INEFABLE

• trece

Chego em casa em passos largos a fim de fugir de qualquer questionamento da minha mãe. Entro pro meu quarto e fecho a porta atrás de mim, e no mesmo instante começo a pular e saltitar sozinha no cômodo externando toda felicidade guardada no meu corpo.

Fecho os olhos e ainda não consigo me convencer de que foi tudo real, os três dias que passei naquele apartamento parecem ter saído do sonho mais lindo que eu poderia ter, e acreditar que tudo foi palpável e concreto faz meu coração pulsar da forma mais frenética que já senti.

Me jogo na minha cama como uma adolescente, sorrindo para o teto permitindo que minhas emoções se despertem.

Então ouço minha porta abrir, minha mãe adentra o ambiente e de forma falha eu tento me recompor.

— Chegou e nem disse oi pra gente – fala aproximando-se e se sentando ao meu lado — Como foi lá ?

— Foi legal – respondo somente.

— O que fizeram de bom?

— Assistimos filme e ele também cozinhou pra mim.

— Você parece diferente.

— Estou normal, mamãe – minto — Preciso de um banho – exclamo me levantando.

— Madalena, aconteceu alguma coisa?

— Não, eu já disse que não.

— Você está tensa.

— Claro que estou tensa, passei três dias na casa do homem que sou apaixonada. Como esperava que eu me sentisse?

— Você está mentindo pra mim! Qual a necessidade de mentir pra sua mãe?

— Porque você não respeita minhas vontades, se esquecendo que não sou mais uma criança! Qual a necessidade de te contar as coisas pra ser invalidada?

— Sua vontade é seu padrinho, minha filha! Isso é loucura.

— Não é porque eu sou uma mulher e ele é um homem.

— Eu entendi tudo, eu já entendi o que aconteceu. E eu vou cuidar de acabar com isso.

— Você pode fazer o que quiser, mamãe. Não tem o poder de interferir nas escolhas de duas pessoas adultas.

— Diga por você, minha filha. Acha mesmo que ele estará disposto a lidar com todas as consequências que isso pode trazer?

— Acho!

— O mundo não é um conto de fadas Madalena, e ele não é o seu príncipe.

— Sinto muito por ter se tornado tão amargurada a ponto de não enxergar e naturalizar o amor.

— Esse amor é unilateral, e só você o sente. Eu só não quero que se machuque.

— Eu sei me cuidar sozinha. Agora me de licença para que eu possa descansar um pouco.