XIX. VOTRE MAJESTÉ

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“Somos ondas do mesmo mar, folhas da mesma árvore, flores do mesmo jardim.”

- Sêneca

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19. Vossa Majestade

C H R I S T O P H E

O ouro ornamentado que emoldurava a pintura escorregou de minha mão, fazendo um eco pelo quarto vazio quando colidiu com o solo

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O ouro ornamentado que emoldurava a pintura escorregou de minha mão, fazendo um eco pelo quarto vazio quando colidiu com o solo.

Abaixei-me para pegar, aproveitando o ato para sentar-me no chão por um instante.

Passei os dedos sobre a tinta que começava a descascar. Ela era tão linda.

Aquele fora seu único objeto que escapara da destruição de Linus. Teria sido jogado da torre do palácio caso eu não houvesse escondido embaixo de meu travesseiro por tantos anos, para ter sempre a impressão de que dormia próximo dela.

Antes de me deitar, eu costumava deixar um beijo sobre as pinceladas que formavam seu rosto.

Não fosse o objeto, eu teria me esquecido de como ela era.

Já não me recordava mais de seu cheiro, ou da textura de sua pele. Mas graças a pequena obra de arte, eu jamais esqueceria seu rosto.

Uma pintura. Uma maldita pintura fora tudo o que me restou.

— Por que me deixou, mãe? — questionei, como se a mulher sorrindo ali deixasse de ser tinta para me responder.

Eu me achava um fraco.

Por que continuava amando alguém que sequer hesitou ao me abandonar? Por continuava buscando um colo que jamais teria outra vez? Por que continuava a sentir aquela dor, mesmo depois de tantos anos?

— Por que não me levou com você? — insisti.

Os olhos pintados de azul continuaram imóveis, inertes.

Vossa Majestade, o Rei ✠ Livro IWhere stories live. Discover now