Parecia amor.

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Magnus

Magnus foi para a cama e estava exausto, mas era impossível dormir. 

Ele não conseguia parar seus pensamentos acelerados. Não importava o que ele fizesse, as palavras de Atena continuavam rastejando de volta em sua cabeça. 

"Eles ainda podem estar morando com seu agressor, como Magnus estava."

Como Magnus.

Havia dezenas, talvez até centenas de crianças que eram exatamente como ele, vítimas do pior tipo de abuso. 

Do tipo que mancha a vida inteira de uma pessoa, mesmo quando ela não se lembra. Como era a vida dessas crianças? Eles tiveram a sorte de esquecer também? Eles viveram tempo suficiente para falar sobre isso? Eles estavam em uma espiral como Magnus estava antes de conhecer Alexander?

Atena estava certa. 

Eles precisavam encontrar essas crianças e, de alguma forma, garantir que recebessem algum tipo de ajuda ou, pelo menos, justiça. 

Se Magnus soubesse que Asmodeus não era seu pai, mas seu agressor – se ele se lembrasse do abuso e da tortura que sofreu antes –  ele teria agradecido a Alexander por ter matado o homem. 

Mesmo se um orfanato fosse uma droga. Mesmo que ele tenha passado anos vivendo em um estado constante de incerteza. A morte de Asmodeus valeu a pena.

Magnus não conseguia imaginar um mundo com Asmodeus ainda nele e sentia uma onda de alívio cada vez que se lembrava que o homem estava morto. 

Ele esfregou as mãos no rosto. 

E se o disco rígido fragmentado não mostrasse nada? Eles só conseguiram metade dele, no máximo. Magnus não sabia nada sobre computadores, mas sabia que ter toda a unidade tinha que ser melhor do que a metade.

Magnus se sentou, jogando fora as cobertas. Ele poderia ir buscá-lo. Ele ainda tinha a chave. Ele poderia entrar e sair sem que Valentim soubesse que ele estivera lá. Então Atena teria toda a unidade, não apenas peças do quebra-cabeça.

Tão rapidamente quanto a inspiração chegou, ela evaporou, desapontamento substituindo sua empolgação. 

Mesmo que pudesse chegar à casa de Valentim, ele não sabia nada sobre clonagem de discos rígidos ou qualquer outra tecnologia fora do celular. Alexander cuidava dessa parte. Ele nem mesmo entendia completamente o que era clonagem, mas presumiu que era como tirar uma fotocópia.

Magnus enrubesceu com sua própria estupidez. 

Ele não precisava de uma fotocópia. Valentim já estava atrás deles. Magnus só precisava do original. Ele poderia levar o laptop.

Não havia nenhuma maneira de Valentim não estar juntando tudo, mesmo se ele não tivesse instalado as câmeras na unidade de armazenamento. Magnus não precisava mais ser cuidadoso, e até ele poderia roubar a porra de um laptop. Porra, ele roubou a mochila de Valentim bem debaixo de seu nariz.

Se ele pegasse o laptop, Atena teoricamente teria tudo. Mesmo se os nomes dos meninos não estivessem lá, deveria haver algo para ajudá-los a desvendar essa porra de confusão de vítima e agressor. 

Ele respirou fundo e soltou o ar, assim como Atena tinha feito antes. 

Ele estava fazendo isso. Mesmo que fosse uma má ideia. Mesmo que fosse a pior ideia de todas. Essas crianças mereciam algum tipo de justiça.

Talvez (Malec)Where stories live. Discover now