Capítulo 15

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A alta temperatura estava lentamente sendo substituída por ventos fortes e algumas nuvens no horizonte que indicavam uma chuva pela tardinha. Os meteorologistas se matavam de trabalhar para conseguir prever com o máximo de exatidão o clima, mas a cidade de Fotocópolis nunca colaborava com nada e nem ninguém. Mas no meio de todo esse caos do tempo, Aguinaldo e Emê de Martnália viviam em seu próprio mundinho.

Quando foram liberados do colégio, Aguinaldo seguiu Emê para um restaurante self service porque ela disse que conhecia o local, depois contou que almoçava lá quase todos os dias. Isso o deixou curioso, mas decidiu perguntar em outro momento. Ele contou que nunca tinha almoçado fora sozinho e Emê ficou surpresa.

Aguinaldo ligou para seu pai, que de primeira não acreditou que ele almoçaria com uma garota. Demorou algum tempo para convencê-lo de que era verdade, e no fim Juvenal permitiu que o garoto se aventurasse um pouco pelo bairro com Martnália.

Enquanto colocava sua comida no prato, Aguinaldo se sentia mais livre do que nunca antes em sua vidinha pacata. E estar com Martnália tornava tudo mil vezes melhor, ainda mais depois do que tinham conversado no intervalo.

"Acho que posso estar gostando de você."

Ele tinha certeza que sonharia com essas palavras por muito tempo.

Ao se sentarem frente a frente, com os pratos de comida em cima da mesa, ficaram sem saber o que dizer. Aguinaldo não conseguiu se segurar e soltou uma risadinha, Emê de Martnália o acompanhou. As confissões que pairavam como fantasminhas em suas mentes e as borboletas que voavam para cima e para baixo em suas entranhas impediam que pensassem com clareza sobre o que exatamente deveriam fazer dali em diante.

Eles comeram enquanto sorriam um para o outro, e como não conseguiram conversar como sabiam que deveriam ter feito, decidiram andar entre as ruas de Fotocópolis antes que chovesse.

— Como foram suas férias? — Aguinaldo puxou assunto.

— Foram corridas, tinha treino de vôlei quase todos os dias e nas primeiras semanas de janeiro viajei para a casa da minha avó — Emê contou. — E as suas?

— Sendo bem sincero, quase todos os dias eu pensava em você. — Martnália sorriu ao ouvir essas palavras. Aguinaldo estava mesmo se soltando.

— Eu também pensei muito em você.

Nenhum deles conseguiu segurar o sorriso e tudo o que puderam fazer foi desviar o rosto um do outro e tentar amenizar um pouco toda a euforia dentro do peito. Aguinaldo principalmente, que jamais imaginou que algum dia essa situação pudesse realmente se tornar realidade.

— Não consigo nem explicar como me senti quando você disse que também gostava de mim — ele falou. — Acho que foi como se jogar de costas em uma piscina e emergir de volta.

Martnália soltou uma risada, porque era meio sem sentido, mas ela entendia totalmente.

— Eu tenho esse problema, geralmente demoro um pouco para entender o que estou sentindo, mas nesses últimos dois meses consegui finalmente entender o que eu sinto por você, e aí eu sabia que tinha que te contar.

Aguinaldo pensou em diversos momentos durante os últimos onze meses, desde que conversou com Emê pela primeira vez, e se perguntou em qual deles ela tinha sentido algo diferente. Olhou para si mesmo e por alguns instantes, o medo e a dúvida fizeram seu coração latejar, pois ele ainda não conseguia ver nada em si que tivesse feito com que Emê de Martnália sentisse borboletas. Mas ele decidiu afastar aqueles pensamentos por hora e aproveitar um pouco mais daquele sonho.

Viraram em uma esquina que dava diretamente para um pequeno parque de Fotocópolis. Naquele horário, pouco antes das duas da tarde de uma quinta feira, o parque estava pouco movimentado. Três crianças brincavam no parquinho, uma pessoa as observava; outra mulher estava deitada embaixo de uma árvore e lia um livro; e um senhorzinho de idade vendia pipoca para as pessoas que passavam pela rua. Aguinaldo e Emê decidiram imitar a mulher do livro, se deitaram cada um para um lado, fazendo com que suas cabeças ficassem lado a lado e as pernas para lados opostos, sobre a grama que já estava alta, embaixo de uma boa sombra.

Todos Nós Que Estamos VivosWhere stories live. Discover now