Capítulo dez

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Olhei a pequena criatura envolvida numa paz enquanto eu tentava descobrir locais que a escondesse. Era tão pequena que cabia perfeitamente em um pote de margarina de um quilo, seu pelo caramelo macio e os olhos tão expressivos. Suspirei. De todos os absurdos universais, Igor tinha mesmo que ser alérgico a cães?

O barulho de chaves me impediu de ter outra ideia. Empurrei a almofada para baixo da mesa e sorri para meu marido. Eu ainda buscava me acostumar com a mudança em meu estado civil.

— Por que tenho a impressão que algo está para acontecer.

Igor manteve o olhar sobre mim e eu apenas dei de ombros.

— Até parece que  só planto discórdia.

Nós havíamos escolhido essa casa pelo jardim, ao contrário da promessa em nosso primeiro encontro com a família, o casamento aconteceu assim que completei vinte anos e era uma bagunça conciliar a faculdade de Direito e o papel dona de casa.  E mais uma vez eu era a mulher mais sortuda da face da Terra já que Igor reforçava suas próprias tarefas.

— Te amo, caçadora — Igor reforçava e declarava todos os dias, enquanto iniciávamos uma dança totalmente sem ritmo, mas eu adorava suas mãos em um abraço apertado, seus lábios me presenteando com seu beijo.

Um pouco culpada, mas, caridosa com seu espirro.

— É a mudança de tempo de novo, amor — segurei seu rosto, observando as sardas que eu já memorizei.

— Huhum — ele concordou com um novo espirro.

Olhei para a mesa e puxei rápido a caixinha de medicamentos:

— Aqui seu antialérgico.

Igor franziu as sobrancelhas, as sardas mais evidentes com a nariz vermelho:

— Estranho, pensei que tivesse acabado.

Eu já tinha ligado para o médico que o acompanhava e com certeza aconteceram risadas com a justificativa para a receita. Talvez eu fosse muito precipitada e em pouco tempo já tínhamos algumas histórias no consultório, eu deveria me abster do lar provisório.

— Carolina!

Mordi o lábio e semicerrei os olhos.

—Hum.

—Hum?

— Uai, eu não sei porquê esse tom, amor.

Igor segurou minha cintura e puxou meu corpo até estar colado ao dele:

— O que você trouxe?

— Eu nada — respondi rápido, mantendo minhas mãos escondidas.

— Tem um cachorro aos seus pés.

Ótimo! Custava esse filhote manter o sono.

— Não é um cachorro — eu não era capaz de acreditar em minhas palavras, era patético,  mas Igor continuou espirrando e talvez os olhos lacrimejados não enxergassem direito. 

— Não?

— É um parente que veio passar um tempo com a gente. Sua irmã quem o salvou.

Lógico que minha cunhada estaria envolvida nesse resgate, às vezes, me questionava se desistir de cursar Medicina Veterinária tenha sigo provocada pela realidade que Igor não passava tanto tempo próximo a animais.

Ele poderia ser intolerante a lactose, alérgico a frutos do mar. Mas, o destino tinha caprichado.

— E você olhou para essa carinha inocente e não resistiu.

Em Um SomOnde as histórias ganham vida. Descobre agora