Rasuras da Fênix

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Nem sempre a beleza de um lugar salva a má impressão que ele nos deixará. Novamente, a sensação de estar aprisionada e do mundo todo contribuindo para que eu me foda a cada dia um pouco mais, entope as minhas conexões cerebrais. "Onde está Jungkook?" É o que passei mais uma madrugada questionando-me, junto aos homens que marcham na areia quente lá fora.
— Gina, seu café está pronto. — escoltada por dois brutamontes, Pilar, fraca em suas expressões, adentra com uma bandeja repleta de coisas gostosas.
— Será que ela pode comer comigo? Não quero ficar sozinha. — ergo-me de uma das poltronas, suplicando a um dos ridículos. 
— Certo. — um deles concorda e a garota se sente aliviada quando ficamos à sós.
Pela cara da Pilar eu diria que ela não pregou os olhos, que teve que passar a noite toda servindo aqueles homens inúteis e não teve um segundo da paz por causa da aparente festinha que eles deram durante a madrugada.
— Foi muito inteligente da sua parte… — sorri, me intrigando com o elogio fora de hora. Puxo as sobrancelhas para o topo e a olho mais afundo. Pilar se senta perto de mim, em frente ao ventilador, espalhando seu perfume de lavanda pelo lugar. — Eu não via outro modo de te dar isso… — ela saca um celular miúdo das meias altas e me entrega, não esquecendo de se manter alerta a qualquer movimento.
— Como conseguiu? — falta pouco para ser inaudível a minha pergunta, todavia de forma excelente a Pilar capta o que digo.
— Tenho guardado para emergências. — sussurra tão baixo quanto eu fiz. — Aqui tem o número do Jeon. — completa, ligando o aparelho antiquado.
Antes que ele pudesse fazer um ruído sequer para iniciar, abafei-o com a mão.
Quando a tela principal aparece, procuramos o telefone imediatamente e em poucos segundos Jungkook, o dono do número, atende.
— "Quem é?" — ouço nitidamente uma voz tensa, vibrando em correntes de altas voltagens de estresse.
— Salva esse número, Jeon. É a Gina. — hiper atenta na atividade do corredor, caminho até a janela para me afastar o máximo que posso da porta. Pilar me segue se colocando de frente pra mim a todo o instante.
— Ah... É você. Será que pode descer? — indaga, me impressionando e modificando seu tom para algo mais descontraído.
— Nem se eu fosse varrida do juízo. Você não sabe o que tá rolando… — espio os globos saltitantes e espertos de Pilar tentando decifrar novidades. O porquê da minha expressão indignada emergir com tantas nuances até se agravar.
— Eu sei. E estou aqui no escritório tendo uma séria conversa com um invasor de propriedades. — de pronto, me estico serelepe pela notícia. Não estava feliz. Estava irritada e ao mesmo tempo aliviada. Por um lado estou livre, por outro aquele filho da puta nem sequer pediu para os capangas me liberarem. Nunca fui tão humilhada na minha vida.
Desligo de imediato. Assim que apertei no botão para desconectar a chamada, meu dedo e coração tremeram. Estou tomada pelo rancor.
— E, conseguiu saber onde o senhor está? — pergunta franzina em sua postura. Pilar ficou mais neurótica, levando a mão a boca e lascando uma das unhas principais.
— Não viu mesmo ele chegar ou é um teatro de vocês pra me fazer de palhaça? — disparo o celular tijolão na cama, este que até afunda e escorrega, navegando pelo lençol e caindo com tudo.
O "estrondo" é alto. Os dois cães de guarda violentamente entram no ambiente. 
— Ei, o que estão fazendo? Não precisam de tudo isso rapazes. — apaziguador, Jimin que estava à caminho do meu quarto, corre e ameniza os ânimos dos dois exaltados.
— Porquê não me disse que o Jeon tá lá embaixo? — entro em arrefecimento, oxigenando o cérebro antes de soltar alguma coisa que possa me complicar.
— Como sabe? — Jimin olha pra mim e corta para a cama, deduzindo tudo na sua investigação superficial. — Pude subir somente agora. O clima está péssimo. É melhor ficar no quarto com Pilar, você ganha mais. — aconselha, nitidamente incomodado quando se referia às negociações de Jungkook e Taehyung.
— Me leve até eles. Te imploro. Não aguento ficar nesse ambiente nem um segundo há mais. — alcanço o braço do Park, resgatando uma expressão de pedido de piedade em meu rosto para influenciá-lo.
— Não te proibi de descer em momento algum, apenas te disse o que é mais prudente. Mas, a vida é sua Gina, você está tomando as decisões, não é? — frio e com uma entonação distante, novamente mostra que está chateado. É um outro aviso seu que faço a questão de atropelar e não levar em consideração.
— É, eu vou. — deixo de esmagar a sua camisa com os dedos e me afasto.
Puxo o braço de Pilar ao passar por ela e saímos do quarto, em uma corridinha infantil.
No topo da escada, já posso ouvir a ferrenha discussão preenchendo o espaço todo do escritório que está de portas fechadas. Não ouço a voz de Jungkook ainda, somente um Taehyung puto e explosivo exigindo sua arma de volta. A sua primeira arma. Que merda… Esse teatro todo por causa de uma pistola velha? Homens são tão imaturos, até mesmo os poderosos.
— Olha, Jeon. A casa da praia em Miami. Ela é sua. — insiste o Kim, implorando por um acordo que resulte em um desfecho interessante. 
Pilar e eu nos achegamos à longa porta, revejo dois dos guarda-costas do Jeon sentados no sofá, cada um portando uma arma de guerra. Sinto um gelo subir na espinha dorsal. É o meu medo daquilo tudo acabar em um tiroteio. O que não é impossível de acontecer.
— Sei o que eu quero e você também sabe. Me contaram que agora, na verdade, uns meses atrás, você recebeu um pagamento em diamantes do Governador famoso. Vinte e duas pedrinhas, pra ser preciso. — os ruídos do timbre só oro do Jungkook finalmente chegam aos meus ouvidos ao passo que, me aproximo sorrateiramente da porta de escritório. Serpenteio. 
— Deveria ter te dado dois tiros quando pude… — ameaça o Taehyung mais corajoso.
— Não pode me matar, sabe que iria se foder com força se o fizesse. — o moreno mafioso ri comedido. Nesse instante, estou perto o bastante para colar minha orelha na superfície do portal.
— Mando buscar os diamantes. Cinco. Mas quero a minha dourada comigo até essa noite. — cansado, o Kim dá o braço a torcer aparentemente. 
— Quero todos eles, não estou esperando atoa. Queria ver até onde iria pra ver se o meu pedido seria viável. Eu não sou idiota, está desesperado e não me surpreendeu vindo pra cá. Nunca se esqueça, de que, informação é poder.
— Sabe, que só cinco daquelas pedras valem mais que essa casa e você juntos. — o dono do tesouro ri alto, desacreditado da ousada proposta.
— Por isso que eu quero. Sei que o valor sentimental da última coisa que teu pai te deixou, custa mais que tudo isso e mais um pouco. — o Jungkook sério e irredutível, diz. — Não deveria ter apostado um bem tão valioso… Te peguei onde em você é mais frágil, no seu ego, no seu narcisismo. Não achava que iria perder e ter que viver esse momento tão chato comigo. 
— Te admiro por ser tão bom em ser tão ruim. — responde o Taehyung entre dentes.  
— A sua prepotência que te derrubou, não me culpe. — ruídos de uma cadeira se arrastando se alastram posto o fim da fala de Jungkook. — Agora... Saia da minha ilha e às dez, te vejo no Alemão. — a porta é destravada, e imediatamente meu sistema nervoso é afetado pelo gesto. Um peso enorme se acumula em meu peito e estômago. Estou paralisada.
Não é nervosismo apenas, é um conjunto de coisas que se amontoaram nesse meio tempo. Raiva, tristeza, ansiedade, aflição.
— Gina… — de primeira, analiso uma expressão bruta cobrir as feições belas do Jeon, mas, gradativamente, ao cortar distância entre o meu e seu corpo, vão se suavizando até se anular por completo. — Você está bem? — me toca pelos ombros, as mãos geladas como se tivessem acabado de sair de um freezer. O tatuado verifica-me, percorrendo meu torso todo em busca de alguma resposta fácil.
— E você se importa? — rancorosa, sou insensível em olhá-lo. Estou magoada por ter sido abandonada quase à própria sorte, presa e esquecida dessa forma.
— Não deveria duvidar. — respiro enraivada, dando dois curtos passos para trás.
Enquanto Jungkook está dedicado a me olhar com cuidado, observo a casa se esvaziando aos poucos. Até mesmo Pilar se vai, me deixando solitária na sala com o mafioso descarado. Não posso nem sequer encará-lo. Minha boca está tão amarga quanto o meu estômago ácido ocasionado pelo estresse.
— Se eu soubesse com muita antecedência, eu teria te levado pra outro lugar. — leva uma mão para o meu maxilar e me traz por ele, colando nossos narizes e regulando nossa respiração. Posso perceber como está nervoso. Por baixo daquela austeridade, certamente havia alguém fragilizado com a situação.  
— Eu quero acreditar em você… — meus braços agem buscando um acalento, uma proteção da sua parte e confortá-lo também. — Você está muito frio. — a respiração dele arrasta alguns pelos da minha nuca e suas palmas congelantes arrepiam-me toda por onde percorrem. — Vou pedir pra Pilar fazer um chá pra você. — digo, me atentando ao seu pulmão buscando ar para se tranquilizar. 
— Como achar melhor. — se contém ao transmitir qualquer fraqueza. Jungkook, se move incomodado, repelindo o abraço terno de modo mais firme. O tatuado cria uma barreira de espaço entre nós, soltando o ar que estava preso em seu peito.
— E eu posso ir pro tal "Alemão" com você? — peço, procurando seus olhos que estão impressionados com o meu pedido.
— Não vou demorar pra voltar dessa vez… E não é nenhum pouco seguro que venha. — explica sério, pelo visto não se trata de um encontro muito pacífico pelo que imaginava para um acordo de paz.
— Pelo menos tem alguma garantia de que nada do que aconteceu comigo vai rolar de novo? — questiono sisuda, me descolando dele suavemente. Não foi uma boa ideia esse abraço na hora da emoção. O clima ficou desconcertante. É complexo isso. Não podemos e nem queremos nos apegar de maneira carinhosa, por mais que haja momentos fora da curva como esses. Esta regra é bem clara e definitiva nas nossas mentes, ao menos na minha.
— Vou ver se passo as minhas coisas para outro quarto. Peguei até ódio do meu. — crio um motivo maior para me distanciar dele. Não é só o ressentimento inconsciente que me faz ficar com a postura mais durona e sim, a própria fisionomia apática do moreno.
— Porquê não vai logo pro meu? — me choca com o pedido, na verdade, a sugestão já havia sido feita, todavia não achei correto aceitar.
— Quer isso? — movimento minha cabeça para trás impressionada, meu queixo se afunda na garganta, como se estivesse "honrada''. Por um instante cheguei a concluir que de algum modo eu estava o irritando, entretanto, com essas palavras… Bem, Jungkook me confunde demais.
— Sim. — reitera sua pretensão de compartilhar o quarto, a cama e a intimidade com a minha pessoa. Apesar de que era eu a que não queria viver esses dias colada nele. É intimista ao extremo.
— Ok… Vou falar com a Pilar e pedir pra fazer o seu chá. Depois eu cuido da mudança. — despeço-me com um meio sorriso e vejo o Jungkook repuxar a lateral do lábio em uma tentativa de me corresponder. Voltou tão misteiroso, tão esquisito que minha raiva acumulada e todas as palavras ofensivas que imaginei dizer para ele quando chegasse, se foram em um passe de mágica.
Me dirijo para a cozinha do casarão, buscando pela presença da Pilar no cômodo luxuoso e bem equipado, por onde ela sempre fica pelo dia.
— Oi… — antes que eu a ache, o cheiro intenso carregado pelas ondas de fumaça no aroma de canela e mel, me inebriam. Uma deliciosa mistura.
Não demora para que a garota se eleve e apareça. Pilar buscava algo nos armários, pelo que meus olhos capturam, se trata de um adoçante. — Ia justamente te pedir pra fazer um chá pro Jeon. Ele não voltou nada bem. — entrelaço meus braços, me encostando em uma das bancadas para ver Pilar finalizar o preparo do chá.
— Pensei nisso também. — sorri mais leve e despreocupada.
— Está por aqui há muitos anos? — questiono curiosa. Desfaço o nó e sobreponho os antebraços no balcão.
— Moro na ilha desde que eu era criança. Já tiveram vários donos, mas o melhor foi o Jungkook. — suspira nostálgica tentando retornar para o seu estado normal de espírito.
— Não precisa falar bem dele pra mim… Sinceramente. — abro uma risada, ao passo que Pilar se move e ajeita o chá, xícaras e bule na bandeja de madeira.
— Falo sério. Ele é introspectivo, calmo e reservado quando vem sozinho. Não dá muito trabalho. — coloca na minha frente as peças.
— Eu levo. — sorrio e encaixo nas alças firmemente. Ela fez um litro de chá? — Nossa, eu não sabia que o Jungkook sem holofotes era tão… Equilibrado. — levanto a bandeja, pondo-a acima da linha do meu abdômen. — Vá descansar um pouco…Então, até mais tarde. — deixo Pilar e sigo o meu caminho.
Subindo os degraus, vou recuperando meu senso de liberdade pouco a pouco. Foi um dia de tormento? sim, mas o suficiente para me traumatizar até o ano que vem. Me assusto fácil. Jungkook passa por situações aparentemente piores do essas com uma resignação toda semana, com certeza.
Acho que preciso aprender a ser mais resistente a problemas daqui para frente. Não posso depender do socorro de ninguém e tirei uma boa lição disso.
— Jungkook! — chamo, não conseguindo bater a porta e nem abrir por conta da bandeja. Espero alguns longos segundos parada em frente a de madeira.
Ele, depois de um bom tempo, atende ao meu chamado. E, entendo com perfeição o motivo da demora. O Jeon toma seu banho e acaba de sair, exibindo seus cabelos com alguns resquícios de shampoo, ombros escorrendo gotas d'água para o peitoral e abdômen cruelmente definido. A toalha que ele usa para amarrar nos quadris, tem um belo vão no meio. É incontrolável não reparar, mas vejo algo além de suas pernas no espaço de abertura.
Erijo o pescoço, retornando para seu rosto mais recuperado. 
— Como você foi rápida… Eu mal acabei de entrar. — explica, me ajudando a pegar o chá e eu me contendo para não olhar mais o seu corpo de forma totalmente indiscreta.
— É que a Pilar já estava fazendo e essas são… Rápidas de preparar… — persigo seus movimentos um a um. Minha nossa que costas lindas. Mas estou muito magoada ainda, me recuso a admirar.
— Enquanto eu volto pra banheira, porque não vai se acostumando com o ambiente? — vira-se, me aquecendo 
com a bela paisagem das suas tatuagens na parte superior e na nuca. A fênix detalhada e com cores exuberantes, marcam a região em tons quentes de laranja, vermelho e preto. O estalo do pousar da bandeja na pequena mesa clara próximo a janela, desperta-me da viagem que fiz pela pele tão maltratada por agulhas e tinta.
Regresso em um suspiro vigoroso.
— Uma ótima ideia... — assisto o Jungkook girar e buscar contato visual comigo. Ele aparentemente esconde algo de sua saída de ontem, e claro que, eu pretendo destrinchar esse jogo secreto que há na sua omissão.
— O quarto é todo seu, meu bem. — me encara mais sério, passa a mão no meu curto cabelo e segue para o banho.
Solitária no espaço gigantesco da suíte, escaneio se o Jeon já se foi para ficar realmente mais relaxada. Sempre fico um tanto nervosa quando ele está perto de mim. Me sinto em conflito até. E… Caramba. Na verdade, nem sei o que sinto por esse mafioso.
Um ruído raro, de súbito rapta a minha atenção. Um celular no meio entre dois travesseiros, possui a tela acesa por causa de uma notificação. Supero o pequeno susto e não aguento a curiosidade. É o smartphone do Jungkook… De certo, ele deve estar com tantas coisas atolando os seus pensamentos que mal percebeu que havia me deixando à sós com aquele telefone.
Com exímio cuidado, arrasto o celular entre as unhas para a beira da cama e o trago-o à mim. A tela acesa me mostra uma notificação de mensagem.

" O John já está se recuperando senhor, mas ainda está em observação aqui no Alemão. Sobre a ordem, foi executada sem falhas. "

NOTAS DO AUTOR:
Gente, foi mal a enorme demora, fiquei atolada de coisas para fazer nesse fim de ano e só consegui soltar agora e voltar a escrever/me dedicar as fanfics. Espero terminar ela esse ano KKKKK se Deus quiser! Obrigada pelo amor que vocês tem por ela, vou tratar de aparecer mais por aqui, também tô cuidando da minha migração pro Wattpad e está sendo complicado♡ Bem, até o próximo capítulo

SÁDICO - Jeon Jungkook (Narcotráfico) +18Onde histórias criam vida. Descubra agora