Capítulo 9

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De fato, Theo quase peidou de alívio, o psicólogo não os levou para a direção. Pararam um pouco antes, numa salinha que servia de almoxarifado para os professores de educação física. Os armários sujos estavam no mesmo local, mas sem as bolas, cordas, peças de xadrez e todo o resto do aparato. O doutor Freitas colocou a pasta de couro com o trabalho da turma no primeiro armário do lado da porta. Trancou o cadeado e pediu para que se sentassem em uma única cadeira diante de uma mesa antiga de professor. Como bons cavaleiros, deixaram que Theo se sentasse, guardado por Maurelle e Heitor.

— Muito bem, senhores. Como na aula, vou explicar o motivo de estarem aqui. Primeiro você, Theo — o doutor começou a mexer em uma pasta transparente que já estava sobre a mesa. — Você não fez nada durante toda a nossa interação, para sua sorte estou a par de tudo. Sei que Bruno era seu melhor amigo e isso justifica seu desinteresse pelas atividades corriqueiras da escola. Contudo, preciso ter certeza que volte ao, como posso dizer? Ao normal, na falta de expressão melhor. O mesmo não pode ser dito da senhorita, Maurelle. Não encontrei um álibi para seu desinteresse. Pode ser apenas falta de concentração ou não está em um dia bom, mas quero ter certeza que não há nada perturbando-a. Já estou aqui mesmo, tenho que fazer valer a pena o dinheiro dos seus pais. E você Heitor...

— Não comece, Higor! Se quiser conversar comigo pode muito bem fazer isso daqui há duas horas — brandou Heitor, colocando os braços sobre o peitoral, para se proteger.

Se não estivesse com o cu na mão, Theo teria copiado perfeitamente a expressão horrorizada de Christopher minutos antes. Maurelle sorriu discretamente diante do ímpeto do colega.

— Muito bem, então. Sua mãe acertou em pedir que eu o tratasse em particular, até mesmo na escola. Vejo que os problemas... — Heitor ameaçou gritar qualquer coisa. O doutor levantou a mão, silenciando os lábios. — Muito bem. Tenho aqui um documento pedindo a autorização dos pais de vocês para que possamos nos encontrar reservadamente ou trabalhar em separado na aula, ainda estou pensando sobre isso. Peça para que os pais de vocês leiam com atenção e depois assinem, por favor. Podem me entregar na segunda-feira ou na direção, assim já terei algo pronto para cada um de vocês.

O doutor Freitas tirou três folhas sulfite da pasta transparente e entregou para os garotos. Heitor puxou a sua com ferocidade, sabia que o doutor passaria em sua casa para entregar para sua "mãe" caso ele fizesse cu doce.

Theo sentiu o celular vibrar no bolso da calça enquanto recebia a autorização. Pegou o aparelho e clicou na notificação, desbloqueou a tela quando foi solicitado e, no mesmo instante, abriu um aplicativo com ícone de máscara amarela. A página aberta mostrava uma conversa que tivera recentemente. A notificação indicava que ele acabara de receber uma foto. Seu rosto ficou vermelho quando a foto carregou. Era um pau, simples, veiúdo e torto, irradiando luz pelo screen. Ele apertou com força o botão de desligar o aparelho, para não o jogar no chão, pisar em cima e depois bater no liquidificador.

Heitor, acima dele, estava ocupado demais em sua troca de olhares acusadores com o psicólogo. Mas Maurelle sorriu maliciosa quando viu a putaria no celular do colega hetero. Hetero igual meu pau. Seu sorriso foi roubado por uma lembrança, muito semelhante a foto que refletia por alguns segundos na sua mente. Eu conheço esse pau. Ela guardou a informação.

Christopher pegou o fone de ouvido dentro da mochila e se sentou no muro do pátio que dava no corredor das salas. No final do corredor, a esquerda, ficava a cantina e refeitório e na direita os laboratórios de ciência. O muro tinha meio metro de altura, ideal para esticar as pernas sem os pés batendo no chão.

Procurava um playlist animada para voltar pada casa, assim que Theo for liberado. Não sabia se poderia demorar e estava em dúvida se era melhor marcarem para outro dia, mas ele decidiu esperar. Afinal, o que vou fazer quando chegar em casa?

SEGREDOS DA ILHA (ROMANCE GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora