Rascunhos

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Rafaella acordou no chão, em meio a vários e vários papéis, e um lápis minúsculo - que fora apontado várias e várias vezes durante a noite - ao seu lado. Ela respirou fundo e se sentou, olhando para a papelada espalhada ao seu redor. Rascunhos e mais rascunhos, era isso o que Rafaella costumava fazer todas as madrugadas, quando seu cérebro estava mais "aberto", mas nada do que realmente gostasse e ponderasse, um dia, mandar para alguma editora.

Ela escrevia de tudo. Desde romances clichês à horrores medonhos, ela simplesmente botava no papel ou em seu notebook o que lhe desse na telha. Mas Rafaella não tinha o que muitos chamam de autoconfiança. Enquanto alguns escritores como Nicholas Sparks, Anna Banks, Rick Riordan e Meg Cabot escrevem bem e sabem disso, Rafaella se achava uma merda. E talvez era isso o que ela realmente fosse. Uma merdinha.

Bem, a escrita de Rafaella era ótima, suas ideias igualmente, mas a Rafaella em si era uma merdinha. Ela se botava muito para baixo, e não era isso o que a mídia e a fama de hoje em dia queriam, então, se você quer ter uma carreira promissora e conseguir muita fama - e dinheiro -, você com certeza terá que tomar um banho de autoconfiança e autoestima, caso contrário, virará uma Rafaella Kalimann da vida, uma "cavala" de 21 anos que só faz projetos e mais projetos, nunca investindo neles por não achá-los bons o bastante, quando na verdade são magníficos.

Rafaella foi tirada de seus pensamentos por seu telefone tocando em sua cama, e foi aí que ela percebeu o quão quebrada estava. Escrever e depois dormir no chão acabou com suas costas. Ela esticou a mão para pegar seu telefone, nem sequer olhando no visor antes de atender.

- Alô.

- Rafa! - uma Manu um tanto alegre demais para aquela hora da manhã guinchou do outro lado da linha. - Como você está? Eu estou a caminho!

Rafaella franziu a testa.

- A caminho de quê?

- Da sua casa, dã!

A mais alta gemeu e bateu em sua própria testa, voltando a se jogar no chão.

- Você vai mesmo me encher o saco a essa hora da manhã? São 9 horas, Manu! De um sábado!

- E eu aposto que você só acordou agora pois suas costas estão ferradas, eu conheço você, Rafaella, sei que você escreve rascunhos de algo toda sexta-feira a noite e fica escrevendo até mais ou menos 4 da manhã.

- Como você...? - Rafaella começou a perguntar, mas desistiu no meio da frase. Não adiantaria de nada discutir aquilo com Manu. - Espero que esteja trazendo comida.

Manu riu do outro lado da linha.

- Eu estou levando a Gizelly, serve?

- Não. - Rafaella respondeu. - Eu disse comida, e não quem vá comer toda a minha comida.

- Ela acabou de te chamar de gorda. - Manu falou para alguém, provavelmente para Gizelly.

- Diga a ela que ela é uma fracassada. - Gizelly respondeu.

- Você ouviu. - Manu falou, para Rafaella dessa vez.

- Chegue aqui em, no mínimo, 20 minutos ou eu falo para o porteiro não deixar vocês duas entrarem. Tchau.

- Ei! - A baixinha protestou, mas Rafaella pressionou o botão vermelho no aparelho, fazendo a chamada se encerrar.

Ela voltou a se jogar em meio aos papéis, franzindo a testa com a dor. A porta do quarto foi aberta lentamente e ela se lembrou de seu pequeno e lindo erro.

Sofia.

- Mamãe? - a garotinha perguntou, se aproximando dela com seu travesseiro na mão.

Rafaella deu um sorrisinho e a chamou com a mão.

Tudo Sobre VocêWhere stories live. Discover now