Capítulo 2

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Capítulo 2

Atarah

Tem algo no inverno que torna tudo bonito e ao mesmo tempo solitário. Amo observar os flocos de neve caindo, brancos e puros, transformando a vista das montanhas altas e imponentes.

— Amo como você transforma esse lugar a cada vez que venho aqui. — Azriel para ao meu lado. — Embora ainda não entenda a necessidade de ter um pântano e uma montanha, um ao lado do outro.

Não respondo, não há uma resposta para isso.

— Ela está apenas transformando tudo como bem quer. — Kyler responde, parando do meu outro lado. — Embora esse castelo seja uma representação perfeita dos seus sonhos humanos.

Dou uma risada sem humor.

— Gosto dos calabouços, e me ajuda a ter um sistema de punição adequado.

— Ah sim, cada cela leva a um humano que você atormenta.

— Sim.

Quando Oberon me tornou o que sou hoje, ele disse que viver no mundo humano seria difícil, que a necessidade de procurar pela minha família tornaria ainda mais complicado para me adaptar a esse novo mundo, foi por isso que ele me deu Kyler e Azriel. Ambos têm a missão de me acompanhar, me instruir e estar ao meu lado por toda a eternidade.

Caminhando pela neve observo outras criaturas, aquelas que permito que vivam no meu mundo, desde que sigam as minhas ordens. É útil ter monstros a sua disposição, eles me ajudam a torturar humanos, os mais desprezíveis.

— De todas as criaturas que vivem aqui, os Ichneumon são os que mais gosto. — Kyler diz, observando os monstros em forma de fuinha correndo pela neve.

— Gosta deles porque não é um dragão. — Azriel diz.

É uma boa coisa não ter que dormir ou comer. Pude aproveitar esse tempo e conhecer mais do mundo onde fui condenada a viver. Deixar de lado os medos humanos foi fácil, com um fim como o que tive, compaixão e medo simplesmente deixam de existir.

Deixo ambos discutindo sobre a complicada relação entre Ichneumon e dragões, e vou para o castelo. Lá me sento na sala principal, em frente a lareira e fico em silêncio, contemplando meu passado enquanto observo o fogo consumir a lenha.

Minha visita a Oberon como sempre foi difícil, acho que no tempo que estou aqui, nunca tivemos uma conversa adequada onde não o culpe por me transformar no que sou.

Quando acordei em seu jardim, e ele me disse que tinha me salvado, senti um alivio e uma felicidade tão grande, até que entendi o preço que ser salva cobrou. Ele me deu um mundo novo, uma vida cheia de seres míticos e fantasia, me permitiu criar um mundo só meu e colocar nele tudo o que desejava. Mas em troca, me tirou a chance de dizer adeus a minha família, me obrigou a presenciar morte e desgraça por todo o mundo, enquanto tudo o que desejei era nunca ter que me lembrar do meu fim, morrer e apagar a vida humana que tanto me assombra.

— Atarah? — Azriel me tira dos meus pensamentos.

— Já sei onde o Dybbuk estará esta noite. — Respondo sua pergunta não formulada.

Dybbuk significam problemas, grandes problemas para pessoas bondosas. Eles são espíritos malignos, que tiveram um fim tortuoso, eles se prendem as almas de pessoas boas, causando terror nelas e causando destruição e dor por onde passam.

— Odeio lidar com eles. — Kyler diz.

— As vezes penso que poderia ter me transformado em um. — Admito.

Caos - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora