No Plan

Estilhaço

*O texto à seguir contem violência, tortura, descrição de ferimentos, pensamentos depressivos, pensamentos suicidas e tentativa de suicidio.

Patrícia estava preparando o jantar e Beth se juntou a ela apenas por hábito. Não tinha qualquer desejo de ajudar na cozinha ou comer, mas não sabia o que fazer consigo mesma além do trabalho doméstico.

Elas pararam o que estavam fazendo quando ouviram Rick entrando no cômodo seguido por uma Lori perturbada.

— Sabem onde Hershel pode ter ido? — O homem tinha urgência na voz e a loira temeu que outro incidente terrível estivesse prestes a ocorrer.

Beth encarou o policial confusa e logo sentiu a culpa por não ter procurado seu pai desde o funeral. Sabia que ele estaria arrasado, não só pela percepção da morte da esposa e enteado, mas por se dar conta que não havia uma esperança palpável para retorno à normalidade.

— Precisamos falar com ele. — Lori tentou justificar a intrusão do marido.

— Ele pegou a caminhonete, talvez esteja na cidade. — Maggie apareceu na porta da sala de jantar, seguida por Glenn. O casal parecia em paz novamente, apesar da Greene ter estado furiosa com o rapaz poucas horas antes quando ele contou ao grupo de Atlanta o segredo da família. — Por que precisam dele? Depois do que aconteceu essa tarde, eu aconselharia a dar espaço ao meu pai. —

Ambas as irmãs entendiam que não era culpa do Grimes o ocorrido no celeiro, ele estava justamente tentando evitar isso, mas seu pai não estaria com humor para lidar com qualquer dos hóspedes.

Rick suspirou trocando um olhar cúmplice com Lori.

— A última coisa que me disse antes de ir foi para arrumarmos nossas coisas e sairmos.

Toda a sala se tornou ciente do significado disso, Maggie procurou Glenn com os olhos e Beth só conseguiu pensar em Carl e Daryl ainda debilitados pelos acidentes sendo obrigados a sobreviver na estrada infestada de mortos e lidar com a fome e falta de tratamento médico.

— Vou pegar uma arma — Maggie declarou já saindo da cozinha. — Procuramos na cidade.

Glenn a segurou pelo pulso e tentou não soar como namorado superprotetor ao propor:

— Deixa que eu vou. Fique aqui e garanta que as pessoas não façam qualquer loucura.

Maggie não pareceu feliz com o pedido e estava prestes a argumentar que não precisava ficar em casa sendo protegida quando o xerife Grimes interveio:

— Glenn tem razão. Não deixem o pessoal do acampamento saber do que seu pai disse. — Ele olhou em volta com uma expressão significativa. Todos no cômodo entendiam que ele queria evitar uma revolta. — Não queremos outra cena.

Nada motivaria mais o grupo assustado a seguir Shane em um motim armado para tomar a fazenda, do que o medo de perder o abrigo.

Beth observou as pessoas dispersarem enquanto era deixada só. Ela sabia que deveria se importar com o paradeiro do pai e seu estado emocional, que a perspectiva do grupo de visitantes ser expulso deveria causar preocupação, mas havia uma estranha dormência em seu peito que nublada seus pensamentos e emoções.

Talvez ela já tivesse sentido tanta dor ao derrubar o cadáver ambulante de sua mãe nesse mesmo dia, que seu corpo estava fisicamente incapacitado de sentir qualquer coisa além de apatia e vazio.

...

A noite caiu e Glenn e Rick não haviam retornado com o dono da fazenda. Os demais jantaram juntos em silêncio sob a pesada nuvem da incerteza. Talvez essa fosse a última refeição dos dois grupos juntos.