2 - No inferno, todos são iguais.

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A próxima manhã chegou, o céu rosáceo-alaranjado vibrou por entre as cortinas do quarto classudo. Eram diferentes, os sentimentos implacáveis de incertezas quanto ao seu futuro; já que agora a possibilitaram um. Divergia grandemente de acordar junto de mais vinte garotas, tomar banho no mesmo banheiro e comer na mesma mesa da cantina, receitas para cada dia da semana. Eleanor não confiava nas cozinheiras, apostava que cuspiam na comida para descontar o desgosto daquelas criaturas cruéis que eram os adolescentes. Seres humanos são capazes de coisas terríveis quando não se tem nada a perder, principalmente quando se está com medo. O medo os devora.

Ao descer as escadas após vestir-se de uma blusa social, suéter de cor mostarda cobrindo os braços menos a gola, saia social preta dois dedos acima do joelho, compeliu-a o aroma de ovos mexidos fritos em legumes frescos no cômodo de luz tênue e natural à sua direita, do outro lado de onde a escada resignava. No orfanato, se acostumou com roupas sociais que lhe dessem um pouco de dignidade e classe - os instrutores diziam que era o que restava para gentalhas órfãs e doidas. Ah, como se agradou de poder comer algo além das pastas e sopas de gosto ferroso.

Gertrudes movia-se à um instrumental animado da década de sessenta no toca fitas, um sorriso amistoso contornando o belo rosto. Estava na faixa dos quarenta anos, não era uma mãe idosa.

Enquanto isso, tanto Jeffrey quanto Moira sossegavam ritualísticos na mesa de madeira escura; um tecido xadrez, no entanto, cobria-a abaixo dos pratos e talheres. Os dois olharam para a pálida de cabelos castanhos claros quieta na soleira da porta. Jeffrey possuía uma feição indiferente, compreensível, algo que Waldorf agradeceu por não precisar se preocupar tanto com sociabilidade ou hostilidade provindas dele. Era bom não precisar falar ou fingir com alguém que não está nem aí para você.

— Sente-se, Ellis! — Moira sorriu amigável. Dando batidas leves em uma das cadeiras vazias. O loiro olhou para a irmã com desprezo. — Sempre que quiser você pode usar as minhas roupas, sabe?

A menina levantou as sobrancelhas inocentemente.

— Algo de errado com as minhas roupas? — disse, acomodando-se. Instintivos, os orbes azuis voaram até o loiro ao lado da irmã, um sorriso capcioso exibia-se no rosto masculino enquanto garfava pelo prato costumeiro de café da manhã.

— Não! Nada de errado. — Moira olhou preocupada para o sarcasmo quieto do irmão, que encontrou humor na civilidade exagerada da adotada. — Só que, você pode usar coisas mais normais.

Atenta ao que se tratava a interação, a mulher adulta de jeans despojados se dirigiu a mesa, movendo da frigideira as panquecas até o prato de tamanho maior, ao centro.

— Bem, bem. Por que não deixa Eleanor comer primeiro, ela decidirá o que vai ou não usar.

— Eu agradeço, Moira. Normal você quer dizer Jeans?

— Não. Eu quero dizer... qualquer coisa na verdade. É só que você parece sair de um filme dos anos cinquenta. — Jeffrey imediatamente deu uma réplica, com as mãos ao vento e simplicidade presunçosa, como quem constata fatos sem abreviações, puros em sua crueldade e, por vezes, ignorância do que somente se ouviu dizer.

— Ela é de Tanner Hall. Sabe onde fica isso? É um universo paralelo. — Lambejou entre os dentes pedaços de couve, se dirigindo pela primeira vez para a criatura rara que os observava estudando os seus comportamentos. — O que fizeram com você lá?

Pensou que pudesse estar lhe tripudiando.

Que quer dizer?

O rapaz arqueou as sobrancelhas claras, querendo dizer que era uma pergunta de fácil compreensão e que se fazia de tola.

𝗳𝗿𝗮𝗴𝗺𝗲𝗻𝘁𝗮𝗱𝗼𝘀Onde as histórias ganham vida. Descobre agora