Cap 41= Outra Garota

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1991, Guarulhos

Aurora

Tchau Aurorinha! — Dinho gritava pela janela do carro, se é que podia chamar aquela lata velha de carro.

— Dinhozinho... Tchau... — Meu tom de voz arrastado demonstrava meu estado, podre de bêbada.

— Cala boca e entra mulher! — Bento, sempre o Bento.

Bento, o único mais ou menos sóbrio, fez questão de me acompanhar até em casa. Até porque no estado que eu estava, era fácil eu esquecer meu nome. Dinho por outro lado, que insistiu em vir junto, estava pior que eu.

— Não... Eu sei... me cuidar sozinha! — Resmungava como uma adolescente.

— Eu tô vendo que sabe... — O japonês procurou a chave em minha bolsa e já foi logo abrindo a porta — Vem entra.

— Não... — Me joguei no chão, em protesto contra ele. Quem ele pensa que é?

— Levanta Aurora!

— Bento...

— Vamos meu bem já tá tarde... — Como é que é?

— Meu bem é o caralho! — Resmunguei levantando do chão...

— Como preferir — O guitarrista me empurra pra dentro de casa enquanto acena para Dinho e seu pai, que concordou em trazer a gente, já que para nós três, dirigir não era uma opção — Vem, é melhor você deitar... — Ele coloca meus braço esquerdo em seu ombro e me leva até meu quarto me jogando sobre a cama — Dorme aí!

Sinto o conforto do colchão, meus olhos pesando devido o sono que se aproxima.

— Sem tomar banho? — Pergunto sonolenta.

— Quer que eu prepare seu Nescau quentinho também? — Debochou de mim.

Mostro o dedo do meio para ele, babaca.

— Meus pés doem — Tento tirar meus tênis falhando miseravelmente, ouvindo o bufar do japonês.

— Eu te ajudo vem cá... — Ele desamarra meus tênis, me deixando apenas com as meias. Sinto ele jogar uma mantinha sobre mim, "hora do soninho" alertou meu cérebro bêbado.

— Você vai dormir também? — Perguntei sonolenta.

— Não, mas você vai! Dorme logo... — Vejo de relance ele sair e fechar a porta atrás de si.

— Bentooooo! — Grito assim que ele sai.

— 'Quié? — Ele volta resmungando.

— Obrigada... você é meu favorito...

— 'Cê tá bêbada, Aurora...

— Eu tô falando sério, muito obrigada... — Sinto o sono me consumir.

— Tudo bem... Eu sei — Vejo ele fechar a porta e me entrego ao sono.

Bento

Espero algum tempo para me certificar de que ela adormeceu, afinal ela passou a madrugada na rua, essa maluca.
Depois de uma hora, abro a porta de seu quarto vendo que ela está realmente adormecida.

Após verificar, pego o telefone que estava na mesinha da sala, e ligo para Samuel, a fim de avisar sobre Aurora.

Após três toques ele atende.

— Alô! — Ele parecia meio eufórico.

— Samuel, é o Bento!

— Bento! — Ouço um suspiro do mesmo — Oi... Alguma notícia da Aurora?

— Ela tá bem, voltou pra casa... — Olho para o quarto da mesma — Eu trouxe ela pra casa.

— Nossa... Graças a Deus! Onde essa doida 'tava? — Escuto uma porta sendo aberta rapidamente no outro lado da linha.

— Não achei ela em lugar nenhum... Ela não poderia ter ido tão longe... — Escutei uma voz cansada no fundo, era Sérgio.

— Ela voltou pra casa! Ela tá bem, o Bento ta na linha, e disse que encontrou ela! — Samuel aparentemente estava feliz e aliviado. Sérgio por outro lado parecia ressentido, mas não posso ter certeza através de um telefonema — Bento, ela tá bem? Como ela tá? — Era Sérgio.

— Ela tá ótima — Era notável o tom irônico na minha voz.

— A gente pode ir vê-la? — Samuel parecida preocupado.

— Talvez amanhã. Deixem a menina descansar.

— Acho que Sérgio deveria falar com ela... Isso foi tudo um mal entendido, talvez vocês dois se resolvam, não? — Pobre Samuel — Talvez se o Sérgio e ela conversarem...

— Não vai ter nada de conversa, tá legal? Amanhã quando ela estiver melhor ela decide se quer ou não ver vocês, agora se me permitirem... — Sou interrompido por uma voz meramente exaltada.

— Desde quando você decide as coisas por ela, ein? — Era Sérgio — Qual é a tua Bento? Tá me proibindo de ver minha própria namorada?

— Tô te proibindo de fazer merda de novo, seu babaca! Para de fingir que se importa! — Eu estava enojado, como ele podia fingir que nada tinha acontecido — Se quer ver sua namorada, vai atrás da sua outra garota, e deixe a Aurora em paz!

A mesinha estremeceu quando eu desliguei o telefone. Cara que merda tava acontecendo.
Eu tava bêbado, não muito mas estava.

Será que eu a acordei?
Não vou arriscar abrir aquela porta.
Será que eu me exaltei demais?
A resposta era óbvia.

— Devo ir embora? — Pensei alto.

— Você deveria ir dormir... — A porta entre aberta mostrava o rosto amassado da minha parceira de banda.

— E você já deveria estar no "quinto" sono, assombração... — Escutei seu riso suavemente — Você escutou? — Me referia ao telefonema de agora pouco.

— Escutei... Acordei com você conversando — Ela veio em minha direção e sentou ao meu lado no sofá, com uma boa distância entre nós dois — Obrigada... — Me surpreendi com seu agradecimento — Eu realmente não queria ver ele hoje... Talvez o Samuel, mas ele não. — Sabia que ela estava se referindo a Sérgio.

— Talvez eu deva ir, você já está um pouco melhor... — Disse me levantando.

— Obrigada pelo "um pouco melhor" — deu um sorriso fraco. — Por mais que eu não me importo nem um pouco se você quiser ficar.

— É melhor evitar a fadiga. — Abri a porta da frente, vendo a garota se levantar pronta pra me acompanhar — E você fica, não precisa me acompanhar. Vai tomar um banho e tirar esse cheiro de cachaça de você! — alfinetei de propósito.

— Você não está muito longe disso — Sorri com seu comentário — Certeza que não quer ficar? Está tão tarde...

— Tá tranquilo eu pego um táxi... — Saí fechando a porta atrás de mim — Se cuida Aurora...

— Até Alberto...

Saí de sua casa.

Eu e Aurora nunca mais conversamos sobre esse dia.
Fiquei sabendo pelo Samuel que no dia seguinte ele foi vê-la.
Ao contrário de Sérgio, que não foi.
Samuel também me disse que Sérgio deixou escapar o nome da outra garota. Porém ele nunca me contou.
















Feliz ano novo com muito choro 😭
( contém erros de digitação e gramática, me falta português )

— Beijos Hortiga 🍀🍀

 Ai de mim se fosse apenas uma corda de guitarra || Mamonas AssassínasWhere stories live. Discover now