Livro 2 | Capítulo 9

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AURORA

Esta viagem foi oficialmente a situação mais estranha que eu tive que enfrentar até agora.

Caminhamos nas últimas duas horas em completo silêncio. Não que eu quisesse ouvir a voz de Wolfgang, mas era realmente desconfortável.

Sem mencionar que Rhea estava em completa felicidade, caminhando lado a lado com nosso parceiro. Ela não parava de tagarelar sobre como ele era atraente e como ela estava feliz por estar perto de Cronnos.

Piermont era uma viagem de três horas, então tínhamos pelo menos mais meia hora de caminhada antes de chegarmos lá.

Fale com ele, Aurora, Rhea resmungou.

Decidi quebrar o silêncio. "Ainda não entendo por que temos que caminhar até Piermont e pegar um trem, quando poderíamos simplesmente nos transformar e correr direto para Buckland. Isso nos tomaria menos tempo."

Wolfgang simplesmente continuou andando, mantendo aquela expressão sempre estoica no rosto.

"Não há necessidade de desperdiçar energia correndo em nossas formas de lobo", ele disse em sua voz monótona. "Piermont fica a apenas um quilômetro de distância. Assim que chegarmos lá, pegaremos o trem para Buckland."

"Isso é ridículo", zombei, cruzando os braços.

Não, não é. Podemos passar mais tempo com nosso parceiro!, Rhea disse, discordando de mim.

"Aurora... as chamas. Você conseguiu recriá-las?", ele perguntou de repente.

"Não."

Para ser honesta, eu tentei fazer isso de novo, mas não tive sucesso até agora. Mesmo que eu me concentrasse muito, só conseguia ter uma enxaqueca.

"Você disse que a raiva as desencadearam. Talvez essa habilidade esteja conectada às suas emoções?", ele sugeriu.

"Não sei. Foi a primeira vez que isso aconteceu comigo", respondi, tentando me lembrar de qualquer outra ocasião em que isso tivesse acontecido.

"Na verdade, seria a segunda vez", disse ele.

Olhei pra ele. "Como assim?", perguntei, confusa. Rhea parou de rebolar para também ouvir.

"No dia em que te contei sobre a morte de Montana, houve uma onda repentina de imenso poder vinda de você. Foi muito rápida, mas poderosa o suficiente para que Remus e eu sentíssemos."

Ele continuou andando enquanto falava. Eu, por outro lado, parei no meio do caminho.

"Ο que você quer dizer com uma onda de imenso poder? Como...?"

"Nós não temos certeza. Como eu disse, foi repentino, mas poderoso. Seus olhos até ficaram momentaneamente roxos, assim como os olhos da sua loba."

Ele parou e se virou para mim, suas órbitas azuis geladas olhando diretamente nos meus olhos. "Foi quando Remus percebeu que havia mais em você do que pensávamos."

"Mas você ainda me tratou como se eu fosse um lixo e nunca perdeu a chance de me humilhar", eu disse, retomando minha caminhada. Mas ele agarrou meu braço e me fez encará-lo.

"Aurora, o que eu fiz com você... como eu te tratei... não tem perdão, mas juro que farei qualquer coisa para compensar você."

Seus olhos fixaram-se nos meus com tanta ternura que quase pensei que ele estava sendo sincero. Mas, novamente, era de Wolfgang que estávamos falando.

Ele não era sincero, nem se importava.

"Você realmente quer o meu perdão? Você teria que morrer e nascer de novo para ganhar meu perdão, Wolfgang." Eu tirei meu braço do dele e continuei caminhando em direção ao Piermont.

Chegamos à estação pouco depois e pegamos o último trem.

Levaríamos cinco dias para chegar a Buckland, então não tínhamos outra opção a não ser reservar uma cabine.

Tive de discutir com o gerente do trem, que nos reservou uma cabine com cama de casal.

"Vocês dois parecem um casal tão fofo. Desculpe, eu interpretei mal", disse ele antes de nos mudar para uma cabine com dois quartos.

"Você não precisava intimidar o gerente do trem dessa forma. Poderíamos ter compartilhado uma cama", Wolfgang disse enquanto íamos para nossa cabine.

Como os corredores eram estreitos, caminhávamos um atrás do outro, com Wolfgang na retaguarda.

"Como se eu fosse dividir um quarto, quanto mais uma cama, com você", eu rebati.

"Isso não a impediu da última vez que dividimos a cama", ele sussurrou no pé da minha orelha.

Seu hálito mentolado soprou na minha pele, causando arrepios em toda parte. Eu rapidamente me virei e o empurrei com força no peito.

Claro, sendo o alfa forte que ele era, isso nem mesmo se mexeu.

"Não me incomode até chegarmos a Buckland", eu disse antes de entrar no meu quarto e bater a porta na cara dele.

O quartinho continha uma cama de solteiro encostada na janela. Lá fora, pude ver a paisagem passando.

Uma pequena mesa de cabeceira ficava ao lado da cama e sobre ela estava um armário onde eu poderia guardar minha bagagem.

À esquerda havia uma porta que dava para um banheiro que consistia em um chuveiro e um vaso sanitário. Bem perto da porta havia uma pia e um espelho.

Joguei minha bolsa na cama e me sentei ao lado dela, irritada.

Minha respiração ainda estava irregular e eu me sentia quente e agitada. Tudo isso por causa do vínculo de acasalamento.

Apenas uma ação simples como essa me deixou toda confusa e incomodada.

Continua...

Meu Alfa me Odeia - Livro 1, 2 e 3Onde as histórias ganham vida. Descobre agora