Capítulo LXIII

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Jeong Heyoon POV

Se me perguntassem se eu acreditaria na cena bizarra que se passava em minha casa naquele último sábado de dezembro eu diria certamente que não, exceto que no momento eu era obrigada a acreditar, pois era mesmo real, apesar de completamente inesperado. Tudo ali era algo fora do comum, o horário já era muito tardio para um almoço - nós nunca almoçamos fora do horário - e as pessoas presentes nele eram um conjunto menos esperado ainda, minha mãe, eu e minha namorada, sentadas à mesa pequena e farta na sala de jantar com nossos jeotgaraks a mão e nossos pratos cheios de comida quente.

- Jiyoon e Sungyoon não vão almoçar com a gente? - tentei quebrar o gelo, notando a presença das duas no sofá da sala atrás de mim. Podia sentir de vez em quando seus olhares recaindo sobre nós como que em expectativa de que fosse acontecer um "show" ou evento importante ali que elas não pudessem deixar de presenciar.

- Não, elas já comeram enquanto estávamos no hospital. - a mulher sentada à nossa frente respondeu, sua mão levando o frango apimentado até a boca.

Sina e eu nos entreolhamos nervosas, continuando a encarar os pratos e a mulher à nossa frente receosas, o clima ali permanecia tenso.

- Parem de encarar a comida! Não trouxe vocês aqui pra me assistirem, comecem a comer logo! - minha mãe chamou a nossa atenção, sua testa enrugando enquanto nos lançava um olhar incomodado. De imediato nós duas a obedecemos, enchendo nossas bocas sem dar um pio.

Como sempre, a comida feita pela matriarca estava uma delícia, os legumes eram frescos e a pimenta do frango estava no ponto certo, somente o cheiro já dava água na boca, o sabor conseguindo ser ainda mais satisfatório. Aquele almoço estava uma ambiguidade pura, a tensão no ar era praticamente palpável, em contrapartida a refeição estava deliciosamente apelativa ao paladar, sendo unida ao estômago vazio e a fome, embora o apetite fosse levemente inibido pelo nervosismo e a incerteza dentro de mim, julgo dizer que o mesmo ocorria com a garota sentada ao meu lado.

Sina, assim como da última vez, estava meio desengonçada com o talher, muitas vezes deixando cair o arroz e os legumes de volta ao prato. A mais velha não deixou de notar isso, parando de comer e encarando a cena com estranhamento. Acabei por também interromper minha refeição por um momento, apreensiva e prestando atenção nas duas.

- Qual o problema que a comida fica fugindo de você? - ela perguntou à mais nova, que parou de lutar contra sua comida e ergueu o olhar para a senhora.

- Hã... e-eu... não tô muito acostumada com esse tipo de hashi. - explicou sem graça e insegura. Ouvi uns risinhos abafados vindos da sala e virei-me por um instante lançando um olhar mortal pras duas pestes ali, elas se viraram rapidinho de volta para televisão, dando as costas pra mim.

A feição séria da mulher permaneceu intacta e ela negou com a cabeça voltando a se focar em sua própria comida, nós duas repetimos o mesmo e logo estávamos imersas novamente no silêncio, exceto pelo som baixo da TV na sala e do quase imperceptível da nossa mastigação.

- Como está? - ela voltou a quebrar o silêncio decorrido algum tempo.

Por mais que minha mãe continuasse parecendo uma pedra de gelo, um sorriso involuntário tomou meus lábios. Ela estava falando somente em inglês, claramente estava tentando interagir com Sina, seus olhos vagaram entre nós duas, mas logo se focaram nela.

- Como está o quê? - Sina perguntou, olhando pra nós duas confusa. Como era lerdinha, meu Deus...

- A comida. - expliquei e um brilho de realização a tomou assim como um sorriso sem graça.

Siyoon - Acorrentada (Chained Up)Onde histórias criam vida. Descubra agora