Capítulo 08

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O grande gato branco estava boquiaberto, não pensou que de todos os gatos em seu clã, Coração de Gelo desenrolaria sentimentos pela ex-aprendiz a qual treinou e guiou seus passos pelo código do guerreiro. Analisando a situação, realmente não havia nada de errado na relação dos dois gatos, mas algo lhe dizia que isso não era tudo, ainda que não  soubesse explicar. Um silvo de indignação alertou os três gatos, logo Garra Rápida apareceu torcendo os lábios em um rosnado feroz enquanto encara os dois gatos.

— Folha de Macieira! Ele não é o gato certo para estar ao seu lado! — protestou o guerreiro preto e branco.

— Não cabe à você decidir quem é o gato certo para ela! — uivou o guerreiro branco furioso, eriçando os pelos e chicoteando a cauda na neve.

— E nem à você, Coração de Gelo — miou firme Estrela Valente, saindo de seu esconderijo calmamente.

Os três gatos lhe encararam com surpresa, então a guerreira marrom claro trotou em sua direção com os olhos arregalados de urgência.

— Estrela valente eu posso explicar! — miou Folha de Macieira em desespero, apenas para ser calada com o toque gentil do focinho do líder sobre sua testa.

— Acalme-se, não fez nada de errado — ronronou o grande gato branco, acolhendo a guerreira marrom claro para o seu lado, a envolvendo com a cauda, dirigindo seu olhar para os dois guerreiros — parecem dois filhotes disputando por uma bola de musgo! Pelo amor do Clã das Estrelas, parem de pressioná-la e deixem que ela tome a decisão por si mesma! —

Ambos os guerreiros estavam chocados, Garra Rápida abriu a boca para argumentar, mas a fechou novamente após pensar mais claramente. Coração de Gelo abaixou as orelhas ao notar que seu irmão estava certo, o quão longe havia ído para sufocar a gata que tanto amava, apenas para ser escolhido? Balançou a cabeça de um lado para o outro clareando seus pensamentos. Estrela Valente olhou para o lado e observou Folha de Macieira encarando o guerreiro branco com paixão e tristeza, a escolha era óbvia, mas ela deveria por um fim neste conflito o deixando claro para o guerreiro preto e branco.

Apenas siga seu coração, mesmo que um deles saia ferido, aprenderão com o tempo a lidar com isso — sussurrou o líder na orelha da guerreira marrom claro.

Folha de Macieira piscou agradecida para o grande gato branco, saindo do calor acolhedor de seu pelo e caminhando até Garra Rápida, ficando frente à frente com o mesmo.

— Garra Rápida eu...eu o amo, mas meu amor por Coração de Gelo é muito maior! Ele é o gato com o qual eu desejo compartilhar o resto de minha vida — miou a guerreira marrom claro gentil, porém havia tristeza em sua voz.

— Mas você nunca me deu uma chance! Oh Folha de Macieira, eu a amo tanto! — lamentou o guerreiro preto e branco.

Estrela Valente desviou seu olhar dos dois para Coração de Gelo, seu irmão os observava em silêncio, felicidade transbordava de seus olhos de cores mistas como jamais havia visto. O líder sabia que mesmo que o guerreiro branco fosse feroz e frio, tinha um bom coração, apesar de suas falhas. A guerreira marrom claro estava tocando o focinho na orelha de Garra Rápida, para então se sentar com Coração de Gelo, o deixando lhe acolher para seu pelo quente e lambidas cheias de amor. O guerreiro preto e branco se retirou cabisbaixo, arrastando a cauda na neve e então, sumindo entre a vegetação coberta de neve.

O grande gato branco decidiu se retirar, deixando seus dois guerreiros à sós, porém, dera de cara com Tornado em seu caminho de volta para a Caverna Pontiaguda. O guerreiro cinza escuro possuia algums arranhões já tratados nas costas e uma das orelhas rasgada enrolada em teia de aranha, mas o mais notável era seu olhar carregado de ressentimento e inveja. Estrela Valente não entendia, o que ele havia feito para Tornado? Nunca fizera nada para o Clã da Geada, muito menos para o guerreiro cinza escuro em particular.

— Você deve estar ansioso para voltar, huh? Por acaso pensa que sou cérebro de rato?? — rosnou Tornado eriçando os pelos de forma ameaçadora.

— Do que está falando? Sempre que me vê mantém esse olhar ardente sobre mim! O que quer de mim?! — perguntou o líder sem paciência, já estava ficando irritado com tanta raiva direcionada a si.

— Quero que fique longe de meu clã! E dela também! Ou revelarei seu segredo! — silvou o guerreiro cinza escuro, disparando para seu território.

O grande gato branco não entendera uma palavra, não importa o quanto refletisse sobre, apenas voltou para seus companheiros para que pudessem voltar ao acampamento. Estrela Bela e Estrela Valente se despediam na fronteira entre seus clãs, faltando poucos momentos para o sol se erguer e anunciar um novo amanhecer, guerreiros feridos e quase ilesos se encaravam não com hostilidade, mas com gratidão por lutarem lado à lado como um clã contra as raposas que ameaçavam toda a floresta.

— O Clã da Geada jamais se esquecerá dessa batalha Estrela Valente — miou a jovem líder com os olhos brilhantes de determinação.

— Meu clã tampouco, sem sua força jamais seríamos capazes de combater as raposas — miou o líder em agradecimento.

Os dois grupos de gatos retornaram para seus territórios, caminhando para a segurança de seus acampamentos e o calor de seus ninhos, podendo saborear com calma a grande vitória que alcançaram. O grande gato branco se banhava sobre o calor do sol na clareira ao lado de sua companheira, Pelo de Sol, tendo seus quatro filhotes  brincando entre si.

— Tome isso raposa fedorenta! — guinchou Filhote de Mel ao saltar sobre Filhote de leão, rolando com o irmão pela neve fofa.

— Não é justo! Eu não estava pronto! — protestou o filhote malhado dourado entre miados de animação.

— Pegue! — miou Filhote de Prata alegre ao bater na bola de musgo com a patinha em direção ao filhote manchado.

O filhote preto e manchado rebateu com a patinha um pouco forte, lançando a bola de musgo sobre o focinho de Estrela Valente. Os filhotes olhavam para seu pai chocados, mas para a surpresa do filhote manchado que se encolhia assustado, como se esperasse uma bronca, o líder apenas fez uma careta engraçada e ficou mole sobre o chão.

— Ele derrotou a grande raposa! — miou o filhote dourado brilhante, disparando em direção ao seu pai, subindo em sua cabeça e uivando triunfante. — os guerreiros derrotam as raposas outra vez! —

— Que guerreiros tão fortes! — brincou a rainha ronronando alto em diversão, ver seus filhotes brincando com o pai era a felicidade de toda mãe.

— Pai! A gente sabe que não morreu! — miou o filhote dourado malhado, dando pequenos golpes no enorme focinho do grande gato branco.

Filhote de Prata e o filhote preto e manchado correram animados para se amontoar sobre o pai, subindo em suas costas e mordendo seu pelo branco e macio. O grande gato branco apreciava aquele momento com todo o seu coração, a paz e tranquilidade que tanto desejava havia chegado, seus filhotes poderiam se tornar aprendizes sem a sombra das raposas perambulando pela floresta. Então a profecia do Clã das Estrelas e a de Luz la Lua invadiram seus pensamentos, o forçando a se lembrar da importância que as palavras carregavam, mas se recusou fortemente a pensar sobre neste momento.

Gatos Guerreiros: Outono VermelhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora