Lanling

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As primeiras três semanas de casamento passaram em uma névoa de "aparentemente amor mútuo", pelo menos para as pessoas de fora. Você podia ver os recém casados passeando pelo mercado em Lanling Jin comprando utensilios domésticos e outras coisas, perdidos nas nuvens da felicidade conjugal. É caro que, se tivesse tempo para seguir esse casal, teria visto Yanli dando uma escapada para fazer uma comprinha escondida — uma pepita de prata e um misterioso pozinho branco vendido por uma velha viúva.

Mas quem estava prestando atenção a esse tipo de detalhe na época? A namoradeira da cidade estava casada, o solteirão estava contente, e parecia que tudo ia bem na família Jin.

Yanli no entanto não parecia feliz. Após um ano insinuando que queria um casamento, ela descobriu, no fim das contas, que não era isso o que desejava. Secretamente, estava "frustrada com suas espectativas pois não podia amar seu marido como deveria". Ser infeliz no casamento não é uma coisa qualquer, e Yanli tinha um histórico de se virar contra as pessoas pelas menores inconveniências. Talvez Zixuan tenha mastigado com a boca aberta. Quem sabe até discordado da esposa — a ex Jiang não suportava isso. É possível também que sem o brilho de cintilante de Lan Xichen, Yanli tenha percebido que Jin Zixuan era, na verdade, um tédio total.

Para piorar ainda mais, ele não era exatamente o Jovem Maestro prestigiado que Yanli pensava que fosse. Pouco depois do casamento, Zixuan foi desafiado a um duelo, valendo sua honra e prestígio, no qual acabou perdendo vergonhosamente. Então ao invés de ter um esposo educado e prestigiado, Yanli foi submetida a um mimado que lhe trouxe apenas humilhação e constrangimento. Sua infelicidade com toda a situação à torturou tanto que ela pensou em se envenenar para escapar do relacionamento. Mas não conseguia dizer uma palavra a respeito disso a ninguém. Acabara de se casar com um homem a quem vinha procurando por vários meses, e expressar insatisfação parecia ingratidão, irresponsabilidade, loucura.

Acuada, Yanli certamente recebeu alguma orientação a respeito disso. Antes que muitos dias se passassem, ela deixou de lado os pensamentos suicidas e "transformou seu desespero em vingança". Havia uma maneira fácil de se livrar daquele casamento condenado, e ela já havia jogado esse jogo antes. Esperou por uma tranquila manhã de domingo, três semanas e dois dias após seu casamento, quando Zixuan foi para uma reunião sem ela. Enquanto ele resolvia suas questões, Yanli preparava uma sopa de raiz de lótus e costela, onde temperava a mesma com certo pozinho branco que ela havia comprado em Lanling.

Yanli sorriu docemente para o marido ao vê-lo chegar e lhe serviu o jantar.

Jin Zixuan comeu a maior parte de sua refeição, embora tenha reclamado com seus jovens aprendizes que havia alguma coisa um pouco arenosa no prato. Trinta minutos depois começou a vomitar. Ele tossiu e passou por um "grande tormento" que durou horas. Depois da meia noite, Jin Zixuan finalmente morreu em angústia.

Ele foi enterrado sem suspeitas. Jiang Yanli estava viúva — e livre.

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Alguns dias depois, os aprendizes de Zixuan arruinaram os planos de Yanli. Eles também haviam notado a substância arenosa sedimentada no fundo da tigela de sopa do Maestro Jin. Os garotos suspeitaram de envenenamento; e Yanli por sua vez, desconfiou de que os meninos suspeitavam dela. Tentou calá-los com um pouco de mingau de arsênico, mas eles se recusaram a comer. Então mudou de tática: prometeu-lhes que faria valer a pena se ficassem de boca fechada. Não funcionou.
Um dos garotos, apavorado, correu até os parentes do Jin para lhes dizer que tinha certeza que Yanli acabara de matar seu novo marido.

A notícia do envenenamento logo chegou aos ouvidos de um magistrado, um "cavalheiro de grande juízo e prudência" chamado Xiao Xingcheng, que deu ordens ao curandeiro para que apurasse a questão. O curandeiro corajosamente desenterrou o cadáver em decomposição do Jin, morto havia oito dias, e deu uma espiada por dentro.

Ficou claro para ele que o Jovem Maestro fora vítima de envenenamento, e Yanli foi levada para a prisão em Qishan Wen.

Durante esse período, alguns tribunais ainda praticavam a "cruentação" com os réus, um método medieval empregado com o intuito de provar a culpa. O suspeito era obrigado a tocar no cadáver da vítima; se fosse culpado, como dizia a teoria, o corpo começaria a sangrar. Supostamente, o pai de Jin Zixuan forçou Yanli a tocar no corpo apodrecido de seu marido, um ato em relação ao qual — que surpresa! — "ela era muito avessa". Uma fonte afirma que quando ela finalmente cumpriu o ato, o cadáver "explodiu, sangrando pelo nariz e pela boca, tão fresco comi se tivesse acabado de ser esfaqueado".

Na segunda semana do terceiro mês, Yanli se declarou inocente perante ao concelho ancião, composto por doze pessoas. No entanto estes concordaram que Jiang Yanli de fato envenenara o Jin e ela foi sentenciada a morte na fogueira.
Houve alguma repercussão contra o duro veredito, já que certas "pessoas gentis" argumentaram que o testemunho de um aprendiz de dezesseis anos não deveria ser o suficiente para condená-la, mas o júri permaneceu firme.

Em vez de conceder novo julgamento, ele pediu a um clérigo chamado Song Lan que a aconselhasse em seus últimos dias de vida. Esse Song Lan era um homem discreto, autodepreciativo e com as melhores intenções. Estava horrorizado com o crime de Yanli, mas se aproximou dela com ceta graça. Queria dar o concelho do qual ela desesperadamente precisava, a fim de ajudá-la a entender a gravidade dos seus crimes e facilitar sua transição desta vida para a próxima.

Infelizmente, Yanli ainda estava "inclinada aí desinteresse" em relação àquilo que os homens de túnica pregavam, e não desejava facilitar o trabalho de Song Lan. Esta era Jiang Yanli: indiferente às questões da vida e da morte, negligente até mesmo com o destino de sua alma.

Santa DiabólicaWhere stories live. Discover now