꧁Capítulo 2꧂

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                                       Ellara

As chamas da lareira aqueciam meu corpo esguio. Estava frio e húmido no cômodo que me fora estabelecido como quarto, o cheiro de mofo já não incomodava-me como antes. Espalhei meus poucos pertences sobre a cama que nunca fora usada para dormir, sempre descansava próxima a uma parede ou móvel, tudo para obter segundos de vantagem caso fosse procurada na calada da noite. Esfreguei as mãos, observando as armas que seriam levadas comigo para Prythian. Seriam dias de longas caminhadas até a Corte Noturna, não poderia levar mais do que pudesse suportar. Sorri fracamente ao me recordar dos ensinamentos de Leander, ser criada por um caçador de recompensas obtinha suas vantagens.

— Esta pronta, Ella? — Fallon surgiu a minha porta. O macho acompanhar-me-ia em minha missão, segundo o Rei, havia sido liberado para estudar a muralha que cercava Prythian.

— Terminarei de carregar meu boldrié e poderemos partir. — Afirmei afivelando minhas botas. Armei-me o máximo que me era permitido, cobri meus ombros com a longa capa e escondi meu rosto nas sombras de meu capuz. Sussurrei uma oração enquanto apertava o antigo medalhão, pedindo a mãe que guiasse-me até meu lar.

Ignorei as perguntas de Fallon, concentrando-me apenas nos guardas que abriam caminho para minha passagem, o cheiro de seu medo chegava as minhas narinas como perfume amadeirado, queimando e inebriando. Esfreguei as têmporas ao distinguir os gêmeos daemati ao longe, gracejando o Rei que compartilhava seu sangue real com os mesmos. Grunhi, afastando a memória dos jovens príncipes forçando os muros de minha mente, destruindo o que ligava-me ao fio de esperança e alegria, apagando a dor de meu corpo, transformando-me em um monstro pecaminoso. Leander treinara-me para caçar e matar em troca de um punhado de moedas, este era nosso estilo de vida, mas Hybern moldara-me em uma assassina sem propósito e letal, um ser desprendido a comoção ou medo.

— Ellara, está radiante! — O gêmeo macho gracejou com desdém, obtendo um grunhido de advertência de sua irmã. Permaneci em silêncio, esperando o comando do Rei para partir.

— Lembra-se de nosso acordo? — Sua voz areosa elevou-se.

— A cabeça de Rhysand em troca de minha liberdade. — Anunciei, mantendo olhar avido sobre o Rei, preparando-me para suas ameaças falheis. O macho assentira em aprovação, estalando os dedos para que um de seus guardas entregasse-me uma pequena sacola de tecido com poucas moedas de ouro e um mapa antigo.

— Lembre-se; se ousar enganar-me, mataremos seu precioso amigo e arrancaremos sua cabeça em seguida. — Sibilou entredentes, seus olhos passando por Fallon, que ofertava um meio sorriso provocativo.

— Fallon, espero que traga-me resultados. O último que retornou sem notícias acerca da muralha não sobreviveu para uma nova falha. — Ríspidou contra o jovem macho, roubando gargalhadas dos presentes. Os gêmeos se aproximaram e apertaram nossos ombros, nos atravessando até a primeira corte de Prythian.

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Surgimos próximos a muralha, invadindo a Corte Primaveril. O cheiro de magnólias e orvalho atingiu-me, reavivando parte de minha alma, aquela que preservara junto das memórias de Leander em meio aos bosques verdejantes. Me curvei para tocar a grama molhada, de certo modo podia sentir a natureza respirar, o movimentar das águas entre as ravinas e o farfalhar das árvores. Balancei a cabeça, afastando tais pensamentos inúteis de minha mente. Apressei-me em caminhar, deixando Fallon para trás.

— Onde vai? — Indagou ofegante, cambaleando para me alcançar.

— Estudar o território e buscar informações. — Afirmei parando para me trocar.

𝕮𝖔𝖗𝖙𝖊 𝖉𝖊 𝕱ú𝖗𝖎𝖆 𝖊 𝕽𝖔𝖘𝖆𝖘Where stories live. Discover now