Capítulo 18

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Para explicar com exatidão o motivo para chegarmos até a cena em que Emê de Martnália beija Aguinaldo abruptamente, precisamos voltar um pouco no tempo, até o momento em que a garota avisou que teria uma reunião com seu time de vôlei.

Pois bem, a reunião realmente aconteceu, e durou até pouco depois do horário de saída. A treinadora proferiu um longo discurso sobre como todas que estavam no time deveriam se dedicar ao vôlei, principalmente naquele ano, já que começariam a participar mais das competições regionais. Ela também falou mal de Elcione, e ameaçou tirá-la do time se ela continuasse com seu comportamento imaturo, mesmo que a própria Elcione não estivesse lá.

Até então, tudo estava bem. A reunião acabou e Emê de Martnália resolveu ir para casa. Naquele dia em questão, não estava de bom humor, isso acontecia de vez em quando, mesmo que nada de errado tivesse acontecido. E ficar se perguntando o motivo gastava uma energia mental que Emê não queria perder.

Ao chegar em casa, a garota encontrou seu pai, e isso por si só já foi capaz de triplicar seu mau humor. Ele estar em casa significava que sua mãe e irmã também estavam, e isso queria dizer que agora teria três pessoas em casa contra ela.

— Não vai falar comigo? — Eliézer, pai de Emê, perguntou quando a garota tentou passar despercebida e ir para o seu quarto. — Onde está a sua educação?

— Boa tarde — ela respondeu e continuou seu caminho, torcendo para que seu pai não fosse atrás dela.

Antes de chegar no quarto, Emê escutou a voz das outras duas vindas da cozinha, elas pareciam muito felizes por ter Eliézer em casa, e toda essa felicidade da qual não fazia parte fez com que Martnália perdesse a fome.

Uma dor de cabeça surgiu em sua testa, o que a irritou ainda mais. Tudo o que ela precisava naquele momento era tirar o uniforme de vôlei, colocar uma roupa mais confortável, se deitar em sua cama e se cobrir com sua coberta fofinha favorita estampada com bolas de vôlei. O clima estava perfeito para isso.

De repente, ela escutou uma batida em sua porta. Revirou os olhos, se sentindo desgastada antes mesmo de saber o que a esperava do outro lado. Abriu a porta e era Eliézer, seu pai.

— Como foi na escola hoje? — Ele perguntou.

Emê piscou diversas vezes, sem acreditar no que ouviu. Não estava acostumada com o interesse de sua família, ainda mais de seu pai que passava praticamente todo o tempo fora de casa.

— Foi... normal.

Eles ficaram se encarando por alguns instantes desconfortáveis, sem saber o que dizer.

— Você ainda está naquele time de vôlei? — Eliézer tomou o partido para continuar a conversa, e isso surpreendeu Emê ainda mais.

— Sim.

— E como isso está indo?

Apesar de estar muito desconfiada com o súbito interesse de seu pai em sua vida, lá no fundo, Martnália queria acreditar que era genuíno, que dessa vez ele estivesse pensando em mudar a dinâmica da casa e incluir ela no laço de amor da família. Sonhou tantas vezes com isso e se sentiu tão mal por desejar esse tipo de coisa, que demorou pelo menos um minuto para saber como reagir.

— Está indo bem — ela conseguiu responder. Mas ao perceber que seu pai não tinha mais o que perguntar, decidiu completar: — Hoje tivemos uma reunião sobre isso, vamos começar a participar de mais competições e vou ter que me dedicar mais.

Eliézer não esboçou nenhuma reação exagerada, nem de felicidade ou de desgosto, apenas balançou levemente a cabeça para cima e para baixo.

— Entendi... — ele falou e coçou a cabeça por alguns instantes. — Escuta, vamos abrir algumas vagas para jovem aprendiz lá no laboratório mês que vem, se você quiser posso conseguir uma vaga para você.

Todos Nós Que Estamos VivosWhere stories live. Discover now