Charlie para seus anjos

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Alexander

No momento em que Alec empurrou as portas de volta abertas, todos os seus músculos doíam, seus ouvidos zumbiam por causa do tiroteio e todos os sete estavam pingando sangue. 

Felizmente, a maior parte não era deles. 

Como se suspeitava, nenhum daqueles homens conseguiu resistir muito. Eles estavam muito ocupados tentando entender o que estava acontecendo. 

Os poucos que estavam armados tremiam tanto que nem tiveram tempo de disparar. Foi literalmente como atirar em peixes em um barril. Ou eviscerar peixes em um barril se você fosse Jace ou os gêmeos.

Assim que Magnus os viu, ele largou a arma que estava apontando para a entrada e saltou nos braços de Alec como se fosse o fim de um filme romântico. Alec riu enquanto Magnus se agarrava a ele, braços e pernas envolvendo seu corpo.

— Eu não pensei que você fosse voltar. Achei que vocês estivessem todos mortos. – disse ele enquanto Alec o colocava de pé, o olhar fixo em Will, que balançava a cabeça em uma batida que só ele ouvia, olhos fechados como se estivesse participando do culto de domingo de manhã e ele tivesse pegado o espírito Santo. – Bem, talvez não Will. Mas eu pensei que o resto de vocês não voltariam. Eu não sabia o que fazer. Você tem ideia de quanto tempo estiveram ali?

Jace ergueu uma sobrancelha ensanguentada. 

— Você tem ideia de quanto trabalho dá para matar vinte homens? Eu diria que merecemos uma medalha de ouro por nosso trabalho hoje.

Magnus franziu a testa, mas Alec não o deixou ser pego pelo mau humor perpétuo de Jace. 

— Estamos bem. Está tudo bem. Mas temos que encontrar um isqueiro. O incêndio ainda precisa acontecer, de alguma forma, ou nossa próxima reunião de família será em nosso julgamento de assassinato.

Simon suspirou, olhando para suas mãos respingadas de sangue. 

— Quando Magnus vai cuidar do pedófilo na minha bagageira? Se ele ainda não morreu de insolação, claro. Ele precisa estar lá quando incendiarmos o lugar. No momento, todos os caminhos levam a Valentim sendo o culpado. Seu telefone. Seus associados. No mínimo, isso vai nos dar algum tempo.

A língua de Magnus disparou sobre seu lábio inferior. 

— Agora. Vamos fazer isso agora. Simon está certo. Precisa ser aqui. Eu quero que ele veja o que aconteceu com os outros.

Sebastian e Jonathan pareciam querer dar tapas um no outro. 

— Nós vamos buscá-lo.

Magnus não respondeu, então eles apenas se afastaram na direção do carro de Simon. Alec pegou sua mão e o conduziu ao redor da lateral da cabana onde eles poderiam ficar sozinhos. 

Ele segurou o seu rosto, o sangue manchando as belas bochechas de Magnus. 

— Eu posso fazer isso por você. Eu não dou a mínima para o que os outros dizem. Você já faz parte desta família. Você não precisa matar Valentim para provar isso.

Magnus encontrou seu olhar. 

— Eu quero fazer isso. Ele fez por merecer isso por anos. Só estou triste que as outras crianças que ele machucou não vão ter sua vez com ele. Não está certo.

— Talvez seja o suficiente apenas saberem que ele está morto. – disse Alec, beijando a testa de Magnus.

— Não é. Mesmo que suas vítimas saibam que eles estão mortos, o mundo nunca acreditará que eles foram monstros. A menos que mostremos a eles.

— Nós sabíamos disso, Magnus.

Lágrimas brotaram dos olhos de Magnus, mas ele as piscou, parecendo irritado com a repentina demonstração de emoção. 

— Sim, mas eu não quero esses filhos da puta morrendo como heróis... ou mártires. O mundo precisa saber o que eles fizeram. Eles precisam ver quem eles realmente eram.

— Significando o quê, exatamente? – Alec perguntou, já sabendo a resposta.

— Quero que Atena entregue o que descobrimos à polícia. Ela pode enviar anonimamente. Através da internet. Quero que suas vítimas vejam que não estão mais em perigo e saibam que as pessoas acreditarão nelas quando contarem suas histórias.

Alec refletiu sobre isso. Magnus tinha razão. Nenhum desses homens deveria morrer com sua reputação intacta. 

Além disso, eles não mataram todos eles, apenas os jogadores principais. Tantos outros participaram ou foram, pelo menos, cúmplices. Todos eles deveriam cair por isso. 

Alec preferia que eles caíssem com uma bala na cabeça, mas se Magnus queria que eles fossem expostos ao mundo, que fosse.

— Ok. Se é isso que você quer, nós faremos isso.

— Seu pai não vai gostar...

Alec encolheu os ombros. 

— Meu pai também não gostou desse plano. Mas ele respeitou sua decisão.

Magnus mordeu o lábio por um minuto antes de falar.

— Porquê isso? Ele nem me conhece. Não tenho nenhum treinamento, nenhuma experiência. Isso quase explodiu na nossa cara. Por que ele simplesmente me deixou dar as cartas assim?

Essa era uma boa pergunta, mas era uma que Alec suspeitava que ele poderia responder. 

— Sabe, sempre me perguntei o que aconteceria com a gente se meu pai morresse. Simon acha que ele apenas assumiria a chefia da família, mas isso seria muito parecido com os presidiários assumirem o manicômio, sabe? Por mais que ele tente fingir que é o sensato, é tudo uma atuação. Você coloca uma arma na mão dele e ele é tão letal quanto o resto de nós. Talvez mais.

Magnus franziu a testa. 

— Ok?

— E eu acho que meu pai vê muito de si mesmo em você. Acho que ele está vendo se você é... válido.

— Válido? O que você quer dizer?

— Quer dizer, acho que ele quer que você assuma o trabalho dele algum dia.

Se possível, Magnus pareceu franzir a testa ainda mais. 

— Como... assumir o controle na hora de decidir o destino dos criminosos? Quem vive? Quem morre? Ele quer que eu seja o Charlie para seus anjos?

Alec deu uma risadinha. 

— Não acho que nenhum de nós se qualifique como anjos.

— Como seu pai pode ter tanta certeza sobre mim depois de apenas algumas semanas? –  Magnus perguntou, perplexo.

Alec riu, envolvendo os braços ao redor dele. 

— Que escolha ele tem? Que escolha qualquer algum deles tem? Eles sabem que eu nunca deixaria você ir.

— Que você me amarraria ao radiador se eu tentasse ir embora... – disse Magnus, a voz abafada contra a camisa encharcada de suor e sangue de Alec.

— Eu prefiro a cama, eu acho. – disse Alec, beijando o topo da cabeça de Magnus.

Simon dobrou a esquina, parecendo irritado por pegar os dois em um abraço. 

— Se comam mais tarde, por favor. Will encontrou alguns fósforos em seu porta-malas, então vamos matar esse cara de uma vez. Eu tenho que comparecer a um jantar para uma das instituições de caridade do papai esta noite.

Alec revirou os olhos antes de olhar para Magnus. 

— Está pronto?

Magnus assentiu, respirando fundo e soltando o ar. 

— Sim. Vamos fazer isso.

Talvez (Malec)Onde histórias criam vida. Descubra agora