Responsabilidade

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Apesar de ser início do outono a floresta estava verde e viva. As árvores eram altas, mas finas e esparsas, não havia muitas moitas ou mato se arrastando pelo chão, Daryl sabia que era uma mata jovem, com menor possibilidade de esconderijo para a garotinha o que só seria bom se eles a encontrassem antes dos geeks.

Nunca havia estado naquela parte da Geórgia e não conhecia a floresta em que estava se embrenhado com um grupo inexperiente às suas costas, mas mata era mata, ele poderia se dar bem ali sem dificuldade, não podia dizer o mesmo da garota perdida.

O tempo estava correndo e todo o grupo parecia mais pessimista a cada minuto sem encontrar a criança. O jovem não podia entender como ele, o mal humorado e estressado do time e o mais jovem dentre os adultos, era o único pensando racionalmente e acreditando na sobrevivência de Sophia.

Eles só tinham uma tarefa, encontrar a garotinha perdida há não mais que algumas horas. Se todos estivessem mais atentos, soubessem lidar com caminhantes e tivessem um pingo de noção de direção, poderiam se separar e trazer a menina para mãe muito mais rápido. Em vez disso, ele foi posto de babá de um grupo pouco útil e muito barulhento.

Rick e Shane tinham uma chance bem melhor de encontrá-la, só precisavam cuidar de um garoto, e ainda assim, conseguiram uma bala em Carl.

Daryl não estava feliz com a situação, mas esse já era o caso há bastante tempo. Havia perdido Merle há não mais que algumas semanas, mas a sensação de culpa por não ter voltado a tempo à Atlântida ou se vingado do policial que algemou seu único parente àquele telhado ainda o corroía.

Era a primeira vez que estava longe das asas de Merle. Antes, mesmo quando Merle estava no reformatório ou no exército, o Dixon mais jovem sempre fazia o que o irmão queria, ou o que imaginava que Merle faria.

Agora, sozinho entre um grupo de estranhos que jamais teriam se reunido antes da virada, Daryl se sentia perdido e sem rumo, precisava de alguém para seguir. Provavelmente por isso viu no policial que vinha liderando o grupo, um guia. Não era Merle, mas era tudo o que restava ao garoto.

Ele se perguntava porque Rick o escolheu para comandar a parte do grupo que retornava à estrada. Apesar de ser bom se localizando em florestas, Daryl não era um líder, porra, ele tinha acabado de completar dezoito anos, não deveria ter que mandar em adultos que, na opinião dele, não sobreviveriam uma semana sozinhos no novo mundo.

Enquanto caminhava à frente, seguindo uma trilha visível apenas para ele, escutou os soluços de Carol. Apesar de não achar que Sophia estava morta, entendia os motivos do pranto: ela estava sozinha, seu marido abusivo estava morto, sua filha desaparecida e ela só tinha esse grupo de estranhos para ajudar nas buscas, liderados por um caipira adolescente.

Glenn estava quase ao lado do arqueiro, postura tensa e rosto severo demais para sua personalidade quase gentil. 'Ele deveria liderar na ausência dos cowboys', ao menos era o que Daryl pensava enquanto parava ante uma moita particularmente banal entre tantas e arrastava alguns galhos para exibir a estrada abarrotada de carros abandonados e o familiar RV de onde Dale vigiava.

O coreano se encarregou de contar que além de não encontrar Sophia haviam permitido que Carl fosse baleado e Lori levada por uma completa estranha a cavalo. Dale parecia consternado com as novidades e ninguém do grupo tinha informações concretas para acalmar o idoso.

O mais jovem não sabia o que sentiu ao ver as expressões surpresas do grupo quando Dale informou que T-Dog precisava de remédios e Daryl sequer hesitou antes de compartilhar o estoque recreativo do irmão. Sabia o que as pessoas pensavam dele, um caipira de pescoço vermelho, colete de couro e a moto com insígnia nazista do irmão, mas ainda era doloroso que pensassem que ele deixaria alguém morrer de infecção por conta de sua raça — Merle poderia fazê-lo, dependendo do seu humor, mas Daryl, jamais.

No PlanWhere stories live. Discover now