Capítulo 9 - Um dia como outro qualquer

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Se qualquer um lhe perguntasse como ele se definiria, Yuu diria que como alguém que tem a sensibilidade à flor da pele...literalmente.

Isso se pudesse contar a alguém à respeito das coisas que geralmente vivenciava, como por exemplo, aprender à duras penas jamais voltar a pisar num cemitério de novo, nem que fosse pra visitar o túmulo de sua mãe.

Tal qual uma esponja, Yuuichiro atraía para si qualquer espirito desocupado, e neste caso não estamos falando somente daqueles que povoam os cemitérios, mas sim de todos os lugares. Às vezes nem se tratavam de obsessores, apenas eram desencarnados, que perdidos, buscavam desesperadamente por alguma orientação.

Tinha aprendido que aqueles que possuíam dons mediúnicos eram facilmente detectados pelos espíritos desencarnados, sendo assim quase impossível de passar desapercebido em qualquer lugar que fossem.

Mas depois de ficar quase uma semana impossibilitado de dormir, finalmente tinha se convencido a nem sequer passar em frente a um cemitério...nunca mais!

No começo, dizer que estava apavorado era pouco! Ver aquelas coisas indesejáveis sem motivo algum e sem ter idéia de como se livrar daquilo? Era demais pra alguém despreparado como ele.

Foi numa daquelas manhãs quando, um pouco antes de despertar, ouviu um diálogo pra lá de surreal.

"Ele tem medo e não vai falar com a gente."

Yuu ouviu a voz masculina.

"Mas eu preciso falar com ele?!"

Respondeu em seguida uma voz infantil, aflita e ao mesmo tempo afoita.

"Não..." - Ouviu a voz masculina novamente - "Ele não quer, ele tem muito medo de nós."

Então, Yuuichiro só foi se dar conta do que estava acontecendo quando percebeu que estava sendo observado bem de perto...abriu os olhos e não viu nada, mas ainda podia sentir a presença daquele homem e daquela criança ao seu lado, na cama.

O moreno levantou num pulo, jogando as cobertas no chão, sentido a pulsação rápida de seu coração bem na sua jugular!

Respirando de um jeito descontrolado Yuuichiro varreu o quarto com o olhar, e mesmo que seus olhos não fossem capazes de ver, sabia que não estava sozinho.

Engoliu em seco enquanto tentava encontrar sua voz.

"Olha aqui..." - o moreno gesticulou com as mãos, como se quisesse apartar uma briga, ou coisa parecida, ao mesmo tempo em que tremia igual uma vara verde ao vento - "E-Eu n-não sei quem são vocês...e...e...francamente nem quero saber!" - cortou o ar com as mãos ao dizer isso.

Girando ao redor de si mesmo, ainda podia sentir algo o espreitando, e isso foi o suficiente para congelar seus ossos.

"E-Eu não po-posso ajudar vocês...lamento muito!" - disse com a voz trêmula - "Por favor...vão embora e me deixem em paz!"

Era uma sensação assustadora, como lutar com um inimigo invisível e imprevisível...Achou que sua alma sairia de seu corpo quando algo simplesmente começou a apitar dentro do seu tímpano esquerdo, e aterrorizado gritou, apontando para a porta do quarto.

"VÃO EMBORA DAQUI!!! AGORA!!!"

Sentiu vontade dele mesmo sair correndo, mas seus pés simplesmente tinham resolvido não obedecer aos comandos do seu cérebro! Sempre teve pavor dessas coisas e nunca pensou que um dia iria presenciar essas coisas e, definitivamente, falar com espíritos não fazia parte de seu objetivo de vida.

Respirou profundamente e, cheio de coragem, correu para a sala e, assim que encontrou o controle remoto, não hesitou em ligar a televisão.

Qualquer barulho do mundo real seria mais do que bem-vindo naquele momento.

O ANJO DA GUARDA (Save Me -MikaYuu)Onde histórias criam vida. Descubra agora