No Plan

Indecisão

Hershel estava indo em direção ao acampamento, seus pés doendo por ter percorrido grande parte do perímetro da fazenda, ainda assim sem hesitar, a preocupação não dava espaço para o desconforto.

Avistou a cabeleira loira antes de realmente entender a cena. Viu Beth emergir da floresta acompanhada de um rapaz do grupo de Rick. O fazendeiro se lembrava vagamente de ser apresentado à figura mal encarada e de ter uma péssima primeira impressão do adolescente em roupas de couro e montado em uma motocicleta barulhenta.

Sabia que não era muito cristão de sua parte julgar alguém pela aparência, mas não tinha como evitar quando o sujeito se portava exatamente como o estereótipo manda.

Apertou o passo, mas a perna enfraquecida por um antigo coice bem dado de um appaloosa tão irritado quanto pintado, o retardou o bastante para assistir a cena que se seguiu.

O adolescente falou algo com sua filha, Beth respondeu qualquer coisa e ofereceu sua cesta ao outro que recolheu uma flor branca e se afastou até entrar no trailer.

Hershel observou a filha assistir o outro por um momento antes de se pôr a andar, os olhos da jovem presos no celeiro com uma expressão ilegível.

— Beth. — O idoso achou que a filha o veria, andava em sua direção, mas a adolescente não estava com a mente no presente. — Beth, aqui.

A garota virou a cabeça para ele com real surpresa nos olhos. Mas Hershel identificou algo na expressão da filha que nunca vira direcionado a si, era quase como decepção.

— Pai?! O que houve? — Com apenas alguns passos largos a adolescente deslizou graciosamente para perto do mais velho. A expressão inicial havia sido rapidamente substituída por preocupação.

O patriarca Greene encarou a filha por um longo momento, tentando decidir o que havia de diferente na garota. Ela não parecia sua jovem e doce filha nesse momento, tinha os olhos preocupados de alguém que conhecia a crueldade do mundo, o que não era o caso de sua garotinha.

— Estou te procurando há quase uma hora. — Patrícia o havia informado que as tarefas habituais da garota não haviam sido realizadas, no começo Hershel achou que a filha tinha adormecido de exaustão por ter auxiliado na cirurgia da noite anterior, mas quando não a encontraram na casa e Jimmy também parecia ausente, os instintos paternos gritaram em alerta. — O que estava fazendo na floresta com aquele rapaz?

Beth se encolheu a olhos vistos. Estava tão perdida em considerações sobre as novas informações a respeito dessa doença, que sequer pensou em como explicar o desaparecimento por um período tão longo.

Ela não mentia para o pai, nas poucas ocasiões em que o fez, estava protegendo Maggie ou Shawn. Mesmo assim sentia-se mal por semanas após a transgressão.

Mas de que serviam esses velhos princípios quando a certeza que a mantinha sã havia sido abalada? Como o pai poderia ser essa figura de autoridade possuidora da verdade que Beth sempre admirou, quando estava tão errado sobre a situação que enfrentavam?

Ela encarou o pai, imitando o comportamento displicente de Maggie quando mentia. Sabia que precisava ser convincente ou poderia causar problemas a Daryl, uma vez que seu pai só queria uma desculpa para afastar o grupo visitante.

— Eu fui buscar flores para o túmulo do Otis e Daryl esbarrou comigo enquanto procurava Sophia. — Sua voz saiu com tanta naturalidade que Beth não parecia a mesma menina que tinha dificuldades em inventar desculpas para atrasos. Talvez porque não fosse uma mentira, ela apenas estava escondendo certos pontos da história.

— Daryl...?! — Hershel pensou por um momento enquanto registrava o nome do garoto. — O que ele queria com você? — Beth não parecia assustada, ainda assim não agia normalmente. — Tentou algo...?