Capítulo treze

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Eu pensei que Igor fosse recusar minha oferta, principalmente, por toda carga emocional frente a negativa de um dos projetos da empresa que ele idealizou com o pai. Ao mesmo tempo  reconhecia que meu marido se comprometeria com cada etapa, e novamente eu teria que agradecer ao senhor Guilherme.

Nosso envolvimento social com as escolas com o passar do tempo tinha não só levado as crianças para dentro de Leotie, como a própria fazenda para o ambiente escolar. É claro que a empolgação de minha mãe tinha grande poder nessa decisão.

Por isso, eu queria que Igor pudesse compartilhar um pouco da sua paixão pelo mundo tecnológico, quase na mesma proporção com seu envolvimento na fazenda.

— Oi, bonitas! — cumprimentei minha avó Gislene, roubando um dos bolinhos fritos.

Meu tempo havia sido bem escasso, de tal forma que pulei o almoço e me sujeitei a um lanche rápido e quase nada nutritivo, mas que garantiu que eu não desmaiasse durante a audiência.  Após a aprovação na Ordem revi as próximas etapas da minha vida profissional e confesso que ainda não estava encantada com um escritório. E ignorando o fator rendimento financeiro participei de um processo seletivo para conciliar com a pós-graduação.

— Você não pode pular refeições, menina.

Ouvi em silêncio a bronca de minha avó, que já organizava um prato para mim.

Eu gostava dessa bajulação e cuidado.

— Carol!

Meu irmão José Pedro gritou, eu ainda ficava embasbacada com seu tamanho ao dez anos. 

— Precisa cortar esse cabelo, trem custoso.

José Pedro envolveu minha barriga e deu um beijo barulhento.

— Você é muito chata.

— Não fale isso na frente da sua sobrinha, ela pode acreditar em você.

Meu irmão estava fascinado com minha maternidade, de irmão caçula com as duas irmãs já casadas, José  Pedro ganhou o título de tio e com isso frisava que era grande o suficiente para me ajudar com as crianças. 

— Papai quer saber se você vai ajudar na festa da paróquia.

Semicerrei os olhos, um pouco desconfiada da pergunta.

— Sei.

— Ele precisa de alguém para ficar comigo durante a festa, só uma supervisãozinha.

Meu irmão era um garoto peralta e eu rezava para que essa característica fosse minimizada com o tempo. 

— Ah, é? Bom, eu posso até ajudar se alguém cuidar do meu filho.

— Augusto tá lá fora se preparando para laçar alguns bezerros.

Segurei a cabeça de meu irmão e beijei sua testa, antes que ele escapasse. 

Thamara tinha ligado mais cedo, justificando que não participaria da festa devido aos compromissos na escola. A distância até Goiânia não era o que me preocupava, só que minha irmã parecia decidida a estar longe desde que contamos sobre a nova gravidez. 

— Coma tudo — vovó mandou com um olhar sério.

— Sim, senhora.

Eu adorava essa sensação de tempo, ainda era engraçado e até surpreendente estar nessa casa e ver como todos tínhamos os próprias deveres, mas algumas coisas nunca mudavam. É claro que os desenhos na porta da geladeira eram de Augusto, os brinquedos espalhados na sala também pertenciam ao meu filho, sendo que um dia desses era JP quem os manuseava.

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