Capítulo 39

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Quando as coisas começam a ficar difícil e sua voz já não consegui obter o agudo mais alto da frase, é preciso haji, na maioria das vezes as ações falam mais do que qualquer palavra. No fim das contas, eu sabia o que tinha naquela carta, Alfie relembrava de maneira descritiva o que havia acontecido entre a gente a cerca de dois anos e meio atrás. Para sempre ele me seria um problema, se claro, ele não fosse eliminado agora. E talvez, Thomas não quisesse ou não pudesse de fato mata-lo, mas eu poderia, tinha total autonomia sobre minhas ações e até onde elas me levariam.

___ Cammy! ___ ouvi a voz feminina de Polly atrás de mim.

Já havia se passado alguns meses e minha barriga estava bem maior, as dores nas costas chegaram com meu oitavo mês de gestação. Nesse momento, estava no centro da cidade de Birminghan, indo na direção contrária a todas as lojas de bebê, buscando a todo custo encontrar o esconderijo de Alfie, pois, estava determinada sobre o que faria a respeito dele. Só não contava com a presença de Polly.

___ Polly. ___ virei-me para ela, que estava atrás de mim na calçada.

___ Para onde você vai, Cammy? ___ ela encarou-me como se soubesse o que eu iria fazer.

___ Estou indo comprar mais coisas para o bebê, bom, você sabe está cada vez mais perto do nascimento dele. ___ sorri encarando minha barriga como maneira de disfarçar.

___ É mesmo, ___ ela sorriu de maneira cínica. ___ pode comprar na cor rosa, será uma linda menina.

___ Bem, estou muito ansiosa para conhece-la. ___ suspirei alegre. ___ Será uma linda menina. ___ disse me preparando para sair.

___ Espero que não seja uma mentirosa como a mãe. ___ disparou.

___ Não pode falar assim comigo! ___ voltei minha atenção novamente para ela.

___ As lojas de bebê ficam para o outro lado, ___ ela inspirou de maneira simplista. ___ você está seguindo na direção do maldito judeu.

___ Eu preciso me vingar! ___ disse alterada. ___ Esse maldito me fez muito mal, ele me faz muito mal, não posso deixa-lo andar pela mesma terra que eu, mereço essa vingança.

___ Você está grávida! ___ ela berrou. ___ Acha mesmo que com esse barrigão vai ao menos conseguir segurar uma arma? Você vai acabar se machucando garota tonta!

___ Então você vai pagar pra ver?

Meus olhos queimavam em ódio, estava completamente consumida por um sentimento de fúria. A raiva tinha tomado conta de mim. Ignorei totalmente Polly, seguindo meu destino sozinha, sabendo que claro, Polly encontraria Thomas e contaria tudo para ele antes que eu pudesse de fato matar Alfie. De qualquer forma, procurei por um par de tempo até achar o esconderijo do maldito, quando enfim encontrei-o, mantive-me sentada em uma de suas cadeiras aguardando seu retorno. Tinha sorte sobre as fechaduras, sendo elas de material ruim, fáceis de serem violadas.

___ Alfie. ___ dei-lhe um sorriso maquiavélico ao vê-lo entrar.

___ Ca-cammy. ___ ele gaguejou ao encarar-me, parecia ter visto alma.

___ Surpreso? ___ levantei-me. ___ Achei que seria uma surpresa conveniente, afinal, você descreveu com detalhes nossa única noite de sexo que se passou há mais de um ano atrás.

___ Veio pedir um replay? ___ ele riu de maneira debochada.

___ Eu gostaria que você estivesse morto, ___ suspirei enquanto caminhava pela sala encarando o rosto pálido de Alfie. ___ morto como eu.

___ Você me parece muito bem. ___ ele riu e tentou se aproximar. ___ Tem em você duas vidas.

___ E você não terá nenhuma, ___ retirei a arma da bolsa que estava a segurar e apontei para ele. ___ hoje sua história se encerra.

___ Você está grávida. ___ ele sentou-se. ___ Não posso medir forças com uma grávida, tão frágil, tão inferior.

___ Será? ___ me aproximei dele colocando a arma em sua cabeça, pressionando-a contra sua testa.___ Será que sou mesmo frágil.

Me sentia pronta para fazer aquilo, estávamos novamente em situações parecidas, como há um ano atrás, ele estava com uma arma em minha cabeça, ameaçando atirar e matar-me. Lá estava eu agora, com minha arma em sua cabeça, pressionando-a com força contra sua maldita testa, irei mata-lo, isso é fato.

___ Cammy, ___ ele sussurrou. ___ todas as coisas que fiz foi por amor, pois, eu amo você.

___ Amor? ___ disse irritada. ___ Eu quero que você engula seu maldito amor, leve-o para o inferno junto com você. ___ destravei a arma.

___ Se você atirar agora essa criança vai nascer em uma cela de prisão, vão ser separados na maternidade e você nunca mais o encontrará.

___ Eu não te perguntei isso! ___ preparei para atirar.

___ Cammy, ___ ele suspirou. ___ por favor, não faça... Não faça Cammy.

___ Cammy! ___ ouvi a voz de Thomas do outro lado da porta.

___ Agora não Thomas, ___ atirei a primeira vez na perna de Alfie. ___ estou ocupada. ___ atirei a segunda vez no peitoral.___ Será que você teve dejavu?

Matei. Matei Alfie com dois únicos tiros na cabeça, dessa vez ele não deu sorte, confiou na sensibilidade de uma grávida que ele achava ser incapaz de mata-lo, bom ele não foi sábio. Agora Alfie era um homem morto, com os olhos arregalados sentado na poltrona de um muquifo que ele havia se hospedado. Não atirei de fato na cabeça pois tinha receio em machucar-me, levando em consideração que não sei usar tão bem a arma, mas pelo que havia aprendido, o tiro havia sido disparado no canto certo para fazê-lo morrer. Com o barulho dos tiros, Thomas arrebentou a porta, tomando um imenso susto ao me ver com a arma e Alfie no sofá morto.

___ Cammy! ___ ele veio até mim tomando arma de minha mão. ___ O que você fez? O que você fez?

___ Eu matei ele. ___ sussurrei, encarei-o com uma lágrima que escorreu pelo meu rosto.

___ Olha pra mim, ___ ele tocou meus ombros. ___ olha para mim, vai ficar tudo bem.

___ Você não o matou, eu o matei, você não teve coragem!___ disse em lágrimas.

Thomas não haveria de me responder nada, foi uma das poucas vezes que eu não havia conseguido destrinchar o que ele tentava com os olhos me mostrar, talvez estivesse tão perdido quanto eu. Tive um breve dejavu entre o que aconteceu neste momento e o que presenciei no passado, quando era Alfie que tinha uma arma em minha cabeça. Por fim, foi eu que o matei.

OLHOS CIGANOS | Thomas ShelbyOnde histórias criam vida. Descubra agora