pelo menos uma notificação. Na casa que morei em  Montauk, o síndico me disse que é possível despejar o inquilino só após três meses de atraso. 

 — Srta. Jackson, lembre que você não mora mais em Mountauk e eu não sou seu antigo síndico! Meu prédio, minhas regras!

— Se antes eu achava estupidez, agora eu tenho certeza!

— Cansei de ser educado Sally! Você me pague esse aluguel HOJE, caso contrário, pode fazer suas malas! Não quero vadias caloteiras morando no meu prédio.

Eu ia protestar, mas naquele exato momento, vi um olhar conhecido atrás do síndico. Pensei que estava louca. Não podia ser. Aquele olhar me fazia arrepiar até os ossos, mas não de um jeito bom.

— Sr. McMillan, certo?

Ao ouvir aquela voz grave, o síndico se virou para trás num pulo, e deu de cara com um sujeito alto, barbudo, usando terno azul risco de giz. Eu não fazia ideia do que ele fazia em frente o meu apartamento, mas com certeza não era boa coisa.

 Eu não fazia ideia do que ele fazia em frente o meu apartamento, mas com certeza não era boa coisa

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— Oh, sr. Grace! Que bela surpresa! O que faz aqui?

— Vim visitar meus filhos hoje, já que não poderei vir no dia de natal. Compromissos, conflitos de agenda. Entende?

— Oh sim sim claro.

— Na portaria disseram que o elevador estava fora de serviço, então teria que usar a escada. A mãe deles mora no andar acima deste. Não pude deixar de ouvir a gritaria.

— Ah, não há nada de mais, não se preocupe!

— Com certeza algo não está certo. Sally querida, o que houve?

Antes que eu pudesse responder, o sr. McMillan me olhou confuso. E me questionou gaguejando.

— Vovovovovocês se conhecem?

— Claro! Sally é mãe do meu sobrinho! Falando nisso, como vai Percy?

— Vai muito bem.

— Eles crescem rápido, não é? Agora, sem interrupções, conte-me o que aconteceu?

— Bem, o sr. McMillan me acordou essa manhã para cobrar o aluguel. Por causa do feriado, ele atrasou uma semana, pois estou desempregada. Sem nenhuma notificação prévia, recebi uma multa de U$ 50,00. Como achei isso um absurdo e o questionei, o sr. me ameaçou dizendo que se o aluguel não fosse pago hoje, eu seria despejada.

—Mas que absurdo! Mas por acaso você tem algum dinheiro, não tem?

Fiquei em silêncio

— Sally, fale alguma coisa.

— Tenho uma pequena quantia. Fui juntando o ano todo para comprar um berço novo para Percy. Só U$650.

— Excelente! Perdoe-me a interrupção sr. Grace. Esse é o valor exato de metade do aluguel, com a multa inclusa.

— McMillan! Ela guardou esse dinheiro para o garoto, deixe de ser estúpido. Espere um pouco. Sally, o que é aquilo ali atrás?

Ele fez sinal para que eu olhasse atrás da porta, onde eu pendurava minha bolsa. Olhei dentro dela e encontrei um envelope lacrado com cera, com um raio impresso. Naquele momento soube que, por incrível que pareça, ele estava me ajudando.

—É um envelope que recebi da família do pai de Percy ontem. Ainda não abri.

— Pois então abra! Vai que dá a sorte.

Abri o envelope. Dentro dele, haviam cerca de U$ 2000. quase o derrubei no chão. 

—É uma quantia grande de dinheiro! 

— Deuses! Pelo menos tem algum bilhete? 

Como ele era um excelente ator.

—Sim, deixe eu ver. Diz o seguinte: " pra que vocês tenham um bom natal, com carinho, Z." Sr. McMillan, acho que vou poder te pagar a vista hoje.

— Ótimo! Já perdi muito do meu tempo com você. Passa a grana pra cá!

Tirei U$1300 dólares do envelope e os entreguei a ele.

— Excelente! tenham um feliz natal!

—Espere um pouco, sr. — bradou o tio do meu filho. — Achei sua atitude extremamente errada hoje. E pelo que pude notar, não é a primeira vez. Já ouvi algumas coisas sobre você dos vizinhos. Sally, aconselho você a deixar essa espelunca assim que possível. Vou falar om Beryl hoje mesmo, e a direi para fazer o mesmo.

— Não se meta nos meus negócios Grace! Não vou perder meu tempo com vocês dois. Faço até questão que deixe  meu edifício. Passar bem!

O velho baixinho saiu batendo os pés pelo corredor e seguiu fazendo o mesmo pela escada. Finalmente ficamos a sós.

— Sr.  Z Grace. É sério Zeus, essa foi baixa até pra você.

— Também é bom te ver Sally.

— Veio realmente visitar Beryl?

— É claro, mas vim para cá com segundas intenções. Acho que precisamos conversar.

In the arms of the SeaWhere stories live. Discover now