Em carne e osso

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As aulas de Aurora haviam retornado, e com ela toda a sua rotina escolar

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As aulas de Aurora haviam retornado, e com ela toda a sua rotina escolar. Forçada a acordar seis horas da manhã de segunda a sexta feira para conseguir chegar às oito em ponto, mantinha sua cara de sono e um corpo coberto pelas roupas da escola. O colégio tolerava atrasos de apenas dez minutos e enlouquecia aqueles com péssimos hábitos de dormir tarde da noite e não conseguir ouvir o despertar do celular pela manhã.

Normalmente sua mãe a levava para a escola por fazer o mesmo caminho para ir trabalhar. Seu pai tinha o prazer de fazer todo o café da manhã e o lanche para que sua filha levasse, evitando assim de lhe dar dinheiro todo o tempo. Na maioria das vezes seus amigos comiam seu lanche por serem apaixonados pela comida do pai de Aurora, enquanto a garota preferia comprar pizza que vendiam no refeitório, agradecendo pelas suas economias guardadas. Ela amava todos os pratos feitos, até os sanduíches mais simples que seu pai fazia, mas por ser acostumada com todos os tipos de iguarias que seu pai cozinhava, as vezes gostava de comer algo com um tempero diferente, que não fosse preparado por ele.

Voltar a estudar tinha deixado Aurora mais animada e menos irritada. Ter que conviver com o seu pai mais que o normal a tirava do sério, pois tudo o que ela fazia era motivo de algum comentário negativo. Ele tinha ciência que a garota não seguiria seus passos, nem os de sua mãe. Mas a todo instante a importunava sobre coisas que ela não sabia fazer e muito menos tinha vontade de aprender. Acreditava que nem tudo nessa vida o ser humano seria capaz de fazer e estava confortável com esse pensamento.

Fernando queria que ela tivesse algum hobbie a não ser ficar carregando um livro para cima e para baixo, em todos os lugares que ia. E toda sua implicância era por não serem livros de conhecimento educacional, de acordo com ele eram apenas romances bobos que deixavam meninas carentes e iludidas com o que não era real.

E esse não era somente o motivo de estar com a mente a milhão. Seus pais voltaram a discutir e alguns comentários rebatiam nela. Costumavam levar as caras emburradas para a mesa do café da manhã, a enchendo de perguntas para fugirem de suas relações matrimoniais. Pelo menos tendo que ir para a aula podia fugir do café da manhã, se alimentando apenas do que enxergava primeiro na mesa e comia porta afora. Estava preferindo até que Camila fosse busca-la, mas nem sempre a amiga estava de pé no horário devido.

Naquela quarta feira seus pais não trocaram uma palavra, não se dirigindo nem para a própria. Não que ela estivesse reclamando, gostava do silêncio pela manhã, por ainda estar acordando e deixando seu corpo se acostumar fora da cama macia e fresca — que abandonara para conviver com alunos e professores que falavam sem pausa . Mas sabia que se eles não se resolvessem, só iriam piorar as coisas e os dias se tornariam ainda piores.

— Tudo bem, querida? – perguntou sua mãe enquanto dirigia, olhando para a menina preocupada, pois mantinha um livro sobre o colo desde que entrou no carro e não folheou uma página.

Sua cabeça se mantinha encostada sobre o banco, com a cabeça tombada de lado observando todas as pessoas e lojas do lado de fora. Contava até mesmo quantas listras possuíam na calçada de concreto.

Doce AuroraWhere stories live. Discover now