3 - Uma nova conhecida.

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Conterrânea do infortúnio em seu átimo, desenlaçou da consciência brevemente qualquer descontrole. Em situações de pânico e sobressalto, com outros meros mortais de idade aproximada e gênios malditos, enredou as duas mãos juntas na frente do corpo erguendo elegante o rosto como se por dentro não estivesse em caos. As orbes azuis levemente cobertas por rímel moviam-se pelo rosto bronzeado do loiro lastimável. Isso era terrível. Mortificantemente, não sentia-se superior a alguém que normalmente designaria como primata. Havia pertinácia no olhar degustativo e cheio de malícia, desceu a fixação até os antebraços descobertos pela manga levantada até os cotovelos do intimidador que as cruzava sobre o peito atlético. Houve uma porcentagem mínima do que seria um sorriso adornando o seu rosto, ainda analisando o comportamento robótico de quem não sabia o que estava fazendo ali.

— ... Você fala? — Eleanor estremeceu um pouco diante de seu tom de zombaria. Manteve o rosto erguido sem dizer uma palavra. O jovem virou-se para os lados como se aguardasse por uma luz de compreensão. — Não? Eu conheço o seu tipo.

Talvez fosse o medo - o era com toda a certeza, mas Waldorf precisou olhar para o que aparentava lucidez no mar de tormenta, o de cabelos escuros no canto que lhe analisava minuciosamente - existia uma raiva moderada no semblante traumatizado, tentava ignorar os passos lentos e a diminuição da distância entre o pedante de um metro e oitenta e alguma coisa; percebeu isso, pois era acima da média ela própria e ainda sim lhe parecia aterrador.

— Jeffrey me contou sobre você.

Desgraçado. Estava olhando para ele agora, sua atenção comedida. Estava perto, intimidadoramente, lhe usurpando o espaço pessoal. Por que não conseguiu se afastar? não pôde mover um músculo. Sequer sentia o próprio corpo.

— Disse que não é de falar muito. — A pele da pobre coitada esquentou quando os dedos grandes moveram mechas alaranjadas para trás da orelha rubicunda, o divertimento dava face para simpatia falsificada. A loira que o acompanhava revirou os olhos, farta de presenciar situações semelhantes. — Houve uma certa... tragédia familiar.

Por quê se importa?

Por quê

Por quê se importa?

Os sussurros ficaram cada vez mais altos, as mãos de unhas prateadas se fecharam com força. Ela desviou momentaneamente as córneas das dele para respirar fundo e piscar princípios de lágrimas teimosas para longe. Não perderia o controle para um desconhecido. Ele não sabia de nada, qualquer coisa poderia ser uma tragédia familiar. Ora...

Sangue de carmesim nas paredes. E carne moída pelo chão. Poças que ruíam aos passos e espalhavam-se pelas solas dos pés em atrito com o assoalho.

O que você quer? — A voz saiu rouca e baixa pelo desuso e os lábios de gloss desgrudaram visivelmente no cansaço e lentidão de ter de lidar com tal indivíduo de índole duvidosa. Esther fungou mais um pouco com o sorriso largo que se abriu no rosto sádico, isso foi depois de notar que ele havia mostrado uma leve surpresa por conseguir ouvir finalmente sua voz.

— O que te faz pensar que quero alguma coisa?

Se afaste.

Seu bafo está próximo, precisa de ar. De lucidez.

— A não ser, é claro, que você queira que eu te peça alguma coisa para acabar com o seu tormento. — afaste-se! — O que acha que eu poderia querer?

Eu não sei. — E novamente, a voz apressada de quem controla para não demonstrar nervosismo. Alguém que respirava com tanta velocidade que o corpo tremia, se não tomasse cuidado induziria taquicardia em si mesma. Ele sentiu pena, mas além disso, sentiu prazer. E descobriu que havia muito divertimento em alguém como Eleanor, muita dor e sofrimento para ser explorado na bela casca de frieza invernal.

𝗳𝗿𝗮𝗴𝗺𝗲𝗻𝘁𝗮𝗱𝗼𝘀Where stories live. Discover now