Capítulo 6

29 3 1
                                    

Segunda-feira, 1ª aula.

Theo chegou na sala acompanhado por vários olhares, de fora e de dentro. Pelo menos no funeral os estudantes tiveram a decência de não ficar encarando ou cochichando apontando os dedos para ele. Mas o luto já havia passado, agora a fofoca era mais importante que a tristeza.

Quando jogou a mochila sobre a mesa, evitando ao máximo olhar para a mesa ao lado da sua, nem sabia quais livros jogou lá dentro logo de manhã.

Duas alunas, Helena e Valentina, olharam rapidamente para ele e puxaram outro aluno, Enzo, para se informar do que havia acontecido na festa. Todos sabiam exatamente o que tinha acontecido, mas gostavam de reviver a fofoca no intervalo de quinze minutos.

Valentina era alta e robusta, com o uniforme e calça de lycra justos no seu corpo. Tinha uma franja sobre a testa. Helena era pequena e franzina, com pernas finas. Usava aparelho e tinha um imenso nariz rosado.

Enzo, de cabelos com mechas roxas e volumosos acima das orelhas com alargadores e piercing, uniforme com alguns furos e tênis surrados, vomitou nas garotas durante a festa. A culpa foi delas mesmo, ele disse mil vezes. Elas deram tequila para ele tomar e depois sacudiram sua cabeça sem parar por dois minutos. Banhadas de vômito, elas tiveram que ir embora e perderam o espetáculo da noite. O que não fazia a menor diferença, é claro. Enzo contou para as colegas de turma como Theo entrou esperneando na viatura, babando feito cachorro louco. O irmão coberto de sangue gritando que fora ele o assassino, e que Theo só ajudara a jogar o corpo na piscina.

— Temos aqui o perfeito conceito de babaca — disse Katy, a vegana da turma. — Aposto que estava dopado com alguma merda e nem viu o que aconteceu.

— Então nos conte! — disseram em uníssono as garotas curiosas para saber todas as versões da história. Escolheriam a pior, sem sombra de dúvida, para espalhar.

— É, Katy. Conte como foi, se viu tudinho — Enzo sentou na mesa em frente as meninas e se virou para trás, onde a outra garota estava sentada com um livro sobre a mesa. O garoto cutucou distraidamente o piercing no nariz.

Katy engoliu em seco quando os três olharam para ela, esperando que contasse sua versão. Não gostava de ser o centro das atenções, por isso sempre usava uma calça preta muito gasta e um All Star do tempo da sua avó. Raramente usava maquiagem, esmalte eram as cores mais simples possível e se orgulhava das sardas sobre o nariz e um pouquinho no queixo. O grande toque de Katy eram as tranças kanekalon castanho escuro que iam até a bunda, com minúsculos prendedores metálicos enfeitando. Várias garotas da escola tentaram copiar o estilo, mas não aguentaram cuidar das madeixas. Os seios eram pequenos e a bunda, não gosto de falar disso, obrigada, parecia uma tábua. Sabia que não se encaixava no padrão de beleza que a escola estipulara, mas o mais importante era ser feliz todas as manhãs quando se arrumava em frente ao espelho.

Katy colocou as tranças sobre o ombro esquerdo e olhou para a janela. Theo se sentava na fileira da janela, no meio.

— Os paramédicos tiraram o corpo da água enquanto todo mundo estava em volta, foi uma confusão que ninguém viu nada direito. Mas o namorado da minha mãe dirige ambulância, sacam? Ele foi atender ao chamado naquela noite. Me contou que o Bruno se matou, os cortes a faca no braço eram de fora para dentro e essas coisas. Também tem as câmeras! Acham mesmo uma mansão não vai ter câmeras até no banheiro? Os tiras viram o Bruno se jogando na água. Quase ninguém viu quando dois policias trouxeram o Theo para fora, ele não disse nada, ou se debateu. — desviou os olhos do colega. — Parecia bem triste, como se nunca mais fosse sorrir de novo.

— Do jeito que o barco vai, parece que não vai sorrir mesmo — comentou Enzo olhando descaradamente para a janela.

— Você é tão insensível! — desprezou Valentina alisando a franja e fingindo que não estava observando o novo bichinho de estimação da escola.

SEGREDOS DA ILHA (ROMANCE GAY)Where stories live. Discover now