Capítulo 1: O amor

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Já ouviu falar no mito grego da alma gêmea? Vou lhe contar. Dizia-se que havia um tempo em que os humanos eram feitos de 4 braços, 4 pernas, um tronco, duas genitálias e uma cabeça com dois rostos. Eles, por serem criaturas fortes, completas e poderosas colocavam medo nos deuses. Zeus, então, com medo de que essas criaturas pudessem causar algum estrago para os deuses do olimpo, lança um raio que corta esses seres ao meio. O resultado disso é que, como eles são divididos à metade, por conta do raio, eles passam agora a ter apenas dois braços, duas pernas, uma genitália e um rosto. Assim teriam surgido os humanos.  O grande problema é que esses humanos agora procuram incansavelmente a sua alma gêmea, pois tornaram-se incompletos, desamparados, desconsolados. 

Será que você já teve a sensação de tentar encontrar a si mesmo no outro? Na verdade, não vou nem perguntar se sim, mas quantas vezes você já o fez. 

Saindo um pouco da mitologia, que nem por isso é menos importante, aliás, se você acha que é pura besteira, mostrar-lhe-ei uma coisa que talvez te intrigue: 

Saindo um pouco da mitologia, que nem por isso é menos importante, aliás, se você acha que é pura besteira, mostrar-lhe-ei uma coisa que talvez te intrigue: 

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Essa imagem é sobre o mito grego de Prometeu. Prometeu foi um homem que roubou o fogo dos deuses do olimpo e, como punição, Zeus o prendeu e colocou uma águia para comer o seu fígado durante o dia. Quando chegava a noite, o fígado regenerava e, no outro dia, a águia voltava para comer novamente. Dessa forma, Prometeu se vê num ciclo de sofrimento que continuará a se repetir dia após dia. 

Se não percebeu, ainda, onde está a genialidade desse mito, faço o seguinte questionamento: Como os gregos, tinham conhecimento sobre regeneração hepática, isto é, como eles sabiam que o fígado era o único orgão do corpo humano que é capaz de se regenerar, milênios de anos atrás? Pois é. Talvez devamos ser mais humildes depois dessa.

Agora, de fato, vamos entrar a todo vapor no assunto ''Amor''.  Acredito que não se ama alguém, ama-se o ideal desse alguém. Ama-se aquilo que se pensa que alguém é, e o que se quer que ele seja. Lacan certa vez disse: ''amar é dar o que não se tem, a alguém que não quer.''

Amamos porque queremos ser amados. Não buscaríamos amar se não nos faltasse algo. O que nos levaria à busca e o interesse por um outro senão para completar a nós mesmos? Não acredito em amar-se primeiro, para amar o outro depois. Na verdade, acredito no contrário: amamos o outro para podermos ser amados. Amamos porque somos incompletos por natureza, e buscamos aquilo que não temos: o amor. E é justamente por não termos, que buscamos. Por isso a frase de Lacan ''Amar é dar o que não se tem'', pois queremos amar para receber, justamente, o amor que nos falta, e é esse que direcionamos ao outro. Já a parte que diz ''a alguém que não quer'' se refere ao seguinte: bom, se você ama, é porque
lhe falta algo e você anseia por isso, se o outro te ama, ele anseia pelo mesmo que você, logo, ambos oferecem o que lhes faltam, mas ninguém quer um vazio, mas sim, o amor. Por isso a frase, dita por Lacan, '' Amar é dar o que não se tem, a alguém que não quer''. 

Não irei me ater apenas a visão de Lacan. Irei ir além. Venha comigo.

Parece-me notório que o nosso desamparo estrutural clama por afagamento. Como forma de fuga dessa condição cruel, criamos um ideal de amor, ou seja, um padrão de características perfeitas que nosso objeto de amor deverá ter, que passará a repercutir em nossas fantasias amorosas. Esse ser perfeito iria, portanto, salvar-nos da falta e do vazio. Desse modo, amar alguém é, portanto, amar o nosso próprio ideal de amor que vinculamos a esse outro; é amar a esperança e a possibilidade de realizar a sua fantasia/expectativa amorosa a partir dele.

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