Até as Sombras se Vingam || Keisuke Baji

[41] - A Garota sem Mistério

Keisuke Baji (on)

Eu permaneci desacreditado com aquilo.

Yukina era a Fukushū e nenhum de nós desconfiou disso. Sendo assim, foi ela quem me salvou naquele dia da luta contra a Valhalla. Foi ela quem tentou salvar o Chifuyu quando estávamos na igreja Udagawa. Era ela o tempo todo e nós não desconfiamos disso, porque ela se mostrava uma garota simples e gentil, e não uma lutadora árdua e resistente como Fukushū, a identidade que assumia. Era ela a sombra protetora da Toman. Agora, ela escorria sangue pelo canto da boca e tinha um olhar totalmente diferente do habitual. Existia determinação e seriedade nele. Seu corpo sequer chegava a tremer, mesmo com todos os ataques que havia recebido.

"Sempre foi ela..."

ー Ora... Parece que a Fukushū finalmente foi exposta a todos aqui... ー sem piedade, Kakucho desferiu um soco contra o estômago dela, fazendo-a cuspir mais sangue.

ー YUKINA!

ー FIQUE AÍ, KEI! ー Ela vociferou se recuperando do golpe e estabelecendo novamente a postura ereta e rígida.

Kakucho ficou observando-a com neutralidade, sem mostrar interesse ou relevância. Meus instintos diziam para eu interromper aquilo, para tirá-la daquela situação o mais rápido possível para que não fosse mais ferida. Contudo, algo na sua expressão severa me fazia recuar. Uma espécie de bloqueio me impedia de ir até lá.

ー Me desculpe por tudo, Kei... ー ela começou, dando uma risada sem graça. Meu coração ficou apertado de repente. ー Me desculpe por ter terminado... Me desculpe por ter escondido isso de você, do Mikey e de todos...

ー Yukina, não... ー minha vontade de chorar veio rápido, porém tive de me segurar.

ー Eu tinha muitos segredos que tinha medo de revelar a vocês... ー ela ofegava cansada e dolorida, mostrando o tanto de esforço e energia que usava para bater de frente com Kakucho. ー Mas...Tá na hora de abrir o jogo...

Com um olhar fugaz, Yukina deu um pulo tão rápido que até mesmo Kakucho se surpreendeu. Em seguida, ela desferiu um chute poderoso na cara dele, fazendo ele recuar vários metros e ficar com a bochecha roxa. Após tal golpe, ela voltou a posição ereta, ainda séria. Izana desfez o sorriso e ficou observando entediado, e o mesmo fizeram os Reis Celestiais da Tenjiku, junto de Kisaki e Hanma. Eu e Kazutora permanecíamos estáticos, assim como os membros da Tenjiku e da Toman inteira.

ー Meu nome é Yukina Chihito... Já fui aluna do Senhor Sano, avô do comandante da Toman... ー as palavras saíram da sua boca determinadas, enquanto ela limpava o sangue do canto dela. ー Quando era pequena, eu tinha uma horrível fobia social que me impedia de me aproximar das pessoas que eu gostava... E por isso eu treinava escondida com meu falecido sensei...

Ao final daquela sentença, Yukina direcionou o olhar para mim, ainda sorrindo tristonha. Aquela revelação me deixou mais perplexo e serviu de gatilho para uma recordação que eu tinha do dojo quando eu e Mikey éramos crianças. Lembro nitidamente desse dia e me pergunto por que nunca havia suspeitado antes. Era por isso que ele sentia que conhecia Yukina.

Mikey e eu estávamos brincando, aproveitando que os treinos tinham acabado. Nós ficamos correndo até finalmente nos cansarmos, e assim caímos deitados no chão de madeira, respirando rápido e totalmente suados. Por incrível que pareça, nesse dia, o senhor Sano não ficou nos reclamando de estar correndo e agindo feito loucos no dojo dele. Sempre, naquele horário, ele vinha com uma vassoura e fazia uma limpeza geral.

ー Hey, onde tá o sensei Sano? ー perguntei curioso, vendo meu amigo fazer uma careta de estranhamento.

ー Você tá querendo receber sermão dele? ー eu ri com a indagação do loiro e continuei meu raciocínio.