Parte 4 - A Maldição

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Esta parte foi publicada depois da parte 5 por engano. Peço desculpas pelo inconveniente.  Não percebi que não tinha ido.
Espero que aproveitem a leitura

SEHER
Uma nuvem de poeira se levanta do chão, me deixando cega. Meus olhos ardem, não consigo respirar, não posso ver nada.
Se eu pudesse chorar agora, choraria, mas gatos não choram.
Eu tento gritar, mas tudo que sai é um miado.
Uma rajada de dor percorre meu corpo. Uma dor tão familiar que já faz parte de mim.  Mais uma vez tenho que dizer adeus para alguém. Mais uma vez caio no mundo sozinha. Agora que sei o que é estar nos braços dele, é ainda mais insuportável.
Teria sido mais fácil ficar ali sob sua proteção, mas este amor que brotou em meu peito me impediu de ficar.
Quanto mais me afasto da mansão, mais esta dor toma conta de mim, mas tenho que fazer isto. A outra opção seria arriscar a vida das pessoas que passei a amar.

********

2 meses depois...

YAMAN

- Eu não quero saber de mais desculpas Nedim!! Já se passaram 2 meses e ainda não a encontramos!! Você vai encontrá-la!!!!
- Yaman, nós estamos perto. Só precisamos cruzar mais algumas informações com a polícia. O problema é que meu informante de lá não está mais disponível. Só preciso de mais um tempo.
Estou tão frustrado que só tenho vontade de esmurrar alguém, mas, para não fazer isto, eu esmurro a mesa com toda força.
- aaaahhhhh
O móvel treme sob meu punho e meu grito reverbera pelas paredes. Nedim da um passo para trás, assustado.
Tenho procurado por informações sobre Seher há 2 meses. Ela simplesmente desapareceu.
Yusuf chorou muito nos primeiros dias, disse que a gatinha não gostava dele. Eu dizia para ele que não podia chorar por uma gata, mas para falar a verdade eu me sentia como Yusuf. Abandonado. Minha gata também me deixou. Minha vontade era de chorar exatamente como ele.
- Yaman...não se preocupe. Nós vamos achá-la. Agora é só questão de tempo. Nós já sabemos onde ela morou, sabemos quem ela é. Seu pai reportou o desaparecimento antes de morrer. Uma investigação foi iniciada. Agora só precisamos de acesso às imagens de câmeras pelas ruas. É um processo lento porque são muitas imagens, mas é questão de tempo. Com sorte ela estará em alguma destas imagens.
- Mas quando teremos acesso a estas imagens?
- Este é o problema principal. Meu contato na polícia foi transferido. Precisamos de mais alguém lá dentro. Eu vou resolver isto.
Ele junta a papelada que estava me mostrando sobre a empresa e caminha até a porta. Quando a abre para sair, se vira para trás.
- Yaman..
Nedim se aproxima com cautela, pois sabe que eu fico perigoso quando estou assim.
- Fale.
- Você não se esqueceu que hoje temos a cerimônia de inauguração da nossa nova frota de navios, esqueceu?
- Você acha mesmo que estou com humor para ir em festas????
- Eu sei que não, mas sem você não há inauguração...
Eu realmente não quero ir em festa nenhuma, mas Nedim tem razão. Por mais que eu queira enfiar minha cabeça dentro das cobertas e ficar ali até Seher aparecer, não posso negligenciar minha família e meus negócios. A imprensa estará lá, clientes, pessoas importantes.
- eu vou.
Depois que Nedim sai eu começo a me arrumar. Tomo um banho, coloco o primeiro terno que encontro e saio de casa.
A festa foi montada no porto onde os 3 novos navios estavam atracados.
Uma grande tenda foi armada, uma banda tocava músicas clássicas, as pessoas usavam roupas de gala. Tudo muito necessário, mas totalmente o contrário do que eu gosto. Para mim uma boa festa se resume a minha família, poucos amigos, conversa boa, comida de verdade, não estes pedaços de comida que não matam a fome de ninguém.
Nedim já estava me aguardando quando chego. Me apresenta a um bando de gente que já não lembro o nome.
No meio da festa tenho que fazer algo que detesto. Um discurso.
Subo no palanque montado em frente aos navios no porto e me viro para os convidados.
- Sejam bem vindos! Em nome da minha equipe eu gostaria de agradecer a presença de todos aqui esta noite.
Os olhos voltados para mim esperam um discurso longo e cansativo, mas sou homem de poucas palavras.
Dezenas de câmera apontam para mim, os flashes quase me cegam, as câmeras de TV também me seguem. Pensar que estou falando, não só para as pessoas aqui, mas para toda Turquia me faz sentir um pouco mal, mas faz parte do trabalho.
- Esta nova frota de Navios trará um crescimento muito importante para nossa empresa e para nossos clientes. Com isto aumentamos nossa capacidade em 30%. Um número significativo. Estamos aqui pra proporcionar para nossos clientes e parceiros a melhor experiência, o transporte mais seguro e mais eficiente de toda a Turquia.
Todos batem palmas, estou prestes a descer do palanque quando me dou conta de que realmente tenho muitos olhos da Turquia voltados para mim. Não só aqui, como nas telas de TV. Que jeito melhor de ser ouvido do que este?
As pessoas estavam começando a se dispersar quando volto para o microfone.
Confusas, elas olham para mim de novo e eu recomeço a falar.
- gostaria de acrescentar que eu estou aqui para ajudar e tenho condições de te dar o suporte que precisa. Seja no meio de uma tempestade ou em um dia de calor. As coisas são simples. Estou aqui. Não vou sair daqui.
Eu sei que ninguém entendeu o que eu disse, mas talvez ela veja. Talvez ela esteja em alguma casa que a acolheu, no colo de uma senhora que agrada seus pelos, talvez ela esteja confortável em uma cama e se por acaso ela olhar para a TV e me ver, pode ser que ouça minhas palavras.
Talvez ela perceba que sinto sua falta.
Eu prefiro acreditar que ela tem um abrigo, comida e conforto porque se eu pensar que ela está por aí, vagando sem ninguém, solitária, comendo restos de comida, sem roupa... se eu pensar isto, fico louco. Esta ideia é insuportável pra mim.
Perto da meia noite estou prestes a ir embora, mas Nedim me acena para esperar. Se aproxima de mim com um homem que não conheço.
Ele vem até mim andando como se fosse dono do lugar. Eu nunca vi este homem, mas algo nele me incomoda, não sei dizer o que.
Ele olha a todos com superioridade, tem um sorriso sínico, um olhar de maldade.
- Yaman, deixe-me apresentar o proprietário da empresa com quem estamos negociando nos últimos meses.
Ele tem a mesma altura que eu, portanto conseguimos olhar olho no olho.
- Yaman Kirimli - eu digo sem me deixar intimidar.
- Hakan Farit - ele responde.
Quando o homem aperta minha mão eu sinto um nó no estômago que me deixa enjoado.

Continua....

A MaldiçãoWhere stories live. Discover now