Ai de mim se fosse apenas uma corda de guitarra || Mamonas Assassínas

Cap 35= Aceitação

{ Esse capítulo pode conter gatilho para algumas pessoas }

Se puderem, escutem a música enquanto lêem🦋

02.11.1990, Porto Alegre

Aurora

Talvez o sentido da vida tenha mudado, assim como meu brilho.
Se eu pudesse escolher, nunca em toda minha vida eu te daria flores como seu último presente... Porém vejo, que esse será seu presente por anos;
Presente de aniversário, dias dos pais e o mais doloroso, dia dos finados.
Me sinto culpada pois não te dei o orgulho de pai que você merecia;
Não fui a filha boa;
Não fiz a tão sonhada faculdade de administração que o senhor sonhou que um dia eu faria;
O senhor não tem noção da falta que você me faz...
Eu não sabia o quanto eu era necessitada da sua voz, sua risada, seu carinho... Eu não sabia que o senhor fazia tanta falta pai.
Mas... Talvez tenha sido tão difícil pra você, assim como foi pra mim;
Eu sei que a única coisa que o senhor não queria, era nos deixar dessa maneira, porém... acidentes acontecem, e infelizmente eu preciso aceitar...
Por favor cuide de mim e da mamãe aí de cima, você sempre será o meu querido papai Zezé.

...

- Como tá sua mãe? Ela ta bem? - Perguntou-me Sérgio pelo telefone.

- Ela tá mais ou menos... Ela não sai da cama, minhas tias que estão tomando conta dela.

- Como foi aí? Ela foi com você?

- Não, eu vim no cemitério sozinha... Eu não ia vir na verdade, porém, ele merece flores...

- Oh meu bem...

- Não se preocupa, eu tô bem - disse sorrindo fraco - Eu tô voltando hoje ainda.

- Não vai ficar com a sua mãe?

- Ela vai ficar um tempinho aqui com minhas tias e minha avó - Saí em direção ao ponto de ônibus mais próximo - E eu preciso trabalhar, até porque os boletos não se pagam sozinhos.

- Me avisa quando chegar que eu te busco no aeroporto meu bem.

- Pode deixar que eu aviso!

- Até mais tarde minha princesa, te amo!

- Até meu lindão! - O mesmo soltou uma risada fraca e desligou o telefone.

- Só você pra me fazer sorrir em um momento desse meu baterista - Pensei alto.

Voltei para a casa de minha avó, preciso pegar minhas coisas até porque meu voo estava marcado para as cinco da tarde, e já se passavam das uma e quinze.

- Oi vó! - Cumprimentei a senhora que estava sentada no sofá da sala - Bença!

- Deus te abençoe minha neta!

- E a mãe como tá? - perguntei enquanto me servia um copo de suco natural.

- Tá lá em cima, nem tocou na comida - disse minha tia descendo a pequena escada da casa de minha vó - Como foi lá?

- Oi tia! - disse sorrindo para a mesma - E respondendo sua pergunta, foi... Normal? Eu não sei, é estranho pra mim ainda.

- Eu entendo - Minha vó me olhou reconfortante - Vai ficar pro café? A vovó vai fazer o bolinho de laranja que tu gosta! - disse sorrindo reconfortante.

- Infelizmente eu tenho que sair cedo, o voo tá marcado para às cinco da tarde, só vim pegar minhas coisas e dar tchau pra vocês! Mas obrigada vovó! - Dei um beijo na testa da mesma - Eu vou lá em cima falar com a mãe e arrumar minhas coisas tá?

- Tá bom minha neta! - disse a mais velha.

Subi para o andar de cima, em direção ao quarto em que minha mãe estava. Quando adentrei, a mesma estava em pé olhando o céu pela janela.

- Oi mãe! Tudo bem? - Fui para mais perto da mesma.

- O céu está tão bonito não acha? Seu pai é realmente um arraso...

Fiquei em silêncio, não consegui dizer nada, até porque nada pode comparar a dor dela com a minha.

- Sua vó disse que vai fazer bolo pro café.

- Ela me disse - comecei arrumar minhas coisas - Mas eu volto pra Guarulhos ainda hoje.

- Achei que iria ficar...

- Bem que eu queria mas, tem o meu trabalho e a banda.

- Eu não quero que volte!

- Como?

- Decidi que vamos voltar para nossa antiga casa aqui em Porto Alegre.

- Como assim vamos? E a nossa vida em Guarulhos fica como? - perguntei surpresa.

- Sem seu pai, Guarulhos não faz mais sentido! Fomos para lá por causa dele, e agora voltaremos para Porto Alegre por causa dele!

- Eu me nego! - a mesma me encarou incrédula - Minha vida toda está em Guarulhos! Meu emprego, meu amigos e a banda!

- Emprego você arruma outro! Amigos? Você tem os daqui! E essa banda não vai dar em nada mesmo então encerra esse assunto! Vamos voltar e está decidido. - Eu não acredito que ela disse isso.

Eu sei que ela não está no seu normal, a morte de meu pai a abalou tanto, que ela se afundou em um enorme mar de tristeza... Ela não estava no seu cem porcento.

Para evitar qualquer confusão, apenas escutei tudo em silêncio.

- Eu preciso voltar filha... - A mesma começou a chorar - Eu preciso ficar perto do José! Minha vida sem ele não faz sentido, então por favor volta junto comigo! Você é a preciosidade que ele me deixou! Eu não quero ficar longe de você! - Senti meus olhos marejados.

- Desculpa, mas eu não posso!

Tentando controlar as lágrimas, voltei a guardar minhas coisas sem dizer uma única palavra.
Eu entendo totalmente o lado dela, e não a julgo. Porém eu não quero ter que largar tudo!
Eu não posso deixar a morte de meu pai, por mais dolorosa que ela seje, me afetar!
Aconteceu, e por mais que eu queira, eu não posso mudar nada!
Posso estar sendo incencível, porém não posso me deixar afundar, ele mesmo não iria querer me ver sofrendo e me deixando levar pela depressão.

A única coisa que eu devo fazer, é erguer minha cabeça e viver intensamente assim como ele viveu.

- Eu acho que é isso... - Coloquei minha mochila nas costas - Eu tô indo - Fui em direção a minha mãe que ainda estava na janela - Eu te amo, se quiser pegar suas coisas lá em casa, me avisa que eu empacoto pra você! - dei um abraço forte na mesma que não retribuiu - E se quiser que eu saia de lá, me avisa que eu saio o quanto antes e procuro um apartamento pra mim e...

- Eu te amo! - Retribuiu o abraço - Não se preocupa, pode ficar lá! É o seu desejo - Senti tristeza no seu tom de voz - E pode deixar que um hora eu vou buscar minhas coisas... Só fica bem... Promete pra mamãe!

- Eu prometo... - Me deu um beijo na testa.

- Agora vai! Você tem um voo marcado! Vai logo - Ela sorriu.

- A senhora não vai descer?

- Não... Eu não quero ter que me despedir, não de você... - Senti o peso em sua fala.

- Eu volto...

- Assim espero.

Opa tudo bom? 🐧
Mais um capítulo quentinho pra vcs, ulaaa 🧡🧡🧡🧡🧡🧡
Espero que gostem, é simples mas é de coração 💗💗💗💗
E aí? concordam com o ponto de vista da Aurora? 🧐🧐
Deixem a estrelinha se quiserem 💫
Obrigada por tudo 💜💜💜
Até a próxima 💛💛💛
( Esse cap pode conter erros ortográficos )
Hoje completamos 2meses de fic 🎉🎉

- Beijos Hortiga 🍀🍀