Capítulo sete

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Apertei as alças da bolsa olhando para o prédio, a tranquilidade e as pessoas seguindo suas rotinas se contradiziam de todos os sentimentos que eu vivia naquele momento.  Mordi o lábio encarando por alguns instantes manchas na calçada que vagamente eram lavadas, cumprimentei o porteiro e segui ao apartamento.

Eu não precisei da chave de Amanda para entrar, mas senti apreensão ao invadir o espaço. Os últimos acontecimentos ainda gritavam que meus filhos continuavam em perigo.

— Oi.

— Oi — repeti para Emanuel que mantinha uma bolsa parcialmente aberta e empurrava peças de roupas na pressa de fechar o zíper.

— Como eles estão?

Esfreguei a cabeça, olhando a decoração da sala com várias fotos, um violão em cima do sofá e o aroma do aromatizador preferido de Amanda. Puxei o ar e apenas balancei a cabeça, sentindo meus olhos com lágrimas que recusava derramar; o pavor de desabar e perder o controle.

— Carolina? — Emanuel deixou a bolsa no chão e tentou se aproximou.

— Eu estou bem.

— Não é o que parece — ele revidou, mas interrompeu os passos.

Dei de ombros:

— Eu desliguei meu celular nas últimas horas porque todo mundo ficou ligando, repetindo perguntas as quais eu não consigo responder — aproximei do sofá  — Nunca imaginei que fosse acontecer algo assim na minha vida. Minha filha está com medo de voltar pro lar que ela idealizou e meu filho está repetindo um depoimento numa maca. 

Emanuel sentou ao meu lado, cruzando as mãos, a cabeça abaixada.

Eu reconhecia essa expressão de derrota, era possível entender suas emoções também. Não queria reviver as interrogações, no entanto,  se destacavam e invadiam nossas bocas como ervas daninhas.

— Como eu não notei o que acontecia com minha filha? Quando eu silenciei o pedido de ajuda de Lara?

Nas últimas horas eu só tinha me concentrado no bem-estar dos meus filhos, abraçado Amanda e agradecido a Deus por não ter se aproximado da briga, permanecido acordada enquanto Augusto dormia sob efeitos das medicações, acompanhando cada respiração. 

— Não foi sua culpa, Emanuel.

— O namorado da minha filha tentou matá-la! — ele disse com os dentes trincados — No depoimento ela contou sobre as várias surras. Minha filha apanhou de um crápula e eu não percebi? Minha filha sofreu e eu não fiz nada!

Apoiei a mão em suas costas, não tinha resposta, tampouco explicações  já que em toda convivência eu só percebia um relacionamento como qualquer outro. Incrédula por tudo que se sucedeu. O quão errado estávamos!

— Com quem Lara está?

Emanuel suspirou, esfregando os olhos:

— Em Leotie.

Balancei a cabeça, tendo ciência que minha filha provavelmente estava novamente com a amiga.

— Eu não consigo me perdoar, Carolina, doeu tanto minha filha pedir desculpas quando foi a vítima.

Minhas mãos envolveram sua cintura em um abraço, foi cômodo e natural deitar minha cabeça em seu ombro, eu só poderia ouvir. 

— Quando me ligaram eu pensei que fosse um péssimo trote, Lara  e eu tínhamos almoçado durante toda a semana e tudo que conversamos foi sobre a melhor viagem da vida dela para conhecer um dos melhores serviços de equinos do Brasil - palavras dela —  Emanuel fez uma pausa com um sorriso saudoso —  Disse que tinha planos com Nico e a família, só acreditei no riso dela. 

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