4 - O Sentimento

98 9 1
                                    


Astrid estava lutando uma batalha interna. Ela deveria escutar a razão ou a emoção? Seu cérebro ou seu coração? Colocando as mãos sobre suas orelhas tentando não escutar o que estava acontecendo lá embaixo, fechou os olhos. Respirou fundo, uma vez, duas vezes na terceira voltou a abri-los.

A cena que viu acabou decidindo a batalha por ela. Viu o seu marido ainda encolhido à frente da lareira com os ombros balançando de vez em quando. Das sombras o pequeno filhote começou a ir com cautela para mais perto do moreno. Deu um pequeno passo, mais outro, no meio do caminho cheirou o ar, voltou a andar cauteloso ao seu destino. Aos pouco ele se aproximou tanto do homem, que apoiou as pequenas patinhas dianteiras na coxa de Soluço, como se querendo dar o seu apoio.

Esse gesto fez o rapaz mostrar reação pela primeira vez. Levantou a cabeça e viu aqueles grandes olhos de cores diferentes o encarando. Sem se dar conta do que estava fazendo, sua mão direita começou a fazer carinho na orelha do animal. Como agradecimento, o pequenino lambeu os seus dedos, que estavam salgados.

Astrid estava sendo levada por suas pernas para o andar de baixo. Desceu os degraus o mais sutil e devagar possível. Soluço estava tão envolvido com o filhote que só percebeu a sua mulher quando ela chegou ao seu lado. Não queria olhar para ela. Saber que ela o viu assim, fraco, o deixava com mais um peso no peito. Olhava para o chão e parou qualquer movimento do seu corpo.

Sentiu em seu cabelo uma das mãos dela fazendo um cafuné de leve. Experimentar novamente o toque dela, nele, trouxe com força as emoções que ele estava extravasando há momentos atrás. Num instinto, abraçou com força as pernas da loira e chorou. Sentiu o carinho dela ficar mais forte, mas começou a se mexer tentando libertar os seus membros dos braços dele. Soluço já começou a se desesperar julgando que ela queria se distanciar novamente. Mas ela se ajoelhou na sua frente, o fazendo abraçá-la. Os dois liberaram tudo que estavam sentindo.

O calor da pele um do outro, acalmando o coração dos dois. Soluço sussurrou um "Desculpa" a cada respiração mais forte, como um mantra. Sentiu a sua mulher apertar ainda mais o abraço. Ela também se desculpou, mas não sabia se ele escutara. Nunca o vira assim. Mesmo com a morte de seu pai. Soluço nunca desabou tanto, pelo menos que ela tenha visto. Achava até que era disso que ele precisava. Sentir toda a dor, deixá-la sair do seu corpo.

Gradualmente ela tentou desfazer o contato para olhá-lo. Ele a puxou com mais força, não queria que ela o visse, seu rosto deveria estar um caos. Sentiu as mãos suaves de sua mulher sobre seu rosto. Ela o puxava com delicadeza para olhá-lo. Continuou com o olhar para baixo.

— Shhh... — sisse ela baixinho colocando os dedos em seu queixo o erguendo. Olhou para aquele azul pela primeira vez até então. Também estavam inchados, sabia que ela chorara antes de dormir. Mais uma facada no seu coração.

— Desculpa... — sussurrou a mesma palavra. Ele estava péssimo, nariz e olhos inchados e vermelhos, olheiras, mas o seu olhar era o pior, ele a olhava com súplica, como se esperando que ela fosse o deixar a qualquer momento. Sabia que ele a amava, mas agora percebeu realmente o quanto ela era importante para ele, sabia que era, mas não nessa magnitude. Começou a fazer carinho com o polegar limpando as marcas das lágrimas que passaram pelas suas bochechas.

Astrid, lentamente se aproximou dele, colando seus lábios em um selinho doce. Soluço demorou alguns momentos para perceber o que estava acontecendo. Retribuiu o beijo. Era carinhoso, com se os dois tivessem com medo do contato.

Ela gradualmente descolou os lábios, pegando uma distância para conversarem.

— Soluço... Eu só quero entender... -- disse com carinho, ainda com a mão apoiada na bochecha dele.

Três DiasDonde viven las historias. Descúbrelo ahora