Insolúvel

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Prólogo


Ele descobriu que o breu que lhe atingia por dentro, pontiagudo, áspero e escaldante, nada mais era do que os ruídos de uma mente incompreendida e perseguida pela suposta justiça moral dos hipócritas. Adolescentes... culpados, culpabilizados por uma nova tragédia. Ou seria a desculpa sórdida do pacóvio jogar às traças a causalidade que nada mais era do que sua vontade?

As friagens de um futuro destruído se abriam amigáveis, espessas e enevoadas, abraçando o corpo dormente do doente que mal se movia na iluminação tênue do fim da madrugada, contemplando no átimo a vítima largada no carpete com a língua para fora.

Monstro.

Assassino.

Miserável, covarde. O ar de seus pulmões não mais saem. Agora o que lhe resta é nada mais do que contemplar o vazio, espectro humano cinzento mirando no teto, lábios ressecados e entreabertos, um rosto arroxeado - ou seria azul? - como se fosse explodir. Mas espere, já explodiu. Explodira na morte, quando foi ceifado de uma curta vida de regalias.

Suas mãos avermelhadas estremeceram, as narinas se abriram e as pupilas de James se dilataram, uma contemplação sórdida de um trabalho imprevisível e imperfeito.

Louco.

Não era o seu objetivo.

Você não queria matá-lo de verdade. Queria?

— Me responde, droga! — Sacudiu o seu corpo uma Eleanor ensanguentada. Trêmula, reprimia amargamente as lágrimas de um futuro intransponível. — V-você não queria matá-lo de verdade. Você não teve a intenção, não é?

Os olhos azuis vívidos miraram na adolescente ansiosa, pronto para responder.

Desconfortável era a agitação latente da infortunada pirralha que sentava-se na sala escura. A mesa refletia as poucas luzes presentes no ambiente opressivo e fosco, uma representação descarada de sua situação desesperançosa. O embaraço de um fracasso. Ela sabia que estava sendo observada.

Do lado de fora, repórteres se empurravam, gritavam e se amontoavam um em cima dos outros, fantasiando quase que eroticamente uma entrevista ou uma simples notícia sobre os criminosos que haviam sido levados pelas autoridades. Até se Eleanor tivesse bebido um copo de água. Qualquer matéria estúpida sobre: "O caso Eleanor Waldorf e Isaac James Harden: Ela não gosta da água da polícia, o que isso nos mostra?" E a queda íngreme do jornalismo. Estampado em todos os jornais, bancas, em notícias relâmpagos, em papéis impressos e largados em terminais de trem, de ônibus, faculdades, aeroportos a destruição da vida de dois adolescentes crescia numa espiral descendente, fotos simples e cruas. Entregues pela escola, tiradas em um momento de fragilidade e paz, não pareciam ser capazes das atrocidades pelas quais estavam sendo acusados. O rosto levemente sorridente de Eleanor figurava-se no anuário escolar em preto e branco, com um suéter azul de longas mangas que cobria o pescoço e cabelos lisos puxados para trás, a típica ninfa desejada de ensino médio; levava a crer ser muito burra para se envolver em algo assim ou bonita demais para atrair pessoas bondosas. O de James Harden era quase sádico, uma camiseta velha de Nine Inch Nails em amarelo no peito, de emoções imprecisas com orbes vítreas que minucia como quem conhece, possuía ossos largos e olhos centrados, a harmonia perfeita. Transportava-se assustadoramente da imagem.

O que seria Eleanor, o que ela teria haver com tudo isso? Diziam que era órfã de pai e mãe e que passara três anos de vida em um internato de baixa qualidade, e que após uma inspeção sanitária o internato foi processado por abuso e negligência infantil. Diziam que a cozinha possuía mofo e os inspetores eram todos um bando de narcisistas.

𝗳𝗿𝗮𝗴𝗺𝗲𝗻𝘁𝗮𝗱𝗼𝘀Место, где живут истории. Откройте их для себя