Capítulo 1

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Capítulo 1

Atarah

O céu da cidade é cinza, uma combinação perfeita com meu humor. Sentada no topo de um prédio em Nova York, observo as pessoas caminhando na rua, correndo apressados e desesperados para chegar no trabalho.

Qual é o sentido de tanta pressa? Tanto desespero em ganhar dinheiro, em ser reconhecido pelos outros se quando a morte chegar, nenhum deles serão lembrados por isso? As memórias são o que ficam, e mesmo elas se perdem com o tempo.

Não devia me sentir assim em relação a eles, afinal eu também já fui humana, fui tão desesperada em ser a filha perfeita, a irmã legal, a boa aluna... tentar se encaixar faz parte da natureza deles, ser aceito e amado é importante, até que um momento leve tudo e dê lugar apenas a solidão e a exaustão.

Vindo de alguém que acreditava em príncipes encantados e que durante seu pior momento como humana teve um tipo de alucinação, é uma grande virada de humor.

A porta lateral do edifício se abre e um homem sai, ele não me nota aqui, seus cabelos são escuros, seus ombros largos, corpo musculoso que se encaixa perfeitamente no terno escuro que está vestindo. Ele caminha até a beira do telhado e se inclina, olhando o chão.

Não estou com humor para ver suicídio hoje, acidentes de carro e coisas do tipo? Ok, mas suicídio justamente onde estou tentando relaxar? Nem pensar.

— Se vai pular, pode fazer isso de outro lugar? — Pergunto, ele se vira, me vendo pela primeira vez. — Estou tentando ter um momento de contemplação.

— Não deveria me dizer para não pular? — Se aproxima desconfiado.

— Cada um tem os seus problemas, se quer pular, faça isso de outro lugar. — Dispenso. — Esse aqui é meu.

— Vai pular?

Dou risada, eu queria, mas o corpo que poderia morrer já está enterrado há muito tempo.

— Se eu pular, nada vai acontecer, meus problemas ainda estarão lá. — Minha resposta o convence, talvez até demais, o estranho se senta ao meu lado. — Não permiti que se sentasse aqui.

— Não sou o tipo de pessoa que pede permissão.

Esse cara é divertido, embora eu esteja muito tentada a fazer com que ele caia e morra acidentalmente.

— Acho que é o tipo que quer morrer, já pensou se eu te empurro daqui?

— Não tem cara de quem me jogaria de um prédio.

Dessa vez eu tenho que rir, esse cara é divertido!

— Tem razão, tenho cara de quem faria você pular sozinho.

— Não sou tão fácil de convencer.

— Se acha que precisa de convencimento, está enganado. — Pisco para ele. — Desde que está me divertindo vou poupar sua vida.

Acenando com a cabeça ele sorri, então olha para o chão e segura minha mão. Olho para nossas mãos juntas e uma sensação estranha percorre meu corpo, é familiar, e me assusta, porém, permaneço parada.

— Como consegue ficar sentada aqui? — Pergunta.

Dou de ombros.

— O que te traz aqui?

— Sou o dono do edifício, não posso conhecer meus bens?

— Seria trágico se ao conhecer seus "bens" caísse do prédio.

— Trabalha aqui? — Ele observa como estou vestida.

Sapatos de salto preto, roupa social, eu poderia ser uma executiva fodona que trabalha aqui, se não fosse por eu não trabalhar e estar muito ocupada lidando com humanos problemáticos.

Caos - Livro 1Where stories live. Discover now