Cap 44= Infinito

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1991, Guarulhos

Aurora

- Quantas vezes eu já te falei pra não ligar pro meu trampo? Quer que eu vá pra rua? - Estava escondida atrás do balcão de Renan, o segurança que "quebrava meu galho" quando Dinho insistia em ligar no meu horário de trabalho.

Renan sempre atendia Dinho, que por algum motivo tinha conseguido o número de telefone da recepção do prédio que eu trabalhava.

- Ah qual é Aurora, é rapidinho! - O vocalista reclamava do outro lado da linha.

- Fala logo o que 'cê quer Alecsander!

- Fala pro seu amiguinho acelerar, teu chefe ta manobrando... - Renan ficava a espreita, enquanto eu me mantinha debaixo do balcão.

- Desembucha logo cacete! - Espiava de relance enquanto meu chefe manobrava seu Ford Escort. Riquinho de merda.

- Ensaio da banda às quatro da tarde, lá na casa do Sérgio. Depois do teu trampo vai direto pra lá. Tem algo importante que eu quero falar, além de claro, ser o primeiro ensaio do Julinho.

Havia se passado quase um mês desde o último encontro no Cecap.
Com o clima de final de ano, todos nós estávamos muito ocupados trabalhando para juntar uma grana extra.

- Mas que merda ein... - Resmunguei baixinho.

- Ele tá entrando, sai logo daí! - Renan me deu um cutucão, assim que o engomadinho saiu do conversível.

- Se der um bolo na gente você vai se ver comig...

- Vai se fuder! - Desliguei o telefone assim que a porta foi aberta.

- Renan... Com quem tanto fala? - Homem, engomadinho, asqueroso!

- Com ninguém senhor, apenas cantarolando uma música. - A perna do mais velho parecia tremer com o medo de ser pego.

- Mais foco no trabalho Renan... - Percebi sua voz se afastar. - A propósito, sabe se a "ratinha" já chegou? Preciso do meu café.

- Ratinha? - Renan parecia confuso.

- A novata Renan - Percebendo que o segurança não tinha pego a referência, o chefe pareceu bufar. - Quer saber, esquece... Vai trabalhar! - Escuto seus passos cada vez mais longe.

- A barra ta limpa. - O rapaz me olhava de canto.

- Ratinha é a corna desgraçada da mãe dele - Me levantei resmungando. - Valeu por me cobrir de novo...

- Disponha - Ele sorria - Seu amigo parece não viver se não ligar para você.

- E quem vive sem mim? - Debochava de brincadeira.

- Pelo visto não o seu chefe... - Fiquei o observando indignada enquanto ele ria de mim.

- É a gota d'água isso - Me afastei emburrada enquanto escutava sua risada ecoar pela recepção - Vai trabalhar você também! Inferno.

(...)

Depois de "mofar" no ponto de ônibus, cheguei em casa. Rapidamente tomei um banho, e coloquei uma roupa confortável.
Vendo que já se passavam das quatro horas, peguei minha guitarra e um bolo Ana Maria que eu havia comprado, e saí em direção a casa da frente.

Após tanto bater a campainha, Samuel me atende, abrindo a enorme porta da garagem.

- Tá atrasada.

- Jura? - Passei pelo mais novo e logo me atirei no sofá velho que ficava alí, onde estavam sentados, Bento e Júlio.

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⏰ Última atualização: Feb 13 ⏰

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 Ai de mim se fosse apenas uma corda de guitarra || Mamonas AssassínasOnde histórias criam vida. Descubra agora