Capítulo 2 - Do lixo ao luxo

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Angel estava atualizando a caixa de entrada de seu e-mail a cada minuto. As respostas das boates de Monaco poderiam chegar a qualquer instante e ela esperava ansiosamente por aquilo, ela precisava daquilo.

- Alguma coisa? - Esme, sua companheira de quarto na Olympus apareceu na porta do pequeno banheiro com a escova de dentes da boca.

Angel estava encolhida em sua cama desconfortável e pequena encarando a tela de seu laptop obsoleto.

- Não, nada - Angel suspirou e depois sorriu - Mas chegará logo, eu tenho certeza! Enviamos fotos incríveis além dos vídeos, não tem como alguém dizer não para nós, Esme.

Esme cuspiu a espuma na pia e encarou a amiga.

- Espero que você esteja certa...

- Estou! - Angel sentou-se na cama - Preciso estar, não posso ficar mais nenhum segundo trabalhando para Henriette...

Angel ficou em silêncio por alguns segundos.

- Eu não sou prostituta! Posso dançar na noite, mas eu não faço esse tipo de trabalho.

Esme jogou seu corpo na cama e deitou com a cabeça no colo de Angel.

- Não faça mesmo, Angel. Foi o pior erro que eu cometi, depois de acreditar em Henrietta, claro.

- Ela ofereceu o mesmo para você?

Esme assentiu.

- Faz alguns meses, ela sabia que eu era virgem. Disse que um cara compraria por duzentos mil euros... Não vi nem metade desse dinheiro.

- Claro, mesma história... Virgens por que viemos de cidades pequenas, Henriette parece sentir o cheiro da inocência em nós. - Angel revirou os olhos.

- Uma inocência que não existe mais, pelo menos não em mim - Esme respondeu, triste.

Angel deu um longo suspiro e acariciou os cabelos castanhos da amiga.

- Nem em mim.

O silêncio se instalou no pequeno quarto que cheirava a mofo e ficava em cima da boate Olympus. A maioria das dançarinas moravam ali, a maioria não tinha família e nem para onde ir em Paris. Os quartos mofados eram o que lhe restavam.

- Será que... Estamos nos iludindo quanto a essa história de Monaco? - Esme encarou Angel.

A jovem estreitou os olhos e encarou uma mancha na parede cinza.

- Eu não vou mentir para você que sei que não estamos saindo do lixo e indo para o luxo, pode ser que não seremos bem tratadas nem nada do tipo, mas... - Angel suspirou - Mas pense comigo, que perspectiva de vida você tem aqui nessa boate de quinta?

Esme sentou-se ao lado de Angel.

- Quero dizer, podemos dar um jeito lá em Monaco, podemos dar sorte e conhecer um velho rico que precise de uma companheira atraente ao lado para exibir aos outros homens...

- Você se colocaria nessa posição? De ser... Usada? - Esme fez uma careta.

Angel deu de ombros.

- Desde que o dinheiro seja compartilhado e eu tenha minha liberdade, eu me colocaria em qualquer posição, mon amour.

Esme riu.

- E quanto a se casar com um cara por amor? Construir uma relação, uma família... Não tem vontade disso?

Angel suspirou e segurou o rosto da amiga entre as mãos.

- Esme, entenda, a mente de um homem funciona diferente da nossa e eu não passar pela humilhação de me apaixonar por um ser irracional como os homens - Angel ajeitou-se na cama e voltou a encarar a tela de seu laptop - Para mim, eles não são mero objetos que estão a nossa disposição para serem usados, não precisamos deles para nada. Mas como eu e você não tivemos muitas oportunidades favoráveis, a nossa saída é usar eles para subir na vida, mon cher.

Angel lançou uma piscadela a Esme que arregalou os olhos.

- Credo, Angel! - a jovem riu - Você soa até meio... Psicopata falando assim.

Angel riu.

- Eu sou legal, você sabe que sim.

- Comigo você é, com a sua mãe... Mas eu não sei aonde você aprendeu todas essas regras contra os homens!

Angel parou por alguns instantes.

- Henriette. Tenho plena consciência de que foi ela quem fez essa lavagem cerebral em mim... Eu não era assim, eu até tinha um namoradinho antes de sair de casa, mas ele era um babaca e ela abriu meus olhos.

Esme riu.

- Apesar de tudo, Henriette tem algumas coisas a serem admiradas. Ela é uma mulher forte, ela construiu essa boate sozinha e aquele marido dela nunca fez nada além de meter chifres com as dançarinas.

- Acho que... De uma forma estranha, você tem razão quanto s Henriette. Mas nada justifica o que ela fez com a gente e com as outras...

- De forma alguma! Quando estivermos em Monaco, ricas em nossos iates com nossos maridos idosos e quase morrendo, poderemos denunciá-la.

Esme riu e assentiu.

- Combinado!

Esme mal terminou de falar quando um bip fraco soou do computador de Angel.

As duas amigas se encararam com os olhos arregalados.

- O que é!? - Esme exclamou.

Angel encarou a tela de seu computador.

- É exatamente o que estávamos esperando - a jovem tinha um sorriso malicioso nos lábios -  o dono da boate Goddesses, quer nos conhecer. Ele diz no e-mail que se interessou pelos nossos nomes de Vênus e Athena.

Esme saltou da cama desconfortável e deu pulos pelo minúsculo quarto.

- Dieu merci! Angel, espero tanto que você esteja certa quanto a isso mudar nossas vidas... - Esme suspirou - Pelo menos que seja um pequeno passo para nós.

- Claro, Esme. Será ótimo, mon amour, teremos um leque de possibilidades, seremos vistas e não... Esquecidas em uma espelunca como essa - a garota encarou a amiga intensamente com seus olhos azuis - Afinal, como Henriette mesmo diz, somos bonitas demais só para ficarmos dançando em cima de um palco.

Esme sorriu para a amiga e voltou a sentar-se na cama.

- Quando iremos? O dono passou uma data para nós?

Angel voltou a encarar a tela de seu computador e rolou o dedo para ler o restante do e-mail enviado pelo dono da boate Goddesses.

- Ele diz que podemos ir em qualquer final de semana que tivermos disponibilidade, ou seja, vamos amanhã mesmo!

Esme arregalou os olhos para Angel e negou com a cabeça.

- Como iremos amanhã? Não podemos, é muito em cima da hora e além disso, Henriette vai literalmente nos matar se souber que vamos trair ela. Meu Deus, ela vai ficar uma fera quando voltarmos de viagem... - Esme jogou seu corpo na cama - E ainda por cima, temos show amanhã a noite, um motivo a mais para ela nos matar de fome pelos próximos meses.

Angel encarou a amiga e sorriu.

- Ela não vai nos matar se nós não voltarmos...

- Está pensando em fugir? Angel, se fugirmos, também morremos...

Angel deitou-se ao lado da amiga e passou um de seus braço em cima da barriga de Esme.

- Se continuarmos aqui, morreremos  mais rápido - Angel murmurou no ouvido de Esme.

A amiga encarava o teto e fazia caretas a cada pensamento ruim que passava por sua cabeça - a maioria deles eram pessimistas e previam o futuro das ruas nas sarjetas de Nice precisando vender seus corpos para pagar por um prato de comida.

- Vamos, Esme. Você não pode dar para trás, sabe que se não formos amanhã, vamos deixar para ir outro dia e esse outro dia nunca chegará.

Esme suspirou e virou sua cabeça para encarar Angel, suas respirações se cruzavam. Esme estreitou os olhos antes de voltar a encarar o teto.

- Foda-se, vamos fazer isso. Vamos para Monaco.

Fools | 1 | Charles LeclercWhere stories live. Discover now