Capítulo 2

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PAIXÃO

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PAIXÃO


— VOCÊ DIZ QUE ESTÁ APAIXONADO todo maldito final de semana, Adam. Ninguém mais acredita.

Hill apenas sorria enquanto Alec me esculhambava. Eles não tinham a menor ideia do quanto a noite anterior me impactara. Eu nem conseguia raciocinar sem pensar naquela mulher a cada cinco minutos.

— Não sei se a verei outra vez. – Externei a angustia que me consumia. Meu corpo implorava por mais, pelo menos uma noite, mas eu não poderia fingir. Tinha que ser com ela. A bela negra misteriosa.

— Sabemos que é quase impossível. – Anthony falou com seu jeito pragmático e comedido – Muitos utilizam de documentos falsos para entrar no clube. Fingimos não saber, essas pessoas querem anonimato. Mesmo assim, temos um cadastro dos visitantes mais frequentes. A maioria homens.

— Disso já sei. Não precisa me lembrar, quero tentar o que não pensei. Deve haver alguma chance de nos encontrarmos.

— Deve sim. Se não se apaixonar por outra até o final da tarde. De qualquer modo, – Alec falou num tom debochado – tenho que ir. Tenho uma tarde repleta de reuniões e não quero ficar no escritório até a noite.

— Claro, é a única coisa em que tem se atolado.

Alec sorriu. Eu era o único capaz de fazê-lo perder a paciência de vez em quando, mas logo retrucaria de um modo calmo:

— Adam, você ainda tem muito a aprender, inclusive a arte de deixar uma mulher louca ao ponto de não fugir de você.

Anthony sorriu e Alec foi embora, nos deixando sozinhos. .

Eu estava receoso que tudo isso fosse culpa dele. Merda, não era possível que ainda estivesse bravo comigo. Aquilo tudo foi apenas uma brincadeira. Achei até que seria um presente.

— Anthony.

— Diga. – Falou enquanto colocava um grande pedaço de tofu temperado na boca. Aquilo era ruim, tinha gosto de nada vezes nada. Só Anthony conseguia comer aquilo como se fosse alguma iguaria.

— Há alguma chance de tudo não passar de vingança sua?

— Isso tudo o que? Do que está falando?

— Da peituda. Zayda, Lembra? Essa mulher de ontem... Há alguma chance de ser uma vingança sua pelo seu aniversário de divórcio? Aquela louca lá? Já expliquei, achei que seria legal, não sabia que ia ser roubado.

— Ei, calma. – Anthony me interrompeu – Eu já disse que não ligo mais para isso, repito e não ligo mesmo. Foi uma noite agradável. As coisas só tomaram proporções que eu não esperava.

— Então não armou tudo isso?

— Não, garanto que não armei. Apesar de que, pensando bem agora, – Anthony engoliu outro pedaço daquela coisa disforme sem gosto – eu adoraria ter pensado nisso. Seria uma vingança e tanto.

— Você tem certeza?

— Tenho sim. Phoebe tem ocupado, de forma bem divertida, todos os meus tempos livres. Tenha certeza, não fico pensando em vocês tanto quanto acham. Além disso...

— Além disso? – Toda minha posição era de alguém ansioso.

Droga, eu devia estar parecendo alguém em abstinência. Como era possível? Eu tinha que entender o que essa mulher tinha feito para se tornar tão inesquecível, e então eu continuaria fazendo a mesma coisa, de novo e de novo.

— Além disso, não sou do tipo que brincaria com uma coisa séria dessas. Usar alguém como se fosse um objeto é pior. Eu não brinco com as mulheres desse jeito, eu não me utilizo deste tipo de joguinhos, nem uso com qualquer outra pessoa. Se eu quisesse me vingar, mandaria arranhar seu carro, furar uns pneus, não usaria pessoas para isso.

— Não está mais aqui quem perguntou. Eu vou sair agora. Tenho uma reunião com um cliente, não posso me atrasar. É um caso bastante especial e os meus vinte por cento ao final renderão por um longo tempo. – Procurei o meu cartão enquanto fazia sinal para o garçom vir até a mesa.

— Não se preocupe, eu pago hoje. – Hill disse – Eu odeio esse seu cartão com chip. Vive dando erro de leitura. Eu não tenho o dia inteiro para esperar uma transação.

Diferente de Hill, diferente de Alec. Eu não tinha uma enorme quantidade de conta em diversos lugares. Eles sempre tinham contas em diversos bancos. Contas para utilizar para coisas específicas. Contas em cada lugar onde estiveram algum dia.

Para ser mais claro, obviamente, eu não andava desapercebido, mas também não ficava levando a vida como eles.

Não sabia viver despreocupado, utilizando cartões e mais cartões, enquanto esperava que os gastos batessem com as receitas no final do mês. Eu não queria cair na mesma cilada que meu irmão. Não queria acabar saindo endividado de uma empresa falida.

Me dirigi ao trabalho. Entrei, cumprimentando as moças da recepção, então subi, pelo elevador, até a minha sala. Ela ficava no penúltimo andar de um dos prédios de negócios mais importantes da cidade. Precisava lidar com a papelada dos meus novos casos.

Meus casos, quase sempre, envolvem o mesmo tipo de pessoas. Mulheres jovens querendo divórcio e uma pensão gorda. Homens muito novos querendo entrar num relacionamento com mulheres mais velhas, exageradamente ricas, e pedindo orientação sobre quais direitos poderão vir a adquirir. Divórcios multimilionários que destroem células familiares, que revelam vícios e traições. Homens acusados de violência que estão comprando o silêncio de suas vítimas num acordo de confidencialidade.

Homens que, depois de um caso com alguém do mesmo sexo depois de anos, estão numa encruzilhada, pois seus parceiros sexuais estão chantageando-os e ameaçando contar tudo para as esposas e para quem mais possa interessar.

Enfim, embora meu sonho sempre tenha sido o direito criminal, já que queria trabalhar para acelerar a justiça do país, foi na área civil que eu fui trabalhar. Também foi da área civil que acabei tirando meu sustento ao longo dos anos, bem como parte do meu sucesso.

Minha família não aprovou minha escolha.

Meu pai me via como alguém que estava desperdiçando seu potencial, um estorvo. Afinal, ele tinha investido muito dinheiro na minha formação e – diferente dele – eu não tinha me tornado um magistrado de sucesso.

Minha mãe tinha orgulho da minha profissão, mas odiava me ver defendendo agressores ao vivo. Ela dizia que eu estava silenciando vítimas importantes. Ela estava certa.

O problema era o dinheiro. Maldito dinheiro.

As pessoas pagam as quantias mais avultosas quando estão desesperadas. Todos esses malditos porcos endinheirados, que imploravam para não irem para a cadeia, sempre estavam desesperados.

Eu nunca imaginei que eu iria contra meus ideais quando começasse a trabalhar, e olha onde estou. Eu não merecia respeito. Sei que não, afinal eu era praticamente um gigolô dos tribunais, mas sei que ia conseguir sair desse ramo um dia. Quando o meu senso de justiça falasse mais alto que meus desejos e as minhas ambições. 

OBSESSÃO | Triplo AWhere stories live. Discover now